Fatinha

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Toda Errada

In humor on 19/12/2022 at 8:19 AM

Querido Brógui,

Eu tenho uma teoria. Aliás, eu tenho várias teorias, essa é apenas mais uma delas.

A pessoa certinha, que faz tudo nos conformes, que não dá golpinho, que vai na loja devolver o produto que veio a mais na sacola, essa pessoa não pode fazer xixi fora do caco – essa expressão aprendi com minha Mãe. O dia que fizer isso, vai dar merda.

Quem vive fazendo trampolinagem, não tá nem aí pra nada, completamente irresponsável, inconsequente, amoral, habita um limbo protegido de quaisquer azares.

Este Brógui que aqui escreve, faz parte da primeira categoria.

Há dois finais de semana, indo ver um show, já a caminho, a lembrança caiu como um raio em minha cabeça. Caraio! Tô sem carteira de motorista e sem documento do carro. Não, não vou voltar em casa, vai demorar e nunca fui parada em blitz. Não vai ser justamente hoje que isso vai acontecer. Aconteceu.

Sabe quantas vezes eu saí de casa sem estes documentos? Nunca.

Se eu fosse instada a citar duas leis que funcionam, eu citaria a Lei da Gravidade, aquela que faz com que as pelancas despenquem em direção ao chão quando a gente envelhece e a Lei de Murphy, que diz que se alguma coisa pode dar errado, dará.

O que aconteceu no sábado? Fui parada na blitz. Lei Seca. Murphy se materializou ao meu lado, deu um sorriso sardônico e ainda piscou o olho para mim.

Abri o vidro, já com a culpa estampada na minha testa. Não que eu tivesse bebido, vocês sabem que não gosto de álcool – só para desinfetar, assim falou Jorge Ben Jor. A primeira coisa que o cara falou foi: sua habilitação e o documento do veículo, senhora. Não trouxe, respondi com cara de cu. A senhora pode me acompanhar?

Desci do carro, de chinelinho – sim, eu havia tirado o tênis e estava dirigindo de chinelinho, o que também é proibido e coisa que nunca faço, mas meus dedinhos imploraram por libertação após duas horas e meia dançando.

A senhora pode me informar o seu CPF? Eu faço a pesquisa aqui. Mais um Gente Boa no meu caminho. Ignorou meu chinelinho, fez vista grossa para o fato de eu estar dirigindo de madrugada sem documentação. O foco dele era saber se eu havia bebido.

Informei meu CPF, fiquei aguardando, uma moça chamou meu nome e eu, humildemente, levantei a mão. A senhora sabe que sua CNH está vencida? Balancei a cabeça, nem consegui emitir um som, só abri a boca em “O”. Venceu no dia 05, a senhora tem trinta dias para renovar. Ufa! Meno male.

Fiz o teste do bafômetro, que deve ter acusado níveis intoleráveis de Coca-Cola, fui liberada.

A Toda Errada aprendeu a lição. Nunca mais saia de casa sem CNH, sem registro do veículo, de chinelinho. Deixe de preguiça e baixe todos os documentos no celular. Não leve Murphy para passear.

Bem… passada mais de uma semana, finalmente hoje consegui agendar no Detran a bendita da renovação. Estava tentando durante todo esse tempo, mas “devido ao grande número de acessos, o sistema estava intermitente”. Não sei por que cargas d’água levantei cedo e fiz mais uma tentativa, que foi exitosa. UHUUUU! Murphy deu mole.

118 reais

In humor on 16/12/2022 at 9:42 AM

Querido Brógui,

O que a gente faz com 118 reais?

Dá pra sair do mercado com uma sacolinha pendurada no dedo. Dá pra ir a um show no Circo Voador, desde que não beba e não coma nada. Dá pra fazer uma escova no cabelo. Dá pra bancar um japa.

Depois de marromenos três anos suando sangue pra dar entrada na minha aposentaria, recebo uma mensagem me mandando entrar em contato urgente com a Fulana que está analisando o processo. Gelei. Pensei: fudeu. Liguei imediatamente, ela atendeu e eu, gaguejando, perguntei (eu acho que consegui perguntar) qual era o motivo do contato.

Ela, muito gente boa, disse que já havia encerrado o expediente, que havia tentado entrar em contato comigo o dia inteiro e por isso disponibilizou o número do celular pessoal dela. Gente boa. Pediu pra ligar no dia seguinte e eu gaguejei de novo implorando pra ela dizer o que estava acontecendo. Ela ficou com pena e explicou. Gente boa.

A parada é a seguinte: se eu optar por suspender o processo de aposentaria e aguardar mais seis meses, vou incorporar aos meus proventos mais um triênio. Disse que não. Que não aguentava mais essa novela, que isso estava acabando com minha sanidade (que já não é lá grandes coisas). Ela me orientou a pensar até o dia seguinte e então dar uma resposta.

Fiz rapidamente um cálculo mental, mas, como não sei fazer contas de cabeça, peguei o contracheque, peguei a calculadora pra saber o quanto de grana isso significava e soltei um vaitomarnocu.

118 reais. Um acréscimo de 118 reais nos meus proventos. Parar tudo, depois ter que começar a porra toda de novo, mais dois trilhões de documentos pra providenciar, atualizar mapa de tempo de serviço, rezar para que uma alma caridosa se disponha a fazer o serviço para o qual ela é paga pra fazer, aguardar mais sei lá quanto tempo pra tramitar. 118 reais. Vaitomarnocu.

