Querido Brógui,
Achei uma porquinha na minha sala. No chão da sala do Micro, que é meu pedaço do Paraíso aqui na Terra. Ele é a coisinha mais fofa do mundo, meio fashion, meu casinha de boneca, meio baguncinha de um lar. Meu Microcosmos. Do meu jeitinho, como sempre sonhei. Bem… estou divagando. Começarei de novo.
Achei uma porquinha na minha sala. Já era noitinha, tinha acabado de encerrar meu expediente. O tal do home office que todo mundo pensava antes que era a maior molezinha. Trabalhar em casa, não ter que enfrentar trânsito, não ter que acordar mais cedo para se arrumar. Ficar em casa com roupinha de ficar em casa, sem maquiagem, sem se preocupar se o cabelo está no bad day. Fomos enganados. Tem esta parte legal, mas tem aquela parte que ninguém nos contou que é fazer o trabalho para o qual somos pagos e ao mesmo tempo lavar, passar, cozinhar, fazer faxina, ver o que está faltando em casa, fazer as compras pela internet, etc, etc, etc. Temos hora pra entrar, mas não temos hora pra sair. Se houver uma demanda aos 45 do segundo tempo, temos que atender. De todo modo, no frigir dos ovos, eu estou gostando muito. É. Todas as coisas acabam se organizando, os horários e tudo o mais. A única coisa que não gosto é que perdi o ar-condicionado. No verão do Rio de Janeiro, chegar ao trabalho e vestir um casaco era tudibom. Enfim… estou divagando de novo. Começarei de novo.
Achei uma porquinha na minha sala. Tive que montar uma estação de trabalho, comprei uma mesinha, poltrona espadar alto, desktop, coloquei meus lápis numa latinha de Coca-Cola antiga, daquelas que ainda eram de lata mesmo. Ficou uma graça ainda que o espaço seja pequeno – não estava planejado montar um escritório no meio da sala – e consegui acomodar tudo em 90 cm. Nada como pouco espaço para otimizarmos a ocupação. Nenhum centímetro é desperdiçado. Tudo é milimétricamente arrumado. Eu, acostumada com casa grande, nunca dei importância a estes detalhes. Agora, sou a mulher da trena, não tenho lugar pra entulhar nada (a propósito, tenho que desocupar o box do banheiro social, que está servindo de armário para umas coisinhas). Lá em casa, temos um brechó. É de dar medo. Só em pensar em selecionar e arrumar e se desfazer de tanto troço, fico toda arrepiada. Putz… Divaguei de novo. Começarei mais uma vez. Agora vai.
Achei uma porquinha na minha sala. Não uma porquinha de verdade. Quero dizer, não uma porquinha viva. É uma porquinha daquelas que servem para enroscar um parafuso. Uma porquinha até bonitinha, pequena, sextavada, cutcut mesmo. Como ela veio parar no meio da sala? Caiu de algum lugar e neste lugar há um parafusinho solitário, desprotegido, solto ao léu, chorando pela sua porquinha perdida. Me corta o coração pensar no pobre parafusinho pensando no porquê de ter sido abandonado pela sua amada porquinha. O que ele fez de errado? Por que ela foi embora? Nós éramos tão perfeitos juntos, nos completávamos, nos ajustávamos, éramos tão próximos um do outro e de repente ela foi embora.
Parafusinho querido. Não fique triste assim. Você não fez nada de errado, não entre nessa onda de culpa e remorso, tá? Estou ajudando a sua porquinha a voltar pra você. Ela não o abandonou, caiu no chão sem querer. Pode ter sido um movimento brusco, uma folga no aperto, mas foi um acidente. Ela sente saudades também e está doida para vê-lo de novo. Desde ontem estou procurando por você para juntá-los novamente e tenho certeza de que vou encontrá-lo. Você não pode estar muito longe. Ela está bem, guardadinha aqui em cima da mesa. Um pouco nervosa, preocupada com você, mas já falei pra ela que tudo vai dar certo. O amor de vocês é lindo, a maneira como convivem harmonicamente, cada um fazendo seu papel, sem nunca terem entrado em conflito. Ajustados num abraço bem apertadinho. É a perfeição que todos os amantes procuram e poucos encontram. Vocês encontraram. Foram feitos um para o outro e nada vai mantê-los afastados por muito tempo. Prometo que vou encaixá-lo na sua amada porquinha em breve.
Confie. Tenha fé. Não perca a esperança.