Fatinha

Relendo-me, reescrevendo-me, redivertindo-me

In humor on 10/04/2024 at 10:22 PM

Querido Brógui

Não falta inspiração, nem disposição. Apenas resolvi ler o conteúdo do Querido Brógui, só pra conferir se eu era tão engraçadinha como sou agora. Sou. Dei uma burilada no vocabulário, liberei os palavrões e não cito mais os nomes nos textos.

Decidi que seria bacana republicar, devidamente editados e melhorados, posts antigos. Aliás, foi phodda me auto editar a mim mesma. Acho que além de me reler, eu me reescrevi.

Acho que os Bróguis que me acompanhar desde sempre vão se redivertir – adoro criar neologismos – e os recém convertidos vão saber que essa nobre pessoa que aqui escreve sempre foi meio mais ou menos capaz de rir até de fratura exposta.

Então, segue aí uma pérola, escrita depois de um almoço com uma amiga – que é minha irmã até hoje. Há quem se orgulhe de acumular dinheiro. Eu me orgulho de acumular amigos, que continuam a ser meus amigos, apesar de me conhecerem muito bem.

Há muito tempo que não dou tantas gargalhadas como ontem, na hora do almoço. Sabe aquelas minhas gargalhadas altas, padrão “comunidade”?

Fui comer sushi em um restaurante era rodízio. Na boa? Rodízio é para os fortes e que tem estômago dilatado. Sou fraca e como muito pouco. Então, como aprendi, rodízio não dá pra mim.

No breve lapso de tempo em que fui ao banheiro, Bobinha começou a fazer o pedido. Acho que estava com muito apetite – maneira gentil de dizer que devia estar roxa de fome – pois mandou ver. Beleza.

Quando começou a chegar a comida, vi que era o suficiente para alimentar uma dúzia de estivadores (se é que um estivador comeria peixe cru). Arregalei os olhos e disse que a gente não ia conseguir dar conta daquilo tudo. Perguntei se tinha alguma multa, algum castigo físico se a gente deixasse comida no prato. Bobinha garantiu que não. E eu acreditei.

Iniciamos os trabalhos. Comemos, comemos, comemos… A quantidade de comida era infinita. Lá pelas tantas, começou a sair sashimi pelas nossas orelhas. Ainda restavam mais de trinta peças para serem comidas, fora os espetinhos, o nirá, o rolinho-primavera e outros acepipes.

Minha Brógui olho-grande-maior-que-a-barriga então, muito sem-graça, me comunicou que teríamos que pagar pelas sobras. Comecei a rir. Desespero? Não. É muito engraçado mesmo a gente ser obrigada a comer – principalmente depois que ultrapassamos a infância. Mais engraçado ainda é ir a um restaurante e pagar pelo que comeu e pelo que não comeu. ok. É pra evitar o desperdício e coisa e tal, mas não deixa de ser bizarro.

O efeito desse comunicado foi desastroso. Além de eu começar a rir compulsivamente, o que dificulta um pouco a ingestão de qualquer alimento, meu estômago já lotado até a boca ficou com câimbras. Somado a isto, a impressão que tive foi que a comida crescia na boca e se multiplicava no prato.

Fui até a área externa dar uma caminhada pra ver se a comida se acomodava pra caber mais. Tipo motorista de ônibus que dá aquela freada pra entrar mais gente.

Quando voltei, ainda com a última peça de sushi entalada no esôfago, sugeri que começássemos naquele instante a praticar a bulimia. Sabe? Abrir espaço para comer mais. Minha sugestão não foi acolhida. Respirei fundo, comi mais uma ou duas peças e comecei a rir de novo. Dessa vez foi de nervoso mesmo.

Então, reparei que um milagre estava acontecendo diante dos meus olhos. Nenhuma de nós comia, mas as travessas estavam ficando mais vazias. Olhei para Bobinha e ela, vermelha, desviou o olhar. Bróguis! Ela tava tacando a comida dentro da bolsa! Numa versão tupiniquim dos maiores ilusionistas de las Vegas. A comida ia desaparecendo numa velocidade inacreditável. Num piscar de olhos a abdução acontecia. No maior espírito colaborativo, entrei no esquema e ia sutilmente posicionando os pratos cheios perto dela, para facilitar as manobras. Peguei mais guardanapos na mesa vizinha para ela embrulhar a comida.

Nesse ponto, ela foi contagiada pela minha crise histérica de riso. A gente dava gargalhadas enquanto a comida era sugada pela bolsa dela. Comecei a ter ideias diabólicas como fazer paredinha pro garçom não ver ou roubar logo os pratos pra acabar com o nosso sofrimento. Também lembrei que ela ia ter que pegar a carteira dentro da bolsa e os sashimis iam pular lá de dentro e nos denunciar.

Lá pelas tantas, o gerente se aproximou e disse que não precisaríamos pagar pelas sobras. Sei lá por que. Talvez nosso comportamento estranho tenha chamado sua atenção, ou ele queria que desocupássemos a mesa, ou ficou com vergonha por causa dos outros clientes. Não importa. Nos safamos dessa com a dignidade mais ou menos intacta.

Saldo do almoço: a bolsa da Roberta fedia a peixe, meu carro ficou fedendo também e estávamos felizes.


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