Fatinha

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Rwanda Hotel

In humor on 27/02/2009 at 9:35 AM

Querido Brógui

Ultimamente tem ocorrido comigo uma coisa enervante: se vejo um filme antes de dormir, sonho com ele a noite toda.

Quando é um filme tranquilo, daqueles bem amarradinhos, água com açúcar, ainda vai. Triste é quando eu cismo de ver um daqueles sinistros, como o de ontem, o tal do “Rwanda Hotel”. Putz! É um filmaço, mas muito pesado. Quando ele acabou, fiquei tão triste, tão triste! Passei a noite entre facões, corpos espalhados pelo chão e crianças chorando.

Apesar de o filme ter um final que ressalta a luta e a solidariedade que salva milhares de pessoas do genocídio, essa não é a imagem que fica na minha mente. O que fica mesmo é a triste certeza de que a nossa espécie é a única capaz de cometer assassinatos. E isso me faz sofrer. Como diz o Dalai Lama, é impossível não sofrer sabendo que há um semelhante vivendo em sofrimento.

Acabou o que era doce.

In humor on 26/02/2009 at 10:19 AM

         Querido Brógui

 

         É… A Vila não foi campeã, não obstante minha fervorosa torcida (ou terá sido por causa dela? Sei lá, essa coisa de pé frio…). Pôxa! Fiz até promessa de comparecer à quadra, fiquei acompanhando a apuração até o final, torcendo contra o Salgueiro e a Beija Flor (coisa feia!…), xinguei os jurados que deram nota baixa no samba e na bateria. Mas…

         De todo modo, não foi pra isso que vim aqui falar com você. Vim contar um fato curioso: logo eu, a não-foliã assumida, tenho como minha mais remota lembrança exatamente um carnaval, nos idos do século passado, quando tinha apenas dois anos de idade. Impressionante, não? Dizem que a primeira infância não fica gravada na nossa memória, mas eu sou a prova viva de que isso não é verdade.

         Pois é. Não foi por falta de incentivo que não me tornei uma foliã de carteirinha. Mamãe e Papai sempre nos levavam à Avenida Rio Branco pra ver o Bafo da Onça (ainda existe esse bloco?), o Cacique de Ramos e o Cordão da Bola Preta.

Lembro direitinho de ficar tentando jogar a serpentina bem longe, que nem minha mãe fazia e nunca conseguir. Também lembro que sempre vinha uma outra criança correndo e tomava a serpentina da minha mão (sempre fui bobalhona). Um dia, parei de tentar jogar, aprendi a me divertir enrolando e desenrolando aquela tirinha. Com os confetes era mais fácil: eu jogava pra cima e depois catava do chão pra jogar de novo.

Então tá. Já confessei que um dia fui da gandaia, mas o carnaval acabou, Carlinhos Brown fez seu arrastão com a onipresente Ivete, o Bacalhau do Batata saiu de manhã lá na terrinha e acho que aqui no Rio o único bloco que saiu foi o da Comlurb.

Tá triste porque a moleza acabou? Relaxe. Faltam apenas 347 dias para o próximo carnaval e esse ano tem um monte de feriados que a gente vai poder emendar.

Mordendo a língua mais uma vez.

In humor on 25/02/2009 at 9:56 AM

Querido Brógui,

Preciso ser absolutamente honesta com você, afinal, nosso relacionamento é pautado nisso. Eu confesso: ESTOU TORCENDO PARA QUE A VILA SEJA CAMPEÃ.

Não, eu não vi o desfile, estava nos braços de Morfeu, mas soube que a Escola fez bonito na avenida e isso mexeu com meu coraçãozinho de moradora do bairro de Noel.

Tomara que a Vila Isabel consiga vencer a parcialidade dos jurados, que sempre puxam a brasa para a sardinha daquela lá de Nilópolis e isso sem contar com o apelo sentimental que é a questão da saúde do Neguinho.  Mas, quem sabe? Prometo a você, que se a Vila for campeã eu vou lá na quadra confraternizar com a ‘comunidade” dos Macacos.

PS: você teve o (des)prazer de ver a “santíssima trindade” no camarote oficial? Só faltou rolar beijo na boca, tamanho o chamego deles! Chega dava nervoso!

Era de Aquário

In humor on 20/02/2009 at 11:56 AM

Querido Brógui

Como sabe, eu não ligo muito para essas coisas de astrologia, aliás, sendo bem honesta, não entendo nada disso. Entretanto, conforme fartamente alardeado pela mídia, sábado passado iniciou-se a tão esperada Era de Aquário, na qual são depositadas grandes esperanças.

Em uma época tão complicada em que nós vivemos, com o nosso espírito coletivo combalido, em meio a tanta desgraceira, guerras mil, crise econômica mundial (ou marola brasileira), nada como ter fé no advento de uma era em que reinarão a solidariedade, a fraternidade, a compreensão, a harmonia, a paz. Que mal haverá em buscar nos astros a força necessária para modificar o mundo?

