Fatinha

Toda Errada

In humor on 19/12/2022 at 8:19 AM

Querido Brógui,

Eu tenho uma teoria. Aliás, eu tenho várias teorias, essa é apenas mais uma delas.

A pessoa certinha, que faz tudo nos conformes, que não dá golpinho, que vai na loja devolver o produto que veio a mais na sacola, essa pessoa não pode fazer xixi fora do caco – essa expressão aprendi com minha Mãe. O dia que fizer isso, vai dar merda.

Quem vive fazendo trampolinagem, não tá nem aí pra nada, completamente irresponsável, inconsequente, amoral, habita um limbo protegido de quaisquer azares.

Este Brógui que aqui escreve, faz parte da primeira categoria.

Há dois finais de semana, indo ver um show, já a caminho, a lembrança caiu como um raio em minha cabeça. Caraio! Tô sem carteira de motorista e sem documento do carro. Não, não vou voltar em casa, vai demorar e nunca fui parada em blitz. Não vai ser justamente hoje que isso vai acontecer. Aconteceu.

Sabe quantas vezes eu saí de casa sem estes documentos? Nunca.

Se eu fosse instada a citar duas leis que funcionam, eu citaria a Lei da Gravidade, aquela que faz com que as pelancas despenquem em direção ao chão quando a gente envelhece e a Lei de Murphy, que diz que se alguma coisa pode dar errado, dará.

O que aconteceu no sábado? Fui parada na blitz. Lei Seca. Murphy se materializou ao meu lado, deu um sorriso sardônico e ainda piscou o olho para mim.

Abri o vidro, já com a culpa estampada na minha testa. Não que eu tivesse bebido, vocês sabem que não gosto de álcool – só para desinfetar, assim falou Jorge Ben Jor. A primeira coisa que o cara falou foi: sua habilitação e o documento do veículo, senhora. Não trouxe, respondi com cara de cu. A senhora pode me acompanhar?

Desci do carro, de chinelinho – sim, eu havia tirado o tênis e estava dirigindo de chinelinho, o que também é proibido e coisa que nunca faço, mas meus dedinhos imploraram por libertação após duas horas e meia dançando.

A senhora pode me informar o seu CPF? Eu faço a pesquisa aqui. Mais um Gente Boa no meu caminho. Ignorou meu chinelinho, fez vista grossa para o fato de eu estar dirigindo de madrugada sem documentação. O foco dele era saber se eu havia bebido.

Informei meu CPF, fiquei aguardando, uma moça chamou meu nome e eu, humildemente, levantei a mão. A senhora sabe que sua CNH está vencida? Balancei a cabeça, nem consegui emitir um som, só abri a boca em “O”. Venceu no dia 05, a senhora tem trinta dias para renovar. Ufa! Meno male.

Fiz o teste do bafômetro, que deve ter acusado níveis intoleráveis de Coca-Cola, fui liberada.

A Toda Errada aprendeu a lição. Nunca mais saia de casa sem CNH, sem registro do veículo, de chinelinho. Deixe de preguiça e baixe todos os documentos no celular. Não leve Murphy para passear.

Bem… passada mais de uma semana, finalmente hoje consegui agendar no Detran a bendita da renovação. Estava tentando durante todo esse tempo, mas “devido ao grande número de acessos, o sistema estava intermitente”. Não sei por que cargas d’água levantei cedo e fiz mais uma tentativa, que foi exitosa. UHUUUU! Murphy deu mole.

118 reais

In humor on 16/12/2022 at 9:42 AM

Querido Brógui,

O que a gente faz com 118 reais?

Dá pra sair do mercado com uma sacolinha pendurada no dedo. Dá pra ir a um show no Circo Voador, desde que não beba e não coma nada. Dá pra fazer uma escova no cabelo. Dá pra bancar um japa.

Depois de marromenos três anos suando sangue pra dar entrada na minha aposentaria, recebo uma mensagem me mandando entrar em contato urgente com a Fulana que está analisando o processo. Gelei. Pensei: fudeu. Liguei imediatamente, ela atendeu e eu, gaguejando, perguntei (eu acho que consegui perguntar) qual era o motivo do contato.

Ela, muito gente boa, disse que já havia encerrado o expediente, que havia tentado entrar em contato comigo o dia inteiro e por isso disponibilizou o número do celular pessoal dela. Gente boa. Pediu pra ligar no dia seguinte e eu gaguejei de novo implorando pra ela dizer o que estava acontecendo. Ela ficou com pena e explicou. Gente boa.

A parada é a seguinte: se eu optar por suspender o processo de aposentaria e aguardar mais seis meses, vou incorporar aos meus proventos mais um triênio. Disse que não. Que não aguentava mais essa novela, que isso estava acabando com minha sanidade (que já não é lá grandes coisas). Ela me orientou a pensar até o dia seguinte e então dar uma resposta.

Fiz rapidamente um cálculo mental, mas, como não sei fazer contas de cabeça, peguei o contracheque, peguei a calculadora pra saber o quanto de grana isso significava e soltei um vaitomarnocu.

118 reais. Um acréscimo de 118 reais nos meus proventos. Parar tudo, depois ter que começar a porra toda de novo, mais dois trilhões de documentos pra providenciar, atualizar mapa de tempo de serviço, rezar para que uma alma caridosa se disponha a fazer o serviço para o qual ela é paga pra fazer, aguardar mais sei lá quanto tempo pra tramitar. 118 reais. Vaitomarnocu.

