Fatinha

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Homicídio passional

In Sem categoria on 17/01/2008 at 9:02 PM

Querido Brógui

Quero dividir com você a surpresa que tive ao ver que pode haver sensibilidade dentro dos livros de Direito. O assunto é o homicídio passional e transcrevo abaixo dois trechos sensacionais.

O primeiro deles é de Nelson Hungria, que é capaz de falar sobre o amor tecendo comentários sobre homicídio!!! Coisa de gênio!!!

“Em tese significa homicídio por amor, ou seja, a paixão amorosa induzindo o agente a eliminar a vida da pessoa amada. Totalmente inadequado o emprego do termo “amor” ao sentimento que anima o criminoso passional, que não age por motivos elevados nem é propulsionado ao crime pelo amor, mas por sentimentos baixos e selvagens, tais como o ódio atroz, o sádico sentimento de posse, o egoísmo desesperado, o espírito vil de vingança. E esse caráter do crime passional vê-se mais nitidamente no modo de execução, que é sempre odioso e repugnante. O passionalismo que vai ate o homicídio nada tem a ver com o amor.”

Agora, Magalhães Noronha, sobre o mesmo tema, dissecando o caráter do homicida que supostamente matou por amor.

“A verdade é que, via de regra, esses assassinos são péssimos indivíduos: maus esposos e piores pais. Vivem a sua vida sem a menor preocupação para com aqueles que deviam zelar, descuram de tudo, e um dia