Querido Brógui,
Clichê? Sim. Mas é a verdade.
Pra começar, aqui no Rio de Janeiro, parte do funcionalismo público não trabalhou ou trabalhou meio expediente. Os demais trabalhadores, ou foram liberados mais cedo, ou interromperam o expediente para retornar depois da partida. Fico pensando aqui quem dá o azar de precisar ir á emergência do hospital ou precisa desesperadamente comprar um pão na padaria ou abastecer o carro que está prestes a dar pane seca (como este Brógui que vos fala).
Eu aproveitei a folga para ir à rua fazer umas coisinhas pendentes, coisinhas que precisam ser feitas dias de semana e nos dias de semana estou no tronco. Quem trabalha em horário comercial tem que se virar para fazer o que só pode ser feito em horário comercial ou encarar a cara torta do chefe que acha que sua vida se resume às tarefas laborais – talvez porque sua vida se resuma a isso mesmo.
Com pouco mais de dois mil rodados, mas não querendo perder a garantia, me despenquei para a concessionária a fim de fazer a revisão no Fred. Chegando lá, fui alertada para o fato de que o expediente seria encerrado mais cedo e que, portanto, não teriam tempo para lavar o veículo e devolvê-lo brilhando como é de praxe, mas se eu fizesse questão voltasse outro dia. Ok. Em tempo recorde, trocaram óleo, filtros, lubrificaram e me esclareceram que a luzinha que acende no painel e que eu não tinha a menos ideia do que significava, era indicativo de que precisava calibrar os pneus.
No caminho para a próxima parada, encarei um baita de um engarrafamento. Era o horário que o povaréu estava se deslocando. Onze horas da manhã e os torcedores ensandecidos pra chegar em casa a tempo de assistir ao jogo – que começaria hoooooras depois. Buzinaço, cortadas, xingamentos.
Na ótica, também fui de pronto informada acerca do término antecipado do expediente. Fui muito bem atendida, mas suspeito que colocaram uma vassoura atrás da porta.
A caminho de casa, mais uma vez olhei para o painel do Fred e lembrei que tinha que parar num posto para alimentá-lo. Rezando para conseguir chegar, cheguei. Parei. Fui, mais uma vez, informada de que o expediente encerrava mais cedo e implorei ao frentista para encher o tanque, senão eu ia ter que empurrar o carro até em casa, aproximadamente 30 quilômetros, incluindo a serra.
Esses singelos fatos me levaram a elaborar a tese de que nada nada nada nem ninguém ninguém ninguém funciona antes, durante e depois de qualquer jogo da seleção. Como estudiosa que sou do comportamento humano, resolvi fazer uma pesquisa utilizando como grupo de controle alguns Bróguis selecionados criteriosamente.
Lancei uma simples pergunta dez minutos antes de começar o jogo. O resultado não me surpreendeu:100% dos entrevistados não respondeu. Simplesmente andaram para mim, comprovando minha tese de que já não estavam funcionais antes mesmo de o jogo começar e assim permaneceriam após o apito final.
E eu? Assisti? Sendo eu um ponto fora da curva, dormi e acordei minutos antes do primeiro gol, ou seja, não perdi nada.