Fatinha

Cheiro de peixe, peixinho é.

In humor on 05/11/2022 at 11:41 PM

Querido Brógui,

Não, eu não confundi o ditado. Criei um novo.

Depois de uma gastroenterite de proporções siderúrgicas, que me levou a nocaute por cinco dias, iniciei, forçadamente uma dieta.

Nota de rodapé sem ser no rodapé: gastroenterite é uma irritação e inflamação do tubo digestivo, incluindo o estômago e o intestino. O sujeito, no caso, A sujeita, sente dor abdominal, diarreia padrão preparo para fazer colonoscopia, vomita como aquela garota do filme “o Exorcista”, tem náuseas de mulher grávida, cólicas como se seu períneo fosse cair no chão. A sujeita sentiu ainda dores de cabeça fortíssimas, dor no corpo semelhantes ao que se sentiria se fosse atropelada por um rolo compressor e ficou com os quatro pneus arriados, jogada na cama como um molambo encardido.

Fui parar na emergência, atendida por uma médica fraldinha que deu uns quatrocentos e noventa e cinco bocejos na minha cara. Perguntei, ingenuamente, a causa da minha doença e ela disse que não sabia (????????), mas que poderia ser uma virose ou bactérias ou parasitas ou uma simples intoxicação alimentar. Ou seja, pode ter sido qualquer coisa ou nada.

Enfim…

O fato é que eu fiquei na merda. Literalmente.

Nota de rodapé sem ser rodape número 2: mamãe dizia que o que sustenta o corpo é a merda. Que não há nada que derrube tão rapidamente uma pessoa como uma boa dor de barriga.

Depois de passar 5 dias só bebendo água de coco, tomei coragem para comer. Peixinho grelhado e salada verde. Não sei exatamente há quanto tempo e por que isso aconteceu, tô meio sem noção. Só sei que foi assim. E, de lá pra cá, encontro-me ingerindo apenas frutos do mar com salada. No máximo uns legumes e umas frutinhas.

E sabe que tô gostando da parada? Nem consigo me ver comendo carne vermelha, nem outra coisa que não seja salada. Acho que meu corpo está rejeitando essas coisas mais punks, embora não tenha tentado comê-las pelo simples fato de que não tenho vontade mais.

Daí, feito este introito, chegamos ao objeto dessa minha cartinha pra você.

Fui ao Mercado São Pedro levando com minha comadre como consultora – é porque de peixe e coisinhas do mar, só entendo mesmo de comer. Estava a fim de comprar frutos do mar específicos para determinados pratos e acabei por encher o freezer de salmão, anchova (que o fulano escreveu no saco com x), dourado, tilápia, polvo e camarão.

Me empolguei e comprei tanta coisa que não conseguia carregar até o carro. Minha comadre, gentilmente, me deu um empurrão, tomou a sacola da minha mão, disse que ela estava ficando irritada porque eu não sabia ser pobre e carregar coisas pesadas. Humildemente, aceitei minha derrota e fui carregando as sacolinhas dela, que estavam bem mais leves.

Chegando ao carro, vi que o gelo que havia nas sacolas estava derretendo e que o minúsculo isopor que eu havia levado não ia dar conta de armazenar os aproximadamente oito quilos que eu havia comprado. Fiquei em pânico e comecei a choramingar porque Fred ia ficar todo melecado de água de peixe e fedendo a peixe e que o cheiro não ia sair nunca mais.

Comadre, mais uma vez, me deu um empurrão, mandou eu deixar de ser fresca e disse que existia uma coisa chamada desinfetante e que servia para desodorizar catingas em geral. Botei meu rabinho entre as pernas e deixei-a arrumar as sacolas fedidas e pingando fedor na mala do Fred.

Chegando em casa, a situação não podia estar pior. O carro estava com cheiro de barraca de peixe no final da feira. Um odor pungente que tratei de espalhar pela garagem do prédio, por que estava pingando aquele caldo fétido, elevador, corredor, até eu conseguir jogar aquela pestilência no tanque.

Fui tirando tudo dos saquinhos e arrumando em potes plásticos e derramando aquele gelo sanguinolento no ralo e pingando tudo no caminho até a geladeira.

Depois desci e fui limpar a mala do Fred. Taquei desinfetante, esfreguei, taquei mais, esfreguei mais e deixei os vidros semiabertos pra arejar o interior do carro de peixe.

Saldo do dia: feliz porque passei horas agradabilíssimas e divertidas com minha comadre, feliz porque comprei minha comidinha favorita no momento, feliz porque passei um dia sem pensar nas encrencas que tenho que resolver semana que vem.

Nota de rodapé no rodapé. Apesar de ter lavado tudo gastando 500 ml de desinfetante, o tanque fede a peixe, a sacola fede a peixe, o isopor fede a peixe, a cozinha fede a peixe, o freezer idem, minha barraca de praia (residente da mala do carro assim como dois pares de havaianas) fede a peixe. Minha mão fede a peixe e desconfio que minha alma também.


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  1. (⁠+⁠_⁠+⁠)
    E aí?
    Pois eh…Eu nunca fui nesse mercado dar um derrame gastronômico. Tua chará me cobra até hoje dar umas bandas por lá. Quanto ao cheiro não tem jeito. Guarda na alma mesmo e dentro do carro esse cheirinho Baum durante um tempo.
    Bjos.

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  2. Que leitura gostosa. Tão saborosa quanto peixe grelhado com salada verde.

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  3. Oi amiga!
    Bom ter notícias suas! Feliz por saber que está bem e feliz por saber da sua aventura com sua comadre. Agora em relação ao cheiro de peixe ihhhhhh kkkk.
    Beijo grande saudades

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