Pra não dizer que tomei essa decisão sem consultar ninguém, fiz aquela indagação lá do começo para alguns Bróguis. Muitos perderam o fôlego de tanto rir da proposta indecente. Outros perguntaram comequié. Todos chegaram à mesma conclusão: vaitomarnocu.

Fiz um documento declarando expressamente que abria mão do benefício, no dia seguinte fui numa papelaria pra imprimir, assinar, escanear e enviar. Enviei.

A Gente Boa recebeu e disse que ia dar andamento ao processo. Agora é aguardar. Vem recesso, Feliz Natal e Próspero Ano Novo, ressaca, retomada do serviço em ritmo tartaruga com artrose. Acho que ano que vem sai.

PS: não mandei a Gente Boa tomarnocu.

BRASILSILSIL!

In humor on 09/12/2022 at 7:49 PM

Querido Brógui,

Acordei hoje meio no susto, olhei para o relógio e vi que estava em cima da hora para ir ter com o fulano que ia podar a trepadeira que o vizinho mandou não podar porque as flores eram bonitas e a irmã dele mandou podar porque os galhos estavam arranhando o carro dela. Como eu tenho medo dela e nem tô aí pra ele, resolvi obedecê-la.

Meio que dormindo, meio que virada porque dormi tarde ontem e ambos os meus neurônios estavam de ressaca, me arrumei e sai meio que correndo, meio que me arrastando.

Abrindo um breve parênteses para que você, seu Brógui fofoqueiro, depois não venha me bombardear com mensagens querendo saber onde fui ontem, já vou contar logo.

Fui na festa de confraternização do trabalho. Suei sangue pra conseguir o convite, lancei meu modelito tô-bem-pra-caramba-pra-minha-idade (é o que escuto sempre, só tô repetindo), cabelinho feito, unhas idem, me mandei pro tal do evento. Foi sensacional rever um monte de gente, abraçar e beijar (foda-se o covid), trocar breves palavras com um e com outro, sorrir. A deixa pra ir embora foi quando começou a tocar funk e um colega veio me enlaçar lançando-me olhares libidinosos. Perigo! Perigo! Passadas quatro horas de festa com bebida liberada, o sujeito que me conhece há uma década e nunca olhou pra minha cara, vem se chegando? Tá bêbado. Tomei o rumo do Leão da Montanha: saída pela direita.

Continuando…

Parafraseando Karl Marx, que disse que a religião é o ópio do povo, eu digo que o futebol é o ópio do brasileiro. Tá tudo sinistro, a grana tá curta, mas, no dia do jogo, tudo fica rosa – ou melhor, verde e amarelo. Pelas ruas, àquela hora da manhã, já tava todo mundo com um copinho de cerveja na mão esperando o jogo que começava meio dia.

Antes de ir pra casa do Papai, fui na padaria comprar pão de rabanada. Prometi a uma amiga que levaria de sobremesa para o almoço amanhã. BRASILSILSIL! Onde eu estava com a cabeça pra acreditar que ia ter pão na padaria em dia de jogo? Amanhã vou ter que comprar as rabanadas prontas, arrumar direitinho numa travessa e dizer que deu o maior trabalhão pra fazer. Ixe! Essa mentira não vai colar. Ela é Brógui e tá me lendo. Putz!

Cheguei a casa do Papai às oito horas da manhã, conforme combinado. Depois de mandar três mensagens pro fulano, resolvi eu mesma fazer a poda. BRASILSILSIL!! Onde eu estava com a cabeça pra acreditar que o camarada ia se apresentar pra trabalhar em dia de jogo? Enfim, eu mesma fiz o serviço, lotei quatro sacos de lixo com folhas e galhos e, de quebra, ainda arrumei a árvore de Natal.

Depois de três horas de serviço braçal, corri pro Micro, pra ver se ainda pegava uma piscina. Hell de Janeiro está bombando, um sol de rachar o quengo, eu toda suada por conta da faina, mas, cheguei a suspirar de enlevo só de pensar naquela água fresquinha. BRASILSILSIL! Onde eu estava com a cabeça pra acreditar que a piscina estaria aberta no em dia de jogo? Passei cabisbaixa, pra nem ter contato visual com aquele oásis e engoli o choro.

Depois do banho, lembrei que precisava comer. Estava em jejum desde ontem. Vou pedir um japinha. BRASILSILSIL!! Todos os restaurantes com entregas suspensas durante a partida. Onde eu estava com a cabeça pra acreditar que os donos de restaurante querem saber de alimentar os que tem fome em dia de jogo? Roí uma maçã e fui deitar pra esquecer que o estômago estava roncando. Obviamente, dormi.

Quando acordei, com o telefone tocando (é claro que era telemarketing), um silêncio sepulcral. Pensei logo: deu merda. O Brasil perdeu. Não deu outra: olhei para o celular e confirmei minha suspeita.

Putaquepariu! Num acredito! Como aqueles bostas daqueles jogadores milionários ousam perdem de novo nas quartas de final acabando com o circo de milhões de brasileiros? Será que eles não sabem como é necessário o circo, assim como é necessário o pão (e o álcool)? Nunca ouviram a expressão panis et circenses nas aulas de História? Claro que não. BRASILSILSIL!! Onde eu estou com a cabeça pra acreditar que esses caras frequentaram a escola? (ops! frequentaram sim. a escolinha de futebol).

Tô deprimida, com vontade de pegar um avião e ir lá no Qatar dar na cara de todo mundo.

Ué, Brógui… Desde quando você liga pra futebol, seleção, Copa do Mundo?

Desde nunca, Brógui. Caguei baldes pra isso tudo. Tô irada porque terça-feira tenho que trabalhar. BRASILSILSIL!

%d blogueiros gostam disto: