Querido Brógui
Há duas categorias de reencontros. Numa delas você dá de cara com uma pessoa que não vê há anos e um onda de felicidade toma conta do ambiente. Na outra, você deseja ardentemente fazer o tempo voltar para não estar naquele lugar, naquela hora, ou que sua cara tenha mudado tanto que o outro não lhe reconheça.
É impressionante como no primeiro caso a conversa flui como se os anos não tivessem passado, o riso impera, rapidamente se dá a atualização acerca do que cada um viveu, num atropelo de informações, pulando de um assunto para o outro e, em menos de meia hora, vem a despedida, a vontade de ficar mais um pouco, a troca de telefones e a esperança de que um dia, quem sabe, tenhamos tempo de nos falar de novo.
Na outra situação, em quinze longos e dolorosos segundos, eu já estava procurando a saída de incêndio mais próxima. Não encontrei. Respirei fundo e ofereci meu sofrimento pela paz mundial. Coloquei um sorriso de bolso na cara e fiquei esperando a bomba estourar. Mais quinze segundos, visualizei um buraco se abrindo no chão e eu por alí escapando, como nos filmes de assalto a banco. Outros quinze segundos, mentalizei a cabeça da pessoa explodindo. Quinze segundos, comecei a rezar para não sucumbir ao desejo de mandar a pessoa tomar no “orifício na extremidade inferior do intestino grosso, por onde são expelidos os excrementos”. Não teve jeito, tive que suportar heroicamente aquela bolha no calcanhar virar ferida. Os mesmos trinta minutos que no primeiro reencontro passaram tão rápido, no segundo pareciam se multiplicar. Finalmente, ela se despediu, tinha compromisso e estava atrasada. Ufa! Sobrevivi, mas não incólume. Ela insistiu para que desse o número do meu telefone. Tinha gostado muito de me ver e queria manter contato.
Que Deus tenha piedade da minha alma! Que eu não morra envenenada ao morder a minha própria língua! Que o celular dela caia no chão e apague meu telefone!