Fatinha

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Um dia de fúria.

In Sem categoria on 25/02/2008 at 11:10 PM

Querido Brógui,

Convenhamos que pra quem gosta de futebol, encarar Maracanã em dia de decisão é um prato cheio. Eu sei que o futebol é paixão nacional, mas não tô nem aí pra isso. Quanto mais longe eu estiver, melhor. Então, convenhamos mais uma vez que o último lugar do mundo onde eu poderia estar no domingo era nas imediações do estádio. E onde eu estava? Passando na porta. Tendo acabado de ser atropelada por uma prova. Com fome. Todo castigo pra corno é pouco.

Quando percebi o que estava acontecendo, já havia sido sugada para o olho do furacão. Lembrei de meu nobre propósito de não envelhecer à toa e procurei manter a fleuma. Lacrei os vidros do Tigrão, escondi a bolsa embaixo do banco, liguei o ar condicionado no máximo, coloquei Fernanda Abreu berrando no meu ouvido e tentei transportar a minha alma para outro lugar qualquer. Qualquer lugar, menos alí, onde eu estava. Tentei visualizar o Afeganistão, Uganda, o Complexo do Alemão. Não consegui. Minha alma estava presa ao meu corpo e meu corpo preso no engarrafamento.

Pensei que o melhor a fazer era tentar me distrair observando o que se passava. Péssima idéia.

Primeira observação foi a quantidade de homens barrigudos que existem nesse Rio de Janeiro. Saca aquela barriga pendurada por cima da bermuda? Saca aquela bermuda que não tem o poder de esconder o cofrinho? Saca aquela bunda murcha? Parecia que tinham aberto as porteiras do inferno. E lógico que todos estavam sem camisa, para exibir aquele corpinho esculpido a ferro e fogo pelo capeta.

Também constatei que o esfíncter masculino é bem menos treinado que o feminino. Neguinho faz xixi pelos muros, nos canteiros, na roda do próprio carro, dentro de latinha de cerveja. A falta de pudor – e de higiene – é impressionante.

Mas até aí, tudo bem. O que me causou uma indignação ímpar foi ver os motoristas bebendo e dirigindo. Dirigindo e bebendo. É muita burrice mesmo ou eu é que estou ficando mais chata do que o normal? Vai ver que como dizem que não se deve dirigir depois de beber eles entendem que podem dirigir e beber simultaneamente. Não tinha um policial pra dar uma dura nos caras. Tinha apenas um pobre de um guarda municipal tentando fazer com que os motoristas parassem no sinal vermelho. Sem sucesso, óbvio.

Lá pelas tantas, olho para o lado e vejo um selvagem, portando uma latinha de cerveja e um carro velho todo porrado – duas armas, portanto – dando um tapão no meu retrovisor. Bater no Tigrão? Covardia! Sabe aquela cena de desenho animado quando o personagem fica todo vermelho saindo fumacinha pelas orelhas? Pois foi assim que fiquei. Minha vontade foi de sair do carro e ir lá tomar satisfações, mas em uma fração de segundos eu percebi que não tinha a menor chance de sair viva de uma situação daquelas. Fiz as contas e vi que era uma mulher sóbria desarmada contra cinco bêbados portando cada qual uma camisa do “Framengo”. Morte na certa. Morte dolorosa e humilhante. Controlei meu impulso suicida, meti a mão na buzina e fiz da voz do Tigrão a minha própria voz. Descarreguei naquela buzinada toda a minha fúria e só parei porque – eu nem sabia que isso acontecia – a buzina falhou, ficou rouca.

Moral da história? Eu odeio futebol, odeio os torcedores, odeio a taça Guanabara, odeio o Maracanã, odeio os bêbados, odeio os carros velhos, odeio o guarda municipal, odeio os barrigudos, odeio os mijões, odeio muito tudo isso.
Envelheci.

Minha demência não vem ao caso

In Sem categoria on 18/02/2008 at 6:32 PM

Querido Brógui

Domingão, levanto-me uma hora antes do necessário para ir fazer mais uma prova. É. Uma das máximas da minha vida é “todo castigo pra corno é pouco”. O que me deixa mais aliviada quanto à minha condição cornídea, é que se tem uma coisa que não falta nesse mundo, é corno. Tinha pelo menos uns cinco mil no mesmo lugar, na mesma hora! Chego lá no local determinado, na hora marcada, depois de minha amiga ter me explicado com gráficos e diagramas que quando o horário de verão acaba a gente adianta o relógio. (ou atrasa? Esqueci de novo como é o negócio, mas minha demência não vem ao caso).

