Fatinha

Ponto Final

In humor on 01/12/2022 at 10:04 PM

Querido Brógui,

Estava já deitada, curtindo uma frescurinha, quando me veio a ideia que precisei me levantar pra dividir com você.

È o seguinte: como um livro ou como um roteiro de filme, não é a nossa vida. A gente não escreve sozinho o texto e os personagens não agem de acordo com a nossa vontade. De todo modo, assim como em qualquer texto, nós, seus autores, podemos decidir quando colocar uma vírgula, quando trocar uma palavra e, o mais importante, quando colocar um ponto final.

Colocar um ponto final é uma parada difícil de fazer. Significa que aquela história acabou. É sofrido, mesmo que a história seja péssima. Acabou e tá na hora de inventar uma outra. É difícil, mas acho que é necessário ser feito vez por outra, definindo ou redefinindo caminhos e abrindo novas perspectivas.

Nem toda história na nossa vida precisa ter um ponto final, logicamente. As histórias felizes, como aquelas que vivemos com quem amamos, podem e devem permanecer sendo contadas. Uma viagem bacana, uma festa, aquele show, passam e acabam, mas não são ponto final, são apenas vírgulas e o fluxo da vida continua fluindo (fluxo fluindo ficou esquisito, mas eu gostei do impacto da aliteração).

Então:

Algumas histórias de nossas vidas merecem um ponto final porque simplesmente não estão mais divertidas, ou porque o desenrolar não está sendo conforme a gente gostaria que fosse e há sempre sempre sempre a opção de levantar da poltrona do cinema e ir embora. Ponto final.

No mais das vezes a gente levanta da poltrona mas ainda dá uma olhadinha para a tela pra ver se aguenta mais alguns minutos daquela tortura. Às vezes, a gente fica meio perdido no escuro do cinema tentando achar a porta de saída, mas acaba encontrando. Mas uma coisa é certa, depois que a gente toma a decisão de sair, não tem volta. E quando a gente pensa que pagou pra ver aquilo, dá vontade de gritar.

Ué! E se eu me arrepender de ter saído do cinema ou de ter jogado o livro nas profundezas da estante? E se eu me arrepender daquele ponto final e quiser apagar e colocar uma vírgula? Simples. Antes de tomar uma decisão como essa, pondere, converse consigo, com os astros, com os amigos, seu terapeuta, seu guia espiritual. Reflita, não se precipite. Se der merda, assuma as consequências e comece a pensar como dar mais um ponto final e iniciar tudo de novo mais uma vez.

O fato é que nossa vida está recheada de viradas. Cheia de momentos que marcam um fim e ao mesmo tempo um começo. Aquele pé na bunda que lhe empurra pra frente, aquela porta fechada na sua cara que lhe revela uma janela panorâmica. Ao menos, comigo funciona assim.

Quer um exemplo? Quando larguei o magistério depois de quinhentos anos e comecei a trabalhar numa parada completamente diferente em todos os sentidos. Como sensata que sou, só tirei o pé de um, quando coloquei o pé no outro, pq não tô aqui pra ficar sem aquela graninha certa no final do mês.

Tem gente que se separa, passa por momentos pica e, de repente se vê saindo num barzinho no começo da outra noite e amanhecendo dançando numa boate. Não é o máximo? Descobrir que há vida fora daquele casamento de cu, há vida fora do trabalho, há vida fora dos problemas cri-cri. Há vida além daquele mundinho que a gente pensava que era tudo o que existia pra se viver.

Momentos ponto final para mim são aqueles que falo: “que merda é essa que estou fazendo?” ou “se situa, Brógui!” ou a minha preferida atualmente que é “isso foi libertador.”

Vivi, nas últimas semanas, momentos assim. Coloquei uma série de pontos finais. Também comecei novas histórias.

Em um dos momentos libertadores, quebrei meus próprios paradigmas e vivi algo que deixou alguns dos Bróguis (que por acaso souberam) boquiabertos. Estupefatos. Sem palavras. Atitude que tomei que nem os mais cascudos deixaram de reagir com um: o que? não acredito que você fez isso! E aplausos, muitos aplausos porque viram o quanto eu arrisquei, fui corajosa e mandei bemzão.

Houve o momento iluminação/libertação. Aquele que, finalmente, esse Broguinho que vos fala, olhou para a cena e mandou o roteirista tomar no cu com toda a solenidade que merecia a ocasião. Aquele momento em que a minha miopia foi cirurgicamente corrigida e eu olhei e vi. E não gostei do que vi. Só que, ao invés de me martirizar ou procurar imputar ao outro a responsabilidade pela minha falta de visão, assumi a mancada e respirei aliviada. Peguei o script e taquei fogo.

Em um curto prazo, livrei-me de grilhões que me prendiam e não estavam mais me deixando feliz.

Era isso que eu queria contar pra você hoje, Querido. Que um ponto final pode ser libertador. Mesmo que você corra o risco de estar fazendo a maior cagada da sua vida, faça. Depois limpe.

E ponto final.

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