Fatinha

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Capacitação 3, a missão

In humor on 24/10/2010 at 6:52 AM

Querido Brógui,

Estou envolvida no tal do projeto de aceleração de estudos que já falei por alto com você. A receita é essa:

Pegue um adolescente do ensino fundamental com todos os hormônios em ebulição, defasagem de idade, problemas emocionais, psicológicos e parapsicológicos, excluídos pelo sistema, portadores de deficit de aprendizagem, dislalia, disgrafia, disfonia, dislexia, desmotivados, revoltados, irados, pertencentes a famílias desestruturadas e meta numa sala de aula.

Pegue professores cascudos, indignados, enlouquecidos, com vários parafusos a mais na cabeça, que acreditam no poder transformador da educação, com coragem pra mamar em onça, dispostos a passar seus dias e suas noites pensando no que fazer pra dar conta de tanto problema junto e jogue-o naquela mesma sala de aula.

Adicione uma metodologia boa, mas que peca por ser um tantinho inadequada à nossa realidade, conteúdos de quatro anos de escolaridade, teleaulas, livros, cartazes, material concreto, memoriais, percursos livres, recuperação paralela, um cronograma esquizofrênico impossível de ser seguido, tesoura, cola, lápis de cor e muita paciência.

Feito isso, tranque a sala de aula, jogue a chave fora e deixe esses ingredientes atingirem o ponto de (con)fusão.

Para finalizar a receita, leve os professores à capacitação para o próximo “nódulo”. É a cerejinha. Jogue o mediador da capacitação, sem colete à prova de balas, no meio de um monte de professores agitados, ansiosos, cansados, querendo mais soluções rápidas e eficazes e menos dinâmicas de grupo e espere ferver.

Pronto. Agora é só esperar o fim do ano letivo e ver que bicho que deu.

Meia entrada no Theatro Municipal

In humor on 15/10/2010 at 9:24 AM

Querido Brógui,

Ontem fui comprar ingressos para o balé no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Não consegui fazer valer o meu direito ao desconto,  o funcionário me disse que havia uma norma no Municipal que só dava 10% de desconto aos professores estaduais e nada para os municipais. Ok, volto amanhã.

Voltei hoje armada. Com a lei em punho. Alô, professorada do município do Rio de Janeiro!!! Lei 3424/2002!!!

Entrei na fila, encostei meu umbigo no balcão e, no que o funcionário disse que eu não tinha direito à meia entrada, saquei minha arma e pacientemente expliquei a ele que a lei vale em todo o município do Rio, incluindo as dependências daquele teatro. Ele retrucou que trabalhava lá há cinco anos e que nunca tinha dado esse desconto para professores (!!!!!!!). Pacientemente, em tréplica, lhe disse que o fato de ele nunca ter vendido meia entrada para professores, significava apenas que nenhum professor havia questionado a norma do teatro, que, por sinal, é ilegal. Ele pediu licença para chamar a sua supervisora. Tudo bem, eu espero.

Veio a supervisora, usei toda a minha argumentação com ela, que disse que não poderia resolver e iria chamar o administrador do teatro. Tudo bem, eu espero.

Veio o administrador do teatro, repeti toda a ladainha, ele pediu pra ver a lei, a leu, pediu licença para consultar o departamento jurídico. Tudo bem, eu espero.

Um curioso que estava na fila e acompanhava de longe a negociação, perguntou do que se tratava e eu disse que estava esperando que alguém ali me convencesse de que uma norma interna de uma Fundação era hierarquicamente superior a uma lei promulgada pela Câmara de Vereadores. Ele me desejou boa sorte. Não preciso de sorte, eu tenho a lei que me ampara, mas obrigada assim mesmo.

Muuuitos minutos depois, o administrador retornou e disse que eu poderia comprar meu ingresso pagando meia, que iria marcar uma reunião com a direção do teatro para resolver esse problema e reconheceu que, de fato, a lei é clara: os professores da rede municipal de educação têm direito à meia entrada para assistir a qualquer espetáculo de lazer, entretenimento e difusão cultural. Ok, muito obrigada por respeitar a lei. Como o sistema de emissão dos ingressos não contempla essa hipótese, saí da bilheteria com um ingresso de idoso e fui alertada para que levasse toda a documentação no dia do espetáculo para evitar transtornos. Sei não, estou tendo um mau pressentimento. Enfim… depois eu conto.

Então, professorada, vamos comparecer ao Theatro Municipal. Levem a carteirinha, a identidade, o contracheque e uma cópia da lei. Não esqueçam da paciência, da argumentação firme e do cartão de crédito.

PS: já ia esquecendo: amanhã é nosso diaaaaaa!!!!