Toda malandrinha, dentre os meus petrechos para dia de prova, incluí um casaquinho de jeans, contando que poderia sentir frio por causa do ar condicionado dentro da sala. Ar condicionado? Ventilador de teto e olhe lá! Paguei duzentos reais na inscrição da porra do concurso para ficar enclausurada na ante-sala do inferno! Lá pelas tantas eu dei uma de motorista de ônibus e arregacei a perna de meu chiquíssimo macacão vermelho até o joelho. Só não perdi de todo meu sexy appeal (é assim que se escreve?) porque estava com minha linda sandália prateada e foi uma ótima oportunidade de exibi-la (se é que alguém ali estava minimamente interessado em olhar para meus pés).

Malandramente também não havia levado nem uma garrafinha de água, seguindo minha irretocável lógica lusitana (desculpe aí, Lelê) de acordo com a qual, se eu bebesse água, teria vontade de fazer xixi e para fazer xixi eu teria que tirar o meu chiquíssimo macacãozinho vermelho e isso seria muito trabalhoso (por que eu vesti o raio do macacão vermelho? Já disse que minha demência não vem ao caso).

Mais uma vez comprovando empíricamente a minha tese de que todo castigo pra corno é pouco, deu vontade de ir ao banheiro (sim, deu vontade de fazer xixi mesmo sem ter bebido uma gota de água desde que amanheceu, mas como exaustivamente dito, minha demência não vem ao caso). Nem preciso dizer que a fila já estava grande. Esse povo não tem banheiro em casa, não? Avaliei a situação e resolvi deixar a fila diminuir (só eu mesmo pra pensar que a fila do banheiro feminino iria diminuir, mas minha demência não vem ao caso).

Bem, quatro horas de espera até a prova começar, mais cinco horas fazendo a prova, desidratada, suada, melada, descerebrada, descabelada, com fome, ainda fico esperando minha amiga no lugar errado (a essa altura do campeonato, minha demência não vem ao caso MESMO!).

Mas, tudo bem. Consegui achar o caminho de casa e agora, escrevendo, concluo que está na hora de eu passar num concurso. Minha demência está extrapolando todos os limites. Mas isso não vem ao caso.

Esse ano não vai ser igual àquele que passou.

In Sem categoria on 13/02/2008 at 5:50 PM

Querido Brógui

Esse ano não vai ser igual àquele que passou. Eu vou mudar. Vou experimentar ser mais normal um pouquinho e parar com essa palhaçada de andar na contramão. Meu objetivo esse ano é me misturar, me mimetizar, me transformar num camaleão.

Para alcançar esse meu objetivo, tracei algumas estratégias.

Primeira medida: imbecilização total. Nada a ver esse negócio de ser culta, intelectual, bem informada. Dá muito trabalho e é muito estressante. Farei uma assinatura da revista Caras. Meu maior interesse agora será saber quem está dando pra quem essa semana, quem fez a última viagem para Punta, quem fez um jantarzinho íntimo para quatrocentas pessoas em Angra. Também vou assinar a revista Boa Forma, pra me inteirar das últimas novidades em matéria de dieta, cirurgias plásticas, ginástica, maquiagem e coisas do gênero. Para completar, revistas em quadrinhos. Pronto. Meu cérebro estará protegido contra a deprê que é saber qual é o mais recente escândalo do governo, quem é o mais recente ladrão dos cofres públicos. Quero ignorar solenemente o domínio dos traficantes sobre o Rio de Janeiro e esquecer que o César Maia gastou quase quinhentos milhões para construir a tal da Cidade da Música (que não está pronta ainda apesar do estouro do orçamento) enquanto minha cidade maravilhosa está arruinada.

Segunda medida drástica: vou mandar ver nos meus gastos pessoais e tirar dos meus ombros o peso de ser a única pessoa que conheço que não tem dívidas. Isso me faz sentir um alienígena, uma marginal, uma deslocada no grupo social. Tá todo mundo devendo as calças, menos eu. Vou começar a gastar o triplo do que ganho. Vou arrebentar o cheque especial, vou ativar outro cartão de crédito, vou fazer empréstimo consignado, tudo que eu tenho direito e o que eu não tenho também. Ano de 2009 quero entrar com o nome sujo no Serasa, no SPC, conta corrente cassada, cartão cancelado, oficial de justiça batendo na minha porta.

Terceira e última medida drástica: vou arrumar um namorado daqueles bem problemáticos. Sabe aquele que toda mulher fala mal, mas não larga? É. Outro fator de inteiração social, além da ignorância e da inadimplência, é estar mal acompanhada, mas jamais só. Essa tarefa também não vai ser difícil de cumprir, porque o que não falta nesse mundo é homem-encosto. Então, ao invés de só ouvir as mulheres reclamarem de seus machos, eu serei a protagonista da crônica Rodrigueana.

Que venha essa nova mulher de dentro de mim.

FIM

In Sem categoria on 09/02/2008 at 8:05 PM

E acabaram as férias.

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