Querido Brógui,
Algumas horas após dar o ponto final no post anterior, meus 17 Bróguis (lembram daquele colunista fictício da Casseta Popular?) retornaram com seus comentários. Foram comentários tão pertinentes que achei uma pena os outros 16 não poderem ler. É. Esqueci de habilitar os comentários aqui. Vou ver se lembro de fazer isso ao final deste.
Enfim… o ponto final que dei no post anterior acabou por ser a grande metáfora: um ponto final que deu início a outras reflexões, o que é exatamente o ponto G da questão.
O ponto final, sendo mais clara – fui acusada de utilizar metáforas obscuras -, é tanto uma conclusão quanto um ponto de recomeço.
Parei de tingir os cabelos. Há uns cinco anos, creio. Foi uma escolha libertadora. Livre de salão de 15 em 15 dias. Livre do chumbo que jogava pra dentro do meu corpo de 15 em 15 dias. Um ponto final que me levou a encarar dois ou três anos de cabelo medonho. Escuro, louro, vermelho, laranja, branco. A própria visão do inferno que aguentei com galhardia até o resultado final que é meu atual cabelinho grisalho lindo. Um ponto final que levou a um recomeço, sacou? Um novo Eu com o glamour dos fios brancos.
A primeira viagem sozinha, depois de passar anos querendo ir pra Europa, mas não tinha companhia – ou porque não calhavam as férias ou porque as companhias não tinhas bala na agulha pra ir. Fui. Peguei minha mala gigante e me mandei pra lá, encarando inverno, pega trem, pega avião, entra e sai de hotel, falando inglês capenga, tendo que me virar sozinha, sem celular, desbravando cidade após cidade. Foi um ponto final na insegurança, na dependência, no medo. Uma nova história escrita com coragem, surpresas, alegrias, stress, autoafirmação. Voltei viva, melhor, mais safa, mais madura e com aquela perguntinha na orelha: por que não fiz isso antes? A resposta é a que dou sempre a quem me faz esse questionamento: porque tudo tem seu tempo.
Aprendi a dirigir porque comecei a dar aulas à noite, longe de casa, sacrificando o tempo do meu irmão que ia me buscar porque de ônibus mostrou-se inviável. Ponto final. Vou tirar a carteira de motorista e comprar o carro que der. Comprei o Podrinho e iniciei outro capítulo. Dirigindo um carro velho, à noite, chegando no trabalho com as pernas bambas e, de quebra, oferecendo carona aos colegas que padeciam do mesmo problema que eu padeci outrora. Xô medo, mais uma vez. Nunca me acidentei, aprendi a dirigir e agora desfruto da liberdade de ir e vir com o conforto do qual tanto gosto.
Doação de roupas e calçados e quetales, que faço sempre. Gosto de novidades, gosto de andar arrumada, adoro comprar. Aquela peça que eu adoro, mas não uso mais seja lá porque motivo for, vai embora. Ponto final. Um recomeço para outra pessoa que vai usufruir daquele sapato que nunca usei, porque quando comprei ainda usava salto alto e agora não uso mais. Aquela saia que tô sempre esperando uma oportunidade que nunca vem ou aquela calça que não passa mais nos quadris. Fim da jornada comigo, início da jornada com outra.
O Brógui que parou de beber quando deu vexame em festa de família ou aquele outro que só poderia ser quem é longe da família, ou aquele que comprou apartamento sem saber ao certo como iria pagar, ou aquele que saiu de casa com o filho debaixo do braço pra se livrar de um relacionamento abusivo, aquela segunda faculdade depois de anos fora do circuito, o que saiu do armário, o que emagreceu ou entrou pra academia, o que decidiu fazer aulas de canto ou mudar de setor no trabalho pra fazer uma tarefa que não tinha a menor ideia de por onde começar.
São tantas histórias minhas e mescladas às dos meus Bróguis – que no final, passam a ser as minhas referências também. Bróguis que se lançaram, em menor ou maior escala, em direção ao desconhecido. Bróguis que assumiram riscos, com todas as consequências e não se arrependem – ou como disse um deles – com arrependimentos que fizeram até rever o conceito de arrependimento. São histórias de sucesso porque mesmo dando errado, acabou dando certo sob outra perspectiva.
É isso aí. Ponto final para mim significa dar novo significado, tomar novo rumo, ter bravura pra encarar, dar um sacode na acomodação, tirar a bunda da sofá, ter resiliência pra não desistir, força pra aguentar a porrada, leveza pra não tornar a vida uma novela mexicana dublada e poder falar, olhando no espelho, com um sorrisão na cara, que eu sou phodda.
PS: comentários habilitados. 🙂
“Começar de novo, só contar comigo
vai valer a pena já ter te esquecido…”
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Mais um texto maravilhoso!!!
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