Ah,tá! Você não vai mudar o mundo… Então, comece por você. Reavalie suas prioridades, seus valores, o que você anda fazendo pelo seu microcosmos (pelo seu mundinho particular, digamos assim). Qual é o rastro que você vai deixar no Planeta? Não fique aí esperando a Lua, Júpiter e Marte fazerem tudo sozinhos. Eles já executaram a parte mais difícil da missão (ou tá pensando que fazer alinhamento de astros é mole?)

Para encerrar a edição-cabeça de hoje, brindo você com um pedacinho do musical Hair, de Milos Forman, lançado em 1979. Esse filme foi baseado no famoso musical da Broadway, que entrou em cartaz na década anterior. A música é “Aquarius”, com coereografia da Twyla Tharp. Só não consegui descobrir o nome da cantora (nem no CD  tem. se souber, diga-me.)

É, Querido Brógui, estou começando a me sentir como uma criatura do terceiro milênio… Descobri o Youtube e ainda aprendi a sapecar o tal do vídeo aqui. Tá orgulhoso de mim? 

Cheguei aos 100!!!

In humor on 20/02/2009 at 10:15 AM

Querido Brógui

Cheguei aos 10o posts!!! É uma vitória pessoal que tenho o prazer em dividir com você, que me dá alguns minutos de atenção vez por outra.

100 bjs procê.

Que que cê vai fazer no carnaval?

In humor on 18/02/2009 at 5:20 AM

         Querido Brógui

 

         Cá estou eu, de joelhos a suplicar que o mundo pare de perguntar o que vou fazer no carnaval.

         Nada. Nadinha mesmo. Neco.

         Não vou viajar para a Região dos Lagos pra ter que acordar às cinco horas da manhã se quiser comprar um pão francês pro café, encarar engarrafamento para ir a uma praia mais legalzinha e quando chegar lá ter o desprazer de verificar que todo mundo teve a mesma idéia e ainda ser obrigada a cair na porrada pra conseguir estender metade da canga na areia ao lado de uma família com cinco crianças mal educadas cujo único objetivo na vida e aporrinhar o juízo de quem optou por não ter filhos.

         Não vou seguir o roteiro dos blocos da Zona Sul, disputando cada centímetro do asfalto com bêbados inconvenientes, mulheres desinibidas, pisando na urina alheia, tomando latada na cabeça, trocando fluídos corporais com que não conheço e depois voltar pra casa com a sensação de que um trator passou por cima de mim. Isso sem falar no tal do spray de espuma, que foi proibido por ser tóxico, mas que soube eu que continua a ser vendido por força de uma liminar ganha pelos fabricantes do dito cujo. (Quando forem julgar o mérito da ação, acabou o carnaval e tá tudo certo.)

         Não vou ver o desfile das escolas de samba pela televisão, porque não estou interessada em conhecer os recônditos mais profundos da anatomia das rainhas de bateria. Se ao menos pudesse visualizar o desfile, as fantasias, ainda que achando tudo isso de uma cafonice impar, eu faria o sacrifício, mas ser obrigada a ver o que uma mulher é capaz de fazer com seu próprio corpo apenas pelos tais quinze minutos de fama, é demais pra mim.

         Não vou ver a cobertura dos bailes de carnaval, nem do povo se atracando nos blocos de Salvador, nem pulando nas ladeiras de Olinda. Fico agoniada só em me imaginar ali.

         Você gosta de carnaval? Bom pra você. Cai dentro, se acabe, perca as unhas do dedão do pé como minha prima perde todos os anos, feliz da vida. Mas, pelamordedeus, não me chame.

Agora, se você for uma avis rara como eu e decidir aproveitar a semana momesca pegando um cineminha, uma praia cedinho naquele horário em que os bebuns estão curtindo a ressaca, almoçar tranqüilamente um japa e virar fumaça ao primeiro toque do tamborim, é só me ligar. Tô dentro.

Hein?

In humor on 10/02/2009 at 7:56 AM

         Querido Brógui

 

         A língua portuguesa é linda, com reforma, sem reforma, mas deve ser a que contém o maior número de ciladas entre todas as existentes.

Essa semana saiu na Veja uma matéria sobre a ressurreição de Mickey Rourke e lá no meio dela veio a seguinte frase: “(…) lá pelo fim dos anos 90, chegou a depender da mesada de um dos dois amigos que lhe restavam para comer.”

Ops! Fiquei na dúvida se ficava com pena dele porque nessa época ele só comia dois amigos (canibalismo? homossexualismo?)ou porque nessa época ele dependia de mesada.

 

PS: ontem eu perguntei se “ante-sala” era com hífen ou sem e você não respondeu. Tudo bem, eu pesquisei e não vou lhe deixar no vácuo. Pela nova regra, é ANTESSALA. TUDO JUNTO. Muito esquisito, não? Mais um serviço de utilidade pública de Fatinha Também é Cultura Ltda. Bj. Paz.