Pra não dizer que tomei essa decisão sem consultar ninguém, fiz aquela indagação lá do começo para alguns Bróguis. Muitos perderam o fôlego de tanto rir da proposta indecente. Outros perguntaram comequié. Todos chegaram à mesma conclusão: vaitomarnocu.

Fiz um documento declarando expressamente que abria mão do benefício, no dia seguinte fui numa papelaria pra imprimir, assinar, escanear e enviar. Enviei.

A Gente Boa recebeu e disse que ia dar andamento ao processo. Agora é aguardar. Vem recesso, Feliz Natal e Próspero Ano Novo, ressaca, retomada do serviço em ritmo tartaruga com artrose. Acho que ano que vem sai.

PS: não mandei a Gente Boa tomarnocu.

BRASILSILSIL!

In humor on 09/12/2022 at 7:49 PM

Querido Brógui,

Acordei hoje meio no susto, olhei para o relógio e vi que estava em cima da hora para ir ter com o fulano que ia podar a trepadeira que o vizinho mandou não podar porque as flores eram bonitas e a irmã dele mandou podar porque os galhos estavam arranhando o carro dela. Como eu tenho medo dela e nem tô aí pra ele, resolvi obedecê-la.

Meio que dormindo, meio que virada porque dormi tarde ontem e ambos os meus neurônios estavam de ressaca, me arrumei e sai meio que correndo, meio que me arrastando.

Abrindo um breve parênteses para que você, seu Brógui fofoqueiro, depois não venha me bombardear com mensagens querendo saber onde fui ontem, já vou contar logo.

Fui na festa de confraternização do trabalho. Suei sangue pra conseguir o convite, lancei meu modelito tô-bem-pra-caramba-pra-minha-idade (é o que escuto sempre, só tô repetindo), cabelinho feito, unhas idem, me mandei pro tal do evento. Foi sensacional rever um monte de gente, abraçar e beijar (foda-se o covid), trocar breves palavras com um e com outro, sorrir. A deixa pra ir embora foi quando começou a tocar funk e um colega veio me enlaçar lançando-me olhares libidinosos. Perigo! Perigo! Passadas quatro horas de festa com bebida liberada, o sujeito que me conhece há uma década e nunca olhou pra minha cara, vem se chegando? Tá bêbado. Tomei o rumo do Leão da Montanha: saída pela direita.

Continuando…

Parafraseando Karl Marx, que disse que a religião é o ópio do povo, eu digo que o futebol é o ópio do brasileiro. Tá tudo sinistro, a grana tá curta, mas, no dia do jogo, tudo fica rosa – ou melhor, verde e amarelo. Pelas ruas, àquela hora da manhã, já tava todo mundo com um copinho de cerveja na mão esperando o jogo que começava meio dia.

Antes de ir pra casa do Papai, fui na padaria comprar pão de rabanada. Prometi a uma amiga que levaria de sobremesa para o almoço amanhã. BRASILSILSIL! Onde eu estava com a cabeça pra acreditar que ia ter pão na padaria em dia de jogo? Amanhã vou ter que comprar as rabanadas prontas, arrumar direitinho numa travessa e dizer que deu o maior trabalhão pra fazer. Ixe! Essa mentira não vai colar. Ela é Brógui e tá me lendo. Putz!

Cheguei a casa do Papai às oito horas da manhã, conforme combinado. Depois de mandar três mensagens pro fulano, resolvi eu mesma fazer a poda. BRASILSILSIL!! Onde eu estava com a cabeça pra acreditar que o camarada ia se apresentar pra trabalhar em dia de jogo? Enfim, eu mesma fiz o serviço, lotei quatro sacos de lixo com folhas e galhos e, de quebra, ainda arrumei a árvore de Natal.

Depois de três horas de serviço braçal, corri pro Micro, pra ver se ainda pegava uma piscina. Hell de Janeiro está bombando, um sol de rachar o quengo, eu toda suada por conta da faina, mas, cheguei a suspirar de enlevo só de pensar naquela água fresquinha. BRASILSILSIL! Onde eu estava com a cabeça pra acreditar que a piscina estaria aberta no em dia de jogo? Passei cabisbaixa, pra nem ter contato visual com aquele oásis e engoli o choro.

Depois do banho, lembrei que precisava comer. Estava em jejum desde ontem. Vou pedir um japinha. BRASILSILSIL!! Todos os restaurantes com entregas suspensas durante a partida. Onde eu estava com a cabeça pra acreditar que os donos de restaurante querem saber de alimentar os que tem fome em dia de jogo? Roí uma maçã e fui deitar pra esquecer que o estômago estava roncando. Obviamente, dormi.

Quando acordei, com o telefone tocando (é claro que era telemarketing), um silêncio sepulcral. Pensei logo: deu merda. O Brasil perdeu. Não deu outra: olhei para o celular e confirmei minha suspeita.

Putaquepariu! Num acredito! Como aqueles bostas daqueles jogadores milionários ousam perdem de novo nas quartas de final acabando com o circo de milhões de brasileiros? Será que eles não sabem como é necessário o circo, assim como é necessário o pão (e o álcool)? Nunca ouviram a expressão panis et circenses nas aulas de História? Claro que não. BRASILSILSIL!! Onde eu estou com a cabeça pra acreditar que esses caras frequentaram a escola? (ops! frequentaram sim. a escolinha de futebol).

