Querido Brógui
Quero dividir com você a surpresa que tive ao ver que pode haver sensibilidade dentro dos livros de Direito. O assunto é o homicídio passional e transcrevo abaixo dois trechos sensacionais.
O primeiro deles é de Nelson Hungria, que é capaz de falar sobre o amor tecendo comentários sobre homicídio!!! Coisa de gênio!!!
“Em tese significa homicídio por amor, ou seja, a paixão amorosa induzindo o agente a eliminar a vida da pessoa amada. Totalmente inadequado o emprego do termo “amor” ao sentimento que anima o criminoso passional, que não age por motivos elevados nem é propulsionado ao crime pelo amor, mas por sentimentos baixos e selvagens, tais como o ódio atroz, o sádico sentimento de posse, o egoísmo desesperado, o espírito vil de vingança. E esse caráter do crime passional vê-se mais nitidamente no modo de execução, que é sempre odioso e repugnante. O passionalismo que vai ate o homicídio nada tem a ver com o amor.”
Agora, Magalhães Noronha, sobre o mesmo tema, dissecando o caráter do homicida que supostamente matou por amor.
“A verdade é que, via de regra, esses assassinos são péssimos indivíduos: maus esposos e piores pais. Vivem a sua vida sem a menor preocupação para com aqueles que deviam zelar, descuram de tudo, e um dia, quando descobrem que a sua companheira cedeu ao outrem, arvoram-se em juízes e executores. A verdade é que não os impele qualquer sentimento elevado ou nobre. Não. É o despeito de se ver preterido por outro. É o medo do ridículo – eis a verdadeira mola do crime.”
Seria muito bom que os doutrinadores mais modernos aprendessem com os mais antigos para que um dia conseguissem discorrer tão lindamente e tão simplesmente sobre assuntos áridos ao invés de tentar demonstrar saber através de hermetismos jurídicos enfadonhos e pretensiosos.