 

Estou destruída, mas feliz

In humor on 09/02/2009 at 5:33 AM

         Querido Brógui,

 

         Contrariando todas as estatísticas, nunca havia eu ido a uma quadra de escola de samba. Nem a da Vila Isabel, que fica pertinho de casa. Você sabe que não gosto de carnaval e a idéia de ir a um ensaio de escola de samba pra ficar ouvindo aquela repetição infindável de uma mesma música, associada a uma bateria em ritmo acelerado e um calor humano insuportável sempre me pareceu uma opção pelo sofrimento desnecessária.

         Entretanto, mais uma vez contrariando, mas agora a todas as expectativas que você pudesse tecer sobre minha pessoa, fui parar na quadra da Vila ontem. Aconteceu o show da Mart’nália que eu estava querendo assistir há muito tempo. Quando passei na porta da quadra, a caminho da academia, e vi o cartaz anunciando o show, disse para mim mesma que essa era a hora de finalmente colocar meus pezinhos no templo sagrado do samba. O show que eu estava secando, pertinho de casa, com um precinho camarada? Tô dentro.

         Comprei o convite, liguei pra um velho amigo da família que é do “meio” pra obter informações quanto à periculosidade e salubridade do ambiente e lá fui eu.

Ok, você venceu. Foi muito bom. Maravilhoso. Sensacional. O show, quero dizer. O “esquenta” com a bateria da Vila e os “intérpretes” se esgoelando ao microfone eu dispensaria rindo. Me acabei de sambar, duas horas depois minhas pernas não mais me obedeciam e eu considerei a hipótese delas estarem gangrenando. O lugar parece a ante-sala (com hífen, sem hífen?) do inferno, mas de vez em quando soprava uma brisa que vinha do ventilador embaixo do qual me instalei estrategicamente. A escova do cabelo foi pras picas, a maquiagem idem, o vestidinho ficou ensopado, tive que tomar uma Pepsi horrorosa que custou o meu peso em ouro só pra não cair dura com hipoglicemia e a sola dos pés ficaram esfoladas.

Acordei hoje destruída. Pra levantar da cama tive que pedir socorro à Defesa Civil, mas tudo bem. Tudo por uma boa causa.

 

 

A volta da Menina-Octopus

In humor on 01/02/2009 at 8:24 AM

         Querido Brógui

 

         Acabo de voltar da praia. Fui pegar um fim de sol, esquecer que passei a manhã de sábado fazendo todo o tipo de serviço de corno que uma dona de casa faz.

         Cheguei à areia, armei meu acampamento, abstraí que só tinha conseguido estacionar o carro no Leblon e que ontem na televisão foi noticiado que tinha ocorrido um vazamento de esgoto naquela praia. Tudo bem, não vou entrar na água mesmo. Tirei da bolsa meu mp3, meu livro, enfiei o boné, passei filtro solar e me preparei para um agradável fim de tarde, ao som do mar de bosta batendo na areia. Comprei uma Coca Light. Esse foi meu primeiro erro. Minutos depois, veio o chamado da natureza.

         Olhei para o mar, pensei que, afinal de contas, diante de toneladas de merda, um xixizinho a mais ou a menos não ia fazer muita diferença. Levantei e fui desfilando todo o charme e o veneno da mulher carioca rumo ao banheiro. Naquele momento, passava pela orla um comboio de cinco navios da Marinha do Brasil (existe isso? comboio de navios?). Tão bonitinho, todos enfileiradinhos. Fiquei prestando atenção. Esse foi o segundo erro. Minutos depois, veio uma onda. Onda não. Uma marolinha sem-vergonha.

         Olhando para ela, pensei: shit! Dei um passinho pra trás. Esse foi meu terceiro erro. Erro fatal. Nunca dê um passinho pra trás, sempre corra na direção da onda pra evitar maiores danos. Enfrente o mar, senão  ele acaba com a sua raça! Segundos depois fui atacada pela marola.

         A Menina-Octopus, sua velha conhecida (não lembra? dá uma olhada no arquivo de 25 de outubro do ano passado), entrou em ação novamente. Com uma das mãos segurei o boné (é, eu não tirei o boné porque não tinha a menor intenção de mergulhar), com a outra, os óculos escuros (é, eu também não tirei os óculos), com a outra, segurei a parte de cima do biquíni, com a quarta, a parte de baixo. Precisava proteger minhas lentes de contato, usei a quinta. Com a sexta mão, tentei evitar que meu cabelo limpinho, escovadinho, chapadinho se molhasse, com a sétima tentei em vão resguardar o pouco de dignidade que ainda me restava, aparando a queda. E, finalmente, a oitava mão foi usada para impulsionar meu corpinho para a posição vertical.

         É, Querido Brógui. O mar de cocô levou-me a nocaute (talvez por vingança, talvez por despeito). Levantei com a velocidade de um raio, naquele estado lamentável que ficam todos os destarimbados que ousam enfrentar Poseidon. Areia no cabelo, biquíni todo torto, um olhar desconfiado de macaco que meteu a mão no pote.

         Retornei à minha cadeirinha. Humilhada, de cabeça baixa, certa de que a praia inteira viu o caldo que levei. Sentei, coloquei o boné, os óculos escuros, enfiei a cara no livro de onde ela só saiu na hora de ir embora.