Tô deprimida, com vontade de pegar um avião e ir lá no Qatar dar na cara de todo mundo.

Ué, Brógui… Desde quando você liga pra futebol, seleção, Copa do Mundo?

Desde nunca, Brógui. Caguei baldes pra isso tudo. Tô irada porque terça-feira tenho que trabalhar. BRASILSILSIL!

Ponto Final 2

In humor on 02/12/2022 at 3:52 AM

Querido Brógui,

Algumas horas após dar o ponto final no post anterior, meus 17 Bróguis (lembram daquele colunista fictício da Casseta Popular?) retornaram com seus comentários. Foram comentários tão pertinentes que achei uma pena os outros 16 não poderem ler. É. Esqueci de habilitar os comentários aqui. Vou ver se lembro de fazer isso ao final deste.

Enfim… o ponto final que dei no post anterior acabou por ser a grande metáfora: um ponto final que deu início a outras reflexões, o que é exatamente o ponto G da questão.

O ponto final, sendo mais clara – fui acusada de utilizar metáforas obscuras -, é tanto uma conclusão quanto um ponto de recomeço.

Parei de tingir os cabelos. Há uns cinco anos, creio. Foi uma escolha libertadora. Livre de salão de 15 em 15 dias. Livre do chumbo que jogava pra dentro do meu corpo de 15 em 15 dias. Um ponto final que me levou a encarar dois ou três anos de cabelo medonho. Escuro, louro, vermelho, laranja, branco. A própria visão do inferno que aguentei com galhardia até o resultado final que é meu atual cabelinho grisalho lindo. Um ponto final que levou a um recomeço, sacou? Um novo Eu com o glamour dos fios brancos.

A primeira viagem sozinha, depois de passar anos querendo ir pra Europa, mas não tinha companhia – ou porque não calhavam as férias ou porque as companhias não tinhas bala na agulha pra ir. Fui. Peguei minha mala gigante e me mandei pra lá, encarando inverno, pega trem, pega avião, entra e sai de hotel, falando inglês capenga, tendo que me virar sozinha, sem celular, desbravando cidade após cidade. Foi um ponto final na insegurança, na dependência, no medo. Uma nova história escrita com coragem, surpresas, alegrias, stress, autoafirmação. Voltei viva, melhor, mais safa, mais madura e com aquela perguntinha na orelha: por que não fiz isso antes? A resposta é a que dou sempre a quem me faz esse questionamento: porque tudo tem seu tempo.

Aprendi a dirigir porque comecei a dar aulas à noite, longe de casa, sacrificando o tempo do meu irmão que ia me buscar porque de ônibus mostrou-se inviável. Ponto final. Vou tirar a carteira de motorista e comprar o carro que der. Comprei o Podrinho e iniciei outro capítulo. Dirigindo um carro velho, à noite, chegando no trabalho com as pernas bambas e, de quebra, oferecendo carona aos colegas que padeciam do mesmo problema que eu padeci outrora. Xô medo, mais uma vez. Nunca me acidentei, aprendi a dirigir e agora desfruto da liberdade de ir e vir com o conforto do qual tanto gosto.

Doação de roupas e calçados e quetales, que faço sempre. Gosto de novidades, gosto de andar arrumada, adoro comprar. Aquela peça que eu adoro, mas não uso mais seja lá porque motivo for, vai embora. Ponto final. Um recomeço para outra pessoa que vai usufruir daquele sapato que nunca usei, porque quando comprei ainda usava salto alto e agora não uso mais. Aquela saia que tô sempre esperando uma oportunidade que nunca vem ou aquela calça que não passa mais nos quadris. Fim da jornada comigo, início da jornada com outra.

O Brógui que parou de beber quando deu vexame em festa de família ou aquele outro que só poderia ser quem é longe da família, ou aquele que comprou apartamento sem saber ao certo como iria pagar, ou aquele que saiu de casa com o filho debaixo do braço pra se livrar de um relacionamento abusivo, aquela segunda faculdade depois de anos fora do circuito, o que saiu do armário, o que emagreceu ou entrou pra academia, o que decidiu fazer aulas de canto ou mudar de setor no trabalho pra fazer uma tarefa que não tinha a menor ideia de por onde começar.

São tantas histórias minhas e mescladas às dos meus Bróguis – que no final, passam a ser as minhas referências também. Bróguis que se lançaram, em menor ou maior escala, em direção ao desconhecido. Bróguis que assumiram riscos, com todas as consequências e não se arrependem – ou como disse um deles – com arrependimentos que fizeram até rever o conceito de arrependimento. São histórias de sucesso porque mesmo dando errado, acabou dando certo sob outra perspectiva.

É isso aí. Ponto final para mim significa dar novo significado, tomar novo rumo, ter bravura pra encarar, dar um sacode na acomodação, tirar a bunda da sofá, ter resiliência pra não desistir, força pra aguentar a porrada, leveza pra não tornar a vida uma novela mexicana dublada e poder falar, olhando no espelho, com um sorrisão na cara, que eu sou phodda.

