Fatinha

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Usando o mouse com a mão esquerda

In Sem categoria on 26/08/2008 at 1:40 PM

Querido Brógui

Como qualquer pessoa que já ultrapassou a barreira dos trinta anos e ingressou de vez na fase da decrepitude, a cada dia que passa descubro que um pedaço de mim sente dor. É dor no joelho, é dor nas costas, é dor no ombro, dor no punho, é dor no dedo indicador da mão direita. Dedo indicador da mão direita? É. No dedo indicador da mão direita. Uma dor tão específica, que eu duvido que exista algum super mega ortopedista especialista com pós doutorado em Harvard que possa dar conta dela.
Antes que os engraçadinhos de plantão digam que a dor adveio de tanto eu tirar meleca, já vou advertindo que eu já detectei a origem da pereba: é o mouse do computador, essa máquina dos infernos que também acabou com meu ombro, meu punho e minhas costas. Não, o joelho sempre foi bichado, mesmo antes de Bill Gates nascer.
Para solucionar esse pequeno, mas extremamente incômodo problema, decidi começar a usar o mouse com a mão esquerda. Você já tentou isso? Tente.
Primeiro, a setinha fica descontrolada na tela. Ela não vai pro lugar que você quer. Nem que você urre e a ameace de morte. Acho que alguém com Parkinson seria mais ágil.
Depois, para ajudar o movimento a ficar mais coordenado, você se pega mexendo com a mão direita também. Você fica arrastando a mão vazia na mesa até ela ficar esfolada. Daí você percebe que o mouse não está lá, está na outra mão.
Depois, pra segurar a mão direita que insiste em se mover à revelia, você decide amarrá-la no braço da cadeira. Aí você percebe que precisa dela para digitar, a menos que queira também aprender a usar o teclado com a ponta do nariz.
Uma semana depois, você já consegue direcionar a setinha do mouse, a mão direita está mais ou menos sob controle, mas ainda se enrola com o clique dos botões. Ensinar pra mão esquerda o que é botão da direita e botão da esquerda é tarefa complexa. Indicador no botão da esquerda, dedo médio no botão da direita. Ou será o contrário? Por via das dúvidas, use apenas um dos dedos. Escolha o que lhe faz mais feliz.
Finalmente, após quinze longos dias, você consegue digitar um pequeno texto sem se contorcer como se tivesse tendo uma convulsão, fazer caretas, trincar os dentes e derrubar o teclado.
E o meu dedinho? Continua doendo.

Tô tentando

In Sem categoria on 25/08/2008 at 7:46 PM

Querido Brógui

Procuro sempre me inserir dentro do grupo, ainda que negue veementemente essa minha necessidade de aceitação. Sempre mantenho a maior pose de quem-quiser-que-me-aceite-do-jeito-que-sou. Maior caô. Tenho em mim tatuada ainda a lembrança da adolescente que fui, meio gordota, cabelinho mau-com-Deus, tímida e nada, nem um tiquinho de nada, popular.
Por conta desse trauma de adolescente, vem o esforço de ser mais ou menos como todo mundo. Seguir as modas, não soltar nenhuma pérola politicamente incorreta, misturar-me à população local, seja lá qual for a população local.
No entanto, de vez em quando não dá. Vez por outra recebo uns olhares fulminantes, daqueles que me fazer sentir qual o mosquitinho do cocô do cavalo do bandido. Pequeninha, ridícula, uma coisinha à toa.
Um desses momentos é quando confesso humildemente que não tenho Orkut. NÃO TEM ORKUT? Não, digo eu, me desculpando por ser tão insignificante. Tenho meus motivos para não participar do que todo mundo participa, mas todo mundo acha que todo mundo tem que fazer o que todo mundo faz.
Outros momentos mosquitinho são quando confesso que não sei nadar e que não tenho passaporte. COMO ASSIM? Desculpe, não posso viajar de barco para fora do país. Mas, embora não saiba voar, posso viajar de avião, desde que não ultrapasse a fronteira.
Também não bebo e nunca fumei maconha. COMO? Tudo bem eu sou uma chata careta. Em compensação, posso levar uma dura de qualquer PM na madrugada. Tá bem. Essa opção não é mais saudável que as drogas.
VOCÊ NÃO FUROU A FILA E AINDA DEVOLVEU O TROCO QUE A MOÇA DEU ERRADO? Desculpe, “mas não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver e não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal”.
NÃO TEM CÂMERA DIGITAL? Desculpe, não tinha nem daquela de filme…
OK, então eu confesso: sou uma marginal, mas tô tentando deixar de sê-lo. Comprei um pen drive essa semana, meu celular tem câmera que eu juro que ainda vou aprender como funciona, falo palavrão e como fritura.

Tempos de lei seca

In Sem categoria on 04/08/2008 at 7:41 PM

Querido Brógui,

Em tempos de lei seca, o melhor amigo do homem não é o cachorro, sou eu. Sabe que eu estou pensando seriamente em inaugurar um novo tipo de prestação de serviços que inclui buscar e depois entregar a domicílio, sãos e salvos aqueles que gostam de uma bebidinha? Não digo que vou começar a transportar bebuns, porque minha tolerância a bêbados é nenhuma, mas posso perfeitamente começar a transportar os apreciadores de álcool que sabem beber e sabem parar antes de ficarem insuportavelmente chatos. Vou ganhar um troco, posso até incluir no pacote que o bebedor pague algumas doses de Coca Light para mim. Grande idéia.

Trangressão total

In Sem categoria on 02/08/2008 at 8:10 PM

Querido Brógui

Transgressão total é ir à praia no meio da semana. E mais: ir à praia, tomar sol sem passar filtro solar, ler um livro que não tenha nada a ver com Direito, tomar Coca-Cola normal, biscoito Globo e entrar na água fria apenas para fazer xixi.

Crise de abstinência

In Sem categoria on 02/08/2008 at 7:30 PM

Querido Brógui

Dez dias de abstinência. É muito tempo, muita privação.
No primeiro dia, o impulso de fazer uso. Coisa mecânica. Usa porque está lá, a mão e, já que está ali mesmo, dando sopa, porque não?
A partir do segundo dia, já caiu a ficha de que não vai ser possível contar com aquela companhia fiel, muleta total, fonte de prazer. Começa a dar saudades.
Depois, o inevitável: você percebe que rola uma relação de dependência. Você acreditava estar no controle da situação, mas não estava. Você é mero joguete nas mãos do hábito. Daí vem a sudorese, a insônia, os tremores nas mãos.
E aí, Querido Brógui? Ficou tenso? Tá nervoso achando que eu sou uma drogadita em fase de reabilitação e que você, logo você, nunca percebeu? Tá quase pegando o telefone pra me ligar e dar uma força? Já sei: vai mandar uma oração e uma receitinha infalível para aliviar o bode?
Relax, Brógui, relax. Eu estou me referindo aos dez dias em que meu computador ficou no estaleiro. Nada grave, a não ser a constatação de que tenho mais vícios (ops! Agora o politicamente correto é falar “hábitos”) do que supunha. E você?