Querido Brógui,
Contrariando todas as estatísticas, nunca havia eu ido a uma quadra de escola de samba. Nem a da Vila Isabel, que fica pertinho de casa. Você sabe que não gosto de carnaval e a idéia de ir a um ensaio de escola de samba pra ficar ouvindo aquela repetição infindável de uma mesma música, associada a uma bateria em ritmo acelerado e um calor humano insuportável sempre me pareceu uma opção pelo sofrimento desnecessária.
Entretanto, mais uma vez contrariando, mas agora a todas as expectativas que você pudesse tecer sobre minha pessoa, fui parar na quadra da Vila ontem. Aconteceu o show da Mart’nália que eu estava querendo assistir há muito tempo. Quando passei na porta da quadra, a caminho da academia, e vi o cartaz anunciando o show, disse para mim mesma que essa era a hora de finalmente colocar meus pezinhos no templo sagrado do samba. O show que eu estava secando, pertinho de casa, com um precinho camarada? Tô dentro.
Comprei o convite, liguei pra um velho amigo da família que é do “meio” pra obter informações quanto à periculosidade e salubridade do ambiente e lá fui eu.
Ok, você venceu. Foi muito bom. Maravilhoso. Sensacional. O show, quero dizer. O “esquenta” com a bateria da Vila e os “intérpretes” se esgoelando ao microfone eu dispensaria rindo. Me acabei de sambar, duas horas depois minhas pernas não mais me obedeciam e eu considerei a hipótese delas estarem gangrenando. O lugar parece a ante-sala (com hífen, sem hífen?) do inferno, mas de vez em quando soprava uma brisa que vinha do ventilador embaixo do qual me instalei estrategicamente. A escova do cabelo foi pras picas, a maquiagem idem, o vestidinho ficou ensopado, tive que tomar uma Pepsi horrorosa que custou o meu peso em ouro só pra não cair dura com hipoglicemia e a sola dos pés ficaram esfoladas.
Acordei hoje destruída. Pra levantar da cama tive que pedir socorro à Defesa Civil, mas tudo bem. Tudo por uma boa causa.