PS: comentários habilitados. 🙂

Ponto Final

In humor on 01/12/2022 at 10:04 PM

Querido Brógui,

Estava já deitada, curtindo uma frescurinha, quando me veio a ideia que precisei me levantar pra dividir com você.

È o seguinte: como um livro ou como um roteiro de filme, não é a nossa vida. A gente não escreve sozinho o texto e os personagens não agem de acordo com a nossa vontade. De todo modo, assim como em qualquer texto, nós, seus autores, podemos decidir quando colocar uma vírgula, quando trocar uma palavra e, o mais importante, quando colocar um ponto final.

Colocar um ponto final é uma parada difícil de fazer. Significa que aquela história acabou. É sofrido, mesmo que a história seja péssima. Acabou e tá na hora de inventar uma outra. É difícil, mas acho que é necessário ser feito vez por outra, definindo ou redefinindo caminhos e abrindo novas perspectivas.

Nem toda história na nossa vida precisa ter um ponto final, logicamente. As histórias felizes, como aquelas que vivemos com quem amamos, podem e devem permanecer sendo contadas. Uma viagem bacana, uma festa, aquele show, passam e acabam, mas não são ponto final, são apenas vírgulas e o fluxo da vida continua fluindo (fluxo fluindo ficou esquisito, mas eu gostei do impacto da aliteração).

Então:

Algumas histórias de nossas vidas merecem um ponto final porque simplesmente não estão mais divertidas, ou porque o desenrolar não está sendo conforme a gente gostaria que fosse e há sempre sempre sempre a opção de levantar da poltrona do cinema e ir embora. Ponto final.

No mais das vezes a gente levanta da poltrona mas ainda dá uma olhadinha para a tela pra ver se aguenta mais alguns minutos daquela tortura. Às vezes, a gente fica meio perdido no escuro do cinema tentando achar a porta de saída, mas acaba encontrando. Mas uma coisa é certa, depois que a gente toma a decisão de sair, não tem volta. E quando a gente pensa que pagou pra ver aquilo, dá vontade de gritar.

Ué! E se eu me arrepender de ter saído do cinema ou de ter jogado o livro nas profundezas da estante? E se eu me arrepender daquele ponto final e quiser apagar e colocar uma vírgula? Simples. Antes de tomar uma decisão como essa, pondere, converse consigo, com os astros, com os amigos, seu terapeuta, seu guia espiritual. Reflita, não se precipite. Se der merda, assuma as consequências e comece a pensar como dar mais um ponto final e iniciar tudo de novo mais uma vez.

O fato é que nossa vida está recheada de viradas. Cheia de momentos que marcam um fim e ao mesmo tempo um começo. Aquele pé na bunda que lhe empurra pra frente, aquela porta fechada na sua cara que lhe revela uma janela panorâmica. Ao menos, comigo funciona assim.

Quer um exemplo? Quando larguei o magistério depois de quinhentos anos e comecei a trabalhar numa parada completamente diferente em todos os sentidos. Como sensata que sou, só tirei o pé de um, quando coloquei o pé no outro, pq não tô aqui pra ficar sem aquela graninha certa no final do mês.

Tem gente que se separa, passa por momentos pica e, de repente se vê saindo num barzinho no começo da outra noite e amanhecendo dançando numa boate. Não é o máximo? Descobrir que há vida fora daquele casamento de cu, há vida fora do trabalho, há vida fora dos problemas cri-cri. Há vida além daquele mundinho que a gente pensava que era tudo o que existia pra se viver.

Momentos ponto final para mim são aqueles que falo: “que merda é essa que estou fazendo?” ou “se situa, Brógui!” ou a minha preferida atualmente que é “isso foi libertador.”

Vivi, nas últimas semanas, momentos assim. Coloquei uma série de pontos finais. Também comecei novas histórias.

Em um dos momentos libertadores, quebrei meus próprios paradigmas e vivi algo que deixou alguns dos Bróguis (que por acaso souberam) boquiabertos. Estupefatos. Sem palavras. Atitude que tomei que nem os mais cascudos deixaram de reagir com um: o que? não acredito que você fez isso! E aplausos, muitos aplausos porque viram o quanto eu arrisquei, fui corajosa e mandei bemzão.

Houve o momento iluminação/libertação. Aquele que, finalmente, esse Broguinho que vos fala, olhou para a cena e mandou o roteirista tomar no cu com toda a solenidade que merecia a ocasião. Aquele momento em que a minha miopia foi cirurgicamente corrigida e eu olhei e vi. E não gostei do que vi. Só que, ao invés de me martirizar ou procurar imputar ao outro a responsabilidade pela minha falta de visão, assumi a mancada e respirei aliviada. Peguei o script e taquei fogo.

Em um curto prazo, livrei-me de grilhões que me prendiam e não estavam mais me deixando feliz.

Era isso que eu queria contar pra você hoje, Querido. Que um ponto final pode ser libertador. Mesmo que você corra o risco de estar fazendo a maior cagada da sua vida, faça. Depois limpe.

E ponto final.

País do futebol

In humor on 24/11/2022 at 7:18 PM

Querido Brógui,

Clichê? Sim. Mas é a verdade.

Pra começar, aqui no Rio de Janeiro, parte do funcionalismo público não trabalhou ou trabalhou meio expediente. Os demais trabalhadores, ou foram liberados mais cedo, ou interromperam o expediente para retornar depois da partida. Fico pensando aqui quem dá o azar de precisar ir á emergência do hospital ou precisa desesperadamente comprar um pão na padaria ou abastecer o carro que está prestes a dar pane seca (como este Brógui que vos fala).