Brinquedinho novo

In humor on 13/10/2010 at 12:02 AM

Querido Brógui,

As crianças têm razão: nada melhor que um brinquedo novo. Troquei meu celular por um daqueles modernosos, sem teclas, que canta, dança, sapateia, acessa internet, faz shiatsu e ainda posso usá-lo para telefonar! Muito legal, ainda se considerar que custou menos que uma saída cinema-pipoca-refrigerante.

Tudo bem que ontem passei o dia inteiro tentando entender como funcionava o treco, mas já aprendi a ligar e a desligar. Não consegui atender uma chamada, mas isso é o de menos, consegui retornar depois.

Lidar com o tal do touch screen – sabe a telinha que você mete o dedão pra usar? – demanda um certo treino, além de dedos menores e unhas maiores, principalmente para mandar mensagens de texto. Também para usar aquela parada de rolar a tela – bacana pra cacete – vou precisar fazer um cursinho intensivo na NASA, mas é divertido procurar o telefone de alguém e não conseguir parar em cima do nome da criatura, parece coisa de loteria federal.

Consegui acessar a internet, mas não enxergo as letrinhas. Sem problema: vou comprar uma lupa para usar como acessório, além de uma flanelinha pra limpar a tela que fica cheia de impressões digitais engorduradas.

Bem, estou mais adiantada do que minha santa mãezinha, que herdou o celular antigo. Ela ainda não aprendeu a ligar e desligar o aparelho.  Vou ensinar de novo hoje.

A síntese de um dia perfeito

In humor on 10/10/2010 at 10:15 PM

Querido Brógui,

Ontem foi um dia perfeito, daqueles que merecem uma edição broga. Não apenas pelas coisas que fiz, mas pelas pessoas que encontrei. Lembra daquela ideia de que o melhor do caminho são os companheiros de jornada? Só fiquei chateada porque vi um amigo desencontrado e não consegui com ele falar. Estava de carro, não deu pra parar. Dei uma buzinadinha, mas ele não me deu confiança. (Tito, foi você, viu?)

Comecei o dia cedo, na academia. Lá, na saída, vi uma amiga se acabando na bicicleta – ela é atleta. Não a via há séculos e o mais engraçado é que havia sonhado com ela. Assuntos colocados em dia em breves minutos e a promessa de sempre: tentarmos nos encontrar para conversar com mais calma, no intervalo entre trabalho, família, administração do lar, treinos e toda a gama de compromissos que uma mulher moderna assume. Deixei-a bufando na bicicleta depois de levar uma olhada daquelas da professora que tentava dar a aula de spinning.

Na volta, dei de cara com outra amiga, que mora pertinho de mim, mas pouco conversamos, no máximo um “oi-tudo-bem” de longe. Por coincidência também estivera pensando nela -preciso jogara na loteria. Combinamos de ir à feirinha do Lavradio. Pega ônibus, desce na Lapa, olha daqui, compra dali, abre guarda-chuva, fecha guarda-chuva, tamancos altíssimos comendo meu pé, pastelzinho pra matar a fome.  Programão. Na feirinha encontrei outra figura querida que há muito não via e que é artesã, tem uma barraquinha onde vende seus produtos. Outra rápida conversa, outra promessa de nos encontrarmos com calma.

À noite, convite para ir ao teatro, coisa que não fazia sei lá há quanto tempo. É boa a peça? Lista amiga? Desconto? Roupinha, maquiagem, bolsa, vamos lá. Reencontrei outra pessoa querida, também perdida nas brumas da vida. A peça? Confesso que não a entendi muito bem, nem achei a atuação do grupo muito boa, nem o texto lá grandes coisas, isso sem falar que são quase duas horas numas cadeirinhas pra lá de desconfortáveis. Fiquei pensando se todo mundo ali estava gostando e apenas eu, porque era chucra, não estava. O que dizer ao final do espetáculo para o qual fui convidada e no qual trabalham amigos dos amigos? Não dava pra ser deselegante e desancar tudo, nem passar atestado de burrice. Fiquei aliviada quando depois soube que as impressões eram mais ou menos parecidas com as minhas. Ponto para mim, não sou tão ignorante assim. Saldo? Diversão total. Programa cachorro com pessoas divertidas sempre é bom. Nem que seja pra falar mal.

Fui dormir felizinha pra caramba, acordei melhor ainda.

 

Espero que as pessoas mencionadas nessa edição tenham ficado tão felizes como fiquei.

 

Aliás e a propósito

In humor on 09/10/2010 at 5:21 AM

Querido Brógui,

Lendo – mais uma vez  – o manual de Direito Administrativo, coisinha básica com 1399 páginas, dei de cara – mais uma vez – com os princípios que regem a Administração Pública aqui na terrinha. Tá lá na nossa Constituição os postulados que inspiram o modo de agir dos agentes do Poder Público. O que eu mais gosto é o tal do princípio da moralidade, talvez por uma questão de formação, dentro dos estritos e restritos padrões do que deve ou não ser feito de acordo com o que é ou não correto.

De acordo com José dos Santos Carvalho Filho, ” o princípio da moralidade impõe que o administrador público não dispense os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. (…) também distinguir o que é honesto do que é desonesto.”

Querido Carvalhinho, cada vez que leio isso chego à mesma conclusão: não basta o sujeito distinguir o que é honesto do que é desonesto. O pulha sabe que é desonesto, sujo, que está fazendo um monte de bandalheira, roubando dinheiro das velhinhas, usando a máquina administrativa em proveito próprio, andando diariamente em cima do artigo 37 da Constituição da República. Ele sabe perfeitamente bem o que é ético, apenas decidiu não se conduzir de acordo com esse entendimento.

Todo pulha sabe que é pulha, assim como todos os pulhas do mundo se reconhecem e formam uma irmandade na qual, nessa sim, alguns princípios são bem definidos e respeitados. É que nem na máfia ou nas nossas modestas similares nacionais que controlam o tráfico nos morros cariocas. É por isso que os pulhas não se quebram nunca, entre eles há uma ética muito particular, que é o que mantém o sistema pulhal coeso.

Então, Querido Brógui, não basta erigir um valor ao patamar constitucional para que ele se torne uma prática. Se o sujeito resolver não ser probo, não vai ser mesmo e nem nossa legislação, nem nosso Judiciário, nem o Capitão Nascimento vai dar conta disso. O que dá conta? Educação. E não falo em educação nos bancos escolares, não. Falo daquela que se dá dentro de casa, daquela do exemplo, daquela que chama a atenção do moleque quando ele cai no desvio, daquela que ensina e convence a figura de que ser legal não é se dar bem, é ser do bem.

Aliás e a propósito, já ocorreram as eleições e nosso Congresso será renovado.

PS: Renovado?

Notícias do front

In humor on 09/10/2010 at 4:33 AM

Querido Brógui,

Envolvida com o santo ofício, o magistério, “ando meio desligada, já nem sinto meus pés no chão”. Não venho aqui, portanto, para reclamar, estou ainda sob o efeito da mensagem de Chico Xavier que recebi da Querida Dra. Consuelo. Acho que conhecem, mas caso não, é só pedir que eu mando depois.

Tem um pedaço do texto que fala sobre o destino, que é aquilo que construímos para nós. Sempre acreditei nisso, na nossa vida como fruto das nossas escolhas, sejam elas boas ou ruins. Sempre achei o maior barato aqueles filmes que trabalham em cima disso, começando pelo “De volta para o futuro”, passando pelo “Exterminador do Futuro” e culminando no agoniado “Efeito Borboleta”.

Por vezes me sinto presa a algumas armadilhas e tendo a ficar revoltex, querer dar porrada no primeiro que cruzar o meu caminho, já pensei até em ir morar num mosteiro budista pra me livrar das encrencas do dia a dia (desisti quando minha santa mãezinha me lembrou que mosteiro não é um spa). Passado o momento punk, vejo que metade das ciladas eu mesma armei para mim e a outra metade vem a reboque das não-ciladas, mas que deixam sequelas.

Profundo, não? Onde quero chegar com esse papo brabo?

Na conformação que nada tem a ver com acomodação e sim com aceitação.

Tô atolada porque tenho que dar aulas de matemática e mal sei a tabuada? Quem mandou aceitar trabalhar no projeto de aceleração? Agora, neguinha, entuba!

Meu cartão de crédito veio com uma conta estúpida? Quem mandou ficar deprimida e comprar um monte de porcarias das quais você não precisa? Agora, neguinha, entuba!

Deixei escapar aquele cara sensacional e agora ele está casado? Quem mandou ficar fazendo doce? Agora, entuba!

Tenho que fazer escova todos os dias? Quem mandou alisar o cabelo? Agora, entuba!

Lavar o carro dá trabalho? Então vende ele e entuba um coletivo!

Tô com dor muscular? Quem mandou ir pra academia e achar que a bunda ia levantar no mesmo dia? Entuba!

Ok, ok, as coisas não são tão simples assim. Ou melhor, elas são simples assim mesmo. A gente é que tem mania de complicar tudo.

O fato é que minhas escolhas me meteram em milhares de arapucas, mas, em compensação me trouxeram milhares de momentos felizes, engraçados e inesquecíveis. Trouxeram para a minha vida pessoas bacanérrimas, sabedoria, cabelos brancos, abraços mil e a sensação de que poderia ser tudo diferente, mas se não fosse como foi, eu não seria quem sou e não estaria aqui escrevendo para você, que, por sinal, também não teria entrado na minha vida.

 

 

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