Eu aproveitei a folga para ir à rua fazer umas coisinhas pendentes, coisinhas que precisam ser feitas dias de semana e nos dias de semana estou no tronco. Quem trabalha em horário comercial tem que se virar para fazer o que só pode ser feito em horário comercial ou encarar a cara torta do chefe que acha que sua vida se resume às tarefas laborais – talvez porque sua vida se resuma a isso mesmo.

Com pouco mais de dois mil rodados, mas não querendo perder a garantia, me despenquei para a concessionária a fim de fazer a revisão no Fred. Chegando lá, fui alertada para o fato de que o expediente seria encerrado mais cedo e que, portanto, não teriam tempo para lavar o veículo e devolvê-lo brilhando como é de praxe, mas se eu fizesse questão voltasse outro dia. Ok. Em tempo recorde, trocaram óleo, filtros, lubrificaram e me esclareceram que a luzinha que acende no painel e que eu não tinha a menos ideia do que significava, era indicativo de que precisava calibrar os pneus.

No caminho para a próxima parada, encarei um baita de um engarrafamento. Era o horário que o povaréu estava se deslocando. Onze horas da manhã e os torcedores ensandecidos pra chegar em casa a tempo de assistir ao jogo – que começaria hoooooras depois. Buzinaço, cortadas, xingamentos.

Na ótica, também fui de pronto informada acerca do término antecipado do expediente. Fui muito bem atendida, mas suspeito que colocaram uma vassoura atrás da porta.

A caminho de casa, mais uma vez olhei para o painel do Fred e lembrei que tinha que parar num posto para alimentá-lo. Rezando para conseguir chegar, cheguei. Parei. Fui, mais uma vez, informada de que o expediente encerrava mais cedo e implorei ao frentista para encher o tanque, senão eu ia ter que empurrar o carro até em casa, aproximadamente 30 quilômetros, incluindo a serra.

Esses singelos fatos me levaram a elaborar a tese de que nada nada nada nem ninguém ninguém ninguém funciona antes, durante e depois de qualquer jogo da seleção. Como estudiosa que sou do comportamento humano, resolvi fazer uma pesquisa utilizando como grupo de controle alguns Bróguis selecionados criteriosamente.

Lancei uma simples pergunta dez minutos antes de começar o jogo. O resultado não me surpreendeu:100% dos entrevistados não respondeu. Simplesmente andaram para mim, comprovando minha tese de que já não estavam funcionais antes mesmo de o jogo começar e assim permaneceriam após o apito final.

E eu? Assisti? Sendo eu um ponto fora da curva, dormi e acordei minutos antes do primeiro gol, ou seja, não perdi nada.

Chegando

In humor on 16/11/2022 at 9:23 AM

Uma viagem. Curta, longa, pra longe, pra perto. Sozinho, acompanhado. Padrão glamour ou no modo mochileiro das galáxias. Com folga de grana ou com os trocados contadinhos. Tanto faz. Uma viagem é a maior viagem.

Serve pra desopilar o fígado, curar mal de amor não-correspondido e sorrir curtindo o gostinho do novo. Serve para aliviar a ansiedade que gera aquilo que temos que resolver e não conseguimos nem com vela acesa.

Serve para conhecer lugares, pessoas, respirar um ar diferente, mudar alguns hábitos e fugir da chata rotina normal. Exercitar a adaptação e a flexibilidade.

Presta pra fazer tudo de uma vez e voltar mais cansado do quando saiu, precisando de uns dias de folga pra se recuperar dos dias de folga. Ou presta pra não fazer nada. Absoluta e redondamente nada. Só fazer fotossíntese e olhe lá.

Estou aqui, Brógui, chegando de mais uma pequena grande viagem. Escrevendo e tentando abstrair que estou famélica e praticamente desidratada porque vou fazer uma endoscopia e não pode ter nada no estômago. Não tá funcionando muito, parece que o proibido dá mais vontade ainda de fazer.

Fiz de tudo um pouco e aproveitei cada minuto, desde a ida de ônibus – num rola o preço da passagem aérea tão curta que quando o avião atinge a velocidade de cruzeiro, tá na hora de preparar para a aterrissagem – até a volta, também de ônibus. Deixei tudo o que me incomoda e me deixa triste para trás, só dei uma fraquejada no último dia – fraquejada da qual me arrependo, mas valeu pra fortalecer.

Entre comidas gostosas, sorvetes quebrando a dieta, longas conversas com minha cunhada favorita, brincadeiras com a sobrinha de quatro patas e videogame com o sobrinho de duas patas, aprendendo sobre economia e política com meu irmão cabeçudo.

Praia no dia lindo, praia no dia nublado. Piscina pra fugir do vento da praia. Comecei a reler um livro que emprestei pro Bão e ele nunca leu e tomei de volta o livro que dei pra ele de presente e ele também nunca leu – só lê livros técnicos, o cabeção que faz duas pós ao mesmo tempo.

Caminhei e fiquei deitada e fiquei sentada olhando o mar. Pensei muito muito muito. E não pensei em nada, nada, nada.

Cheguei há pouco e fui recebida pelo porteiro dizendo que não havia luz – consequentemente, não havia água. É, o gênio que projetou o prédio não colocou caixa d’água. É direto da rua. sem luz, sem bomba, sem água. Pensando no banho que eu tanto precisava e queria tomar, subi os quatro andares com a mochila/container nas costas, recitando mantra todo-castigo-pra-corno-é-pouco. Quando chego à porta do Micro, fiat lux! 🙂 🙂 🙂

Alguns minutos pra recuperar o fôlego e pensar que eu bem poderia ter chegado cinco minutos depois, mais alguns minutos pra ligar todas as torneiras e deixar sair a água suja, tô aqui. Limpinha, levinha, contentinha, pronta pra encarar com galhardia os desafios que estão por vir.

Cheiro de peixe, peixinho é.

In humor on 05/11/2022 at 11:41 PM

Querido Brógui,

Não, eu não confundi o ditado. Criei um novo.

Depois de uma gastroenterite de proporções siderúrgicas, que me levou a nocaute por cinco dias, iniciei, forçadamente uma dieta.

Nota de rodapé sem ser no rodapé: gastroenterite é uma irritação e inflamação do tubo digestivo, incluindo o estômago e o intestino. O sujeito, no caso, A sujeita, sente dor abdominal, diarreia padrão preparo para fazer colonoscopia, vomita como aquela garota do filme “o Exorcista”, tem náuseas de mulher grávida, cólicas como se seu períneo fosse cair no chão. A sujeita sentiu ainda dores de cabeça fortíssimas, dor no corpo semelhantes ao que se sentiria se fosse atropelada por um rolo compressor e ficou com os quatro pneus arriados, jogada na cama como um molambo encardido.

Fui parar na emergência, atendida por uma médica fraldinha que deu uns quatrocentos e noventa e cinco bocejos na minha cara. Perguntei, ingenuamente, a causa da minha doença e ela disse que não sabia (????????), mas que poderia ser uma virose ou bactérias ou parasitas ou uma simples intoxicação alimentar. Ou seja, pode ter sido qualquer coisa ou nada.

Enfim…

O fato é que eu fiquei na merda. Literalmente.

Nota de rodapé sem ser rodape número 2: mamãe dizia que o que sustenta o corpo é a merda. Que não há nada que derrube tão rapidamente uma pessoa como uma boa dor de barriga.

Depois de passar 5 dias só bebendo água de coco, tomei coragem para comer. Peixinho grelhado e salada verde. Não sei exatamente há quanto tempo e por que isso aconteceu, tô meio sem noção. Só sei que foi assim. E, de lá pra cá, encontro-me ingerindo apenas frutos do mar com salada. No máximo uns legumes e umas frutinhas.

E sabe que tô gostando da parada? Nem consigo me ver comendo carne vermelha, nem outra coisa que não seja salada. Acho que meu corpo está rejeitando essas coisas mais punks, embora não tenha tentado comê-las pelo simples fato de que não tenho vontade mais.

Daí, feito este introito, chegamos ao objeto dessa minha cartinha pra você.

Fui ao Mercado São Pedro levando com minha comadre como consultora – é porque de peixe e coisinhas do mar, só entendo mesmo de comer. Estava a fim de comprar frutos do mar específicos para determinados pratos e acabei por encher o freezer de salmão, anchova (que o fulano escreveu no saco com x), dourado, tilápia, polvo e camarão.

Me empolguei e comprei tanta coisa que não conseguia carregar até o carro. Minha comadre, gentilmente, me deu um empurrão, tomou a sacola da minha mão, disse que ela estava ficando irritada porque eu não sabia ser pobre e carregar coisas pesadas. Humildemente, aceitei minha derrota e fui carregando as sacolinhas dela, que estavam bem mais leves.

Chegando ao carro, vi que o gelo que havia nas sacolas estava derretendo e que o minúsculo isopor que eu havia levado não ia dar conta de armazenar os aproximadamente oito quilos que eu havia comprado. Fiquei em pânico e comecei a choramingar porque Fred ia ficar todo melecado de água de peixe e fedendo a peixe e que o cheiro não ia sair nunca mais.

Comadre, mais uma vez, me deu um empurrão, mandou eu deixar de ser fresca e disse que existia uma coisa chamada desinfetante e que servia para desodorizar catingas em geral. Botei meu rabinho entre as pernas e deixei-a arrumar as sacolas fedidas e pingando fedor na mala do Fred.

Chegando em casa, a situação não podia estar pior. O carro estava com cheiro de barraca de peixe no final da feira. Um odor pungente que tratei de espalhar pela garagem do prédio, por que estava pingando aquele caldo fétido, elevador, corredor, até eu conseguir jogar aquela pestilência no tanque.

Fui tirando tudo dos saquinhos e arrumando em potes plásticos e derramando aquele gelo sanguinolento no ralo e pingando tudo no caminho até a geladeira.

Depois desci e fui limpar a mala do Fred. Taquei desinfetante, esfreguei, taquei mais, esfreguei mais e deixei os vidros semiabertos pra arejar o interior do carro de peixe.

Saldo do dia: feliz porque passei horas agradabilíssimas e divertidas com minha comadre, feliz porque comprei minha comidinha favorita no momento, feliz porque passei um dia sem pensar nas encrencas que tenho que resolver semana que vem.

Nota de rodapé no rodapé. Apesar de ter lavado tudo gastando 500 ml de desinfetante, o tanque fede a peixe, a sacola fede a peixe, o isopor fede a peixe, a cozinha fede a peixe, o freezer idem, minha barraca de praia (residente da mala do carro assim como dois pares de havaianas) fede a peixe. Minha mão fede a peixe e desconfio que minha alma também.

Contando derrota

In humor on 21/03/2022 at 3:07 PM

Querido Brógui,

Creio que devemos redefinir os períodos históricos. A.C. passa a significar antes do Covid e D.C. , depois do Covid. Pelo menos no que me diz respeito, parece que o tempo meio que estacionou e agora que estou mais ou menos tentando colocar umas coisinhas em dia. Entre elas, a árdua tarefa de sair do caritó.

Ano passado, andei investindo no namoro on line, que defendi outrora. Agora, tenho cá minhas dúvidas, principalmente depois que vi aquele filme candidato ao Oscar. De todo modo, foi bom pra caramba, me diverti bastante. O problema todo é que não tive coragem de sair do virtual para o real. Eu, hein! Me arriscar a pegar uma pereba mortal por causa de um inocente encontro? Então, meus namorados foram se perdendo por aí. Até sexta-feira.

Recebi uma mensagem me convidando para sair. Estava de bobeira, menos paranóica quanto a ir para a rua, o fulano me parecia divertido. Por que não? Bora curtir. Com toda a cautela necessária, perto de casa, lugar público, etc.

Me arrumei toda. Vesti aquele vestidinho que ainda estava com a etiqueta, arrumei os cabelos, maquiagem, duas gotinhas de Chanel, unhas, tudo no esquema.

Do outro lado da rua, quando vi o boteco xexelento que o fulano estava sentado, percebi que havia caído no conto do vigário. Quando o fulano se levantou e vi bermuda, chinelo e camiseta, quase passei direto, mas ele me viu. Inocentemente avisei que estava com uma bolsa rosa choque e fui avistada. Essa bendita educação que me foi dada não me permitiu dar um perdido.

Daí pra frente, foi ladeira abaixo. O cara já estava meio que ébrio. Eu pedi minha Coca-Cola Light. Ele perguntou se eu queria comer alguma coisa. Eu olhei para dentro do estabelecimento – sim, estávamos na calçada, um calor do caraio – e não tive coragem de comer nada do que saísse daquela cozinha que não deve receber uma visita da vigilância sanitária desde que o Barão de Drummond era vivo.

E por falar em calor… O glamour acabou em dois minutos e meio. O cabelo virou rabo de cavalo, a maquiagem foi pro saco e o vestidinho colou no meu corpinho. A Coca-Cola começou a ferver assim que caiu naquele copo encardido.

O fulano é conversador, mas até calado falava besteira. Ouvi alguns relatos interessantes de como perdeu um trabalho porque era numa fazenda que tinha alambiques e ele provou de todas as cachaças que havia e ficou bêbado, o quanto ele tomava de Rebite pra dirigir seu caminhão por trinta horas sem parar, que tinha ido ao casamento do primo de bermuda e chinelos. Nesse nível. Eu, atentamente, ouvia e tentava ver se alguma coisa passava na peneira. Não passou nada.

Como tudo sempre pode ser pior do que o pior dos meus pesadelos, ele é contra a vacina, apesar de pego Covid duas vezes (e não morreu, o desgraçado) e morar com a mãe idosa. Até tentei discutir o assunto mas deu preguiça depois que ele disse que teve cinco ataques cardíacos depois de tomar a primeira dose. Perguntei eu: não seria taquicardia? “Isso. É mesma coisa.”

Onde fui amarrar minha égua, pensei.

Nesse ínterim, vi um ratazana criada com toddynho passar galantemente pela calçada e o fulano comentou: Normal.

Agora, a cerejinha do bolo foi defender o Espírito Sem Luz, aquele cujo nome não se deve pronunciar, o Sete Peles. Rapidamente, saquei do celular e mandei uma mensagem pra minha comadre com a seguinte palavra: HELP. Ela ligou imediatamente e eu dei a desculpa de que precisava ir pra casa.

Tão cedo? Vai me deixar aqui sozinho? Depois a gente marca outra coisa.

Vamos sim, quando nevar no Rio de Janeiro.

INDIGNAÇÃO

In humor on 04/01/2022 at 8:45 PM

Querido Brógui,

Aqui é um lugar que uso para me divertir, contar coisas sobre mim de maneira engraçada, ainda que sejam coisas sérias. É assim que tento ver a vida. Procuro achar graça e rir de fratura exposta, como dizem por aí. Às vezes não dá e, neste caso, prefiro não escrever.

No entanto, hoje vou abrir uma exceção. Vou contar pra você o drama que estou vivendo, só para ver se paro de sentir o que estou sentindo: raiva. Sentir raiva não é legal, não faz bem, me faz sentir dores físicas (começando pela minha ATM, terminando pelas minhas têmporas, passando pelo meu trapézio).

Indignação foi o título que escolhi. Renomear o sentimento pode ser que funcione. Estou aqui pensando em você e tentando substituir a raiva pela indignação. Tô tentando aceitar a imbelicidade, o nonsense, o absurdo, o além da imaginação que é a máquina estatal. Não falo de burocracia, falo de burrocracia. Falo de emperramento, de excesso de exigências esquizofrênicas, de pessoas trabalhando sem ter a mínima ideia do que estão fazendo, seguindo um manual de instruções como uma bula de remédio, sem pensar, sem questionar. Ninguém para pra dizer: “Caraio! Eu não vou perder o meu tempo com uma coisa que já foi feita.”. Como assim? Vou explicar.

Tenho uma Licença Especial para gozar. LE, como é conhecida, é um direito garantido ao servidor público de, a cada cinco anos, fazer jus a três meses de licença remunerada. Nem todo servidor tem isso, mas no Rio de Janeiro ainda temos, embora os nobres membros do Poder Legislativo e Executivo (que não são servidores, diga-se de passagem), estejam trabalhando arduamente para acabar com este direito (você sabe, né? a culpa da falência do Estado do Rio de Janeiro é do servidor público, não tem nada a ver com roubalheira e má administração). Então, são 1.825 dias de serviço – porque são contados em dias.

Há algumas regras, obviamente. Não pode ter faltas sem abono, senão perde a contagem e começa do zero. Também não pode ter ficado de licença médica por mais de noventa dias (seguidos ou não). Os dias em que ficou afastado porque estava doente são descontados (afinal, você fez aquela cirurgia de emergência porque quis). Também zera o contador e começa tudo de novo. Não pode ter faltas por greve (por que será?).

Precisa ainda contar com o tal do nada a opor da sua chefia imediata. Se o fulano achar que você é indispensável ao bom andamento do serviço, ele coloca isto no processo e você fica com cara de bunda, se amaldiçoando por ser tão bom no que faz, pela sua competência. Tão amado, um profissional insubstituível. Você olha bem pra cara do seu chefe, sem palavras, e jura que, daqui pra frente, você vai ser um merda. Ele vai se arrepender de ter sido tão filho de uma ronca e fuça e um dia desejará com todas as forças vê-lo pelas costas. A propósito, já vi casos assim. Não é piada, o servidor que trabalha é punido por ser exemplar e o merda ganha de presente uma LE sem nem ter pedido.

Até aqui tudo bem? Tá acompanhando? Noves fora você concordar ou não com a lei, o fato é que ela existe. Então vamos aos fatos.

Tudo começou em 2016. Veja bem: falo de um processo iniciado há cinco anos. Papel pra lá, papel pra cá (os processos ainda eram físicos), junta documento, cai em exigência, você junta outro, fica meses parado em cima da mesa de alguém, ou embaixo (também já soube de casos assim. processos escorando o pé da mesa bamba).

Depois de dois anos, foi publicado no Diário Oficial a concessão da LE. Posso então gozar do meu direito adquirido? Não, sua idiota. Só quando você estiver para se aposentar. Lembra daquela regrinha da necessidade de serviço? Pois é. O martírio continua, até que, finalmente, chega o momento de pegar sua carta de alforria e ir pra praia dia de semana. Tempo de contribuição, ok. Idade, quase lá. Soma tudo, dá oitenta. É. Tem esta conta pra fazer.

Só que, como todo castigo pra corno é pouco, meu processo sumiu. Vou repetir: meu processo, aquele que demorou dois anos pra ficar no esquema, sumiu. Sumiu? É. Devia estar aqui, arquivado. Não consigo localizar.

Fudeu.

Lembrei, depois de muito choro e ranger de dentes, que nem tudo estava perdido. Afinal, a concessão da LE havia sido publicada. Direito adquirido, certo? É só pedir para marcarem a data, certo? Errado. Como o processo físico não foi encontrado e ele tem um número, EU NÃO POSSO FAZER ESTE PEDIDO.

É isso mesmo que você leu. A publicação no DO, com meu nome, minha matrícula, minha identidade funcional, não vale de porra nenhuma PORQUE O PROCESSO FOI EXTRAVIADO. O importante é a porra do número do processo, é aquela porra daquela papelada xexelenta que deve ter virado comida de gambá, ou ninho de gambá ou papel higiênico de gambá (é, soube que o meu local de trabalho foi tomado pelos gambás no ano de 2019). É isso! Encontramos os culpados pela extravio do processo. A porra do gambá.

Dito isto, concluo dizendo que tive que abrir novo processo, juntar toda a documentação de novo, cumprir todas as exigências de novo (é. o processo voltou por causa do mesmo documento que faltava e eu havia providenciado há três anos. inacreditável. não é que os descerebrados seguem direitinho o manual de instruções sem pular uma vírgula?). Estou vivendo um dejavu. Ou mais modernamente, um bug no sistema.

Mas, Brógui, por que você não argumentou, tentou convencer os gênios que era uma burrice siderúrgica fazer tudo de novo? Por que não esfregou o Diário Oficial na cara daquela gente? Por que não fez um escândalo? Chamou a polícia, denunciou os gambás do mal?

Eu tentei, Broguinho. Juro que eu tentei. Mas contra a estupidez não há argumento. Contra o manual de instruções não há argumento. Contra a má vontade, não há argumento. Fazer escãndalo? Pior. Aí é que os dragões da incompetência não vão fazer o que quero mesmo. Abrir inquérito para apurar a responsabilidade dos gambás não fará com que eu consiga minha LE.

Resta-me entubar.

E providenciar de novo o maldito documento, é claro.

PS: continuo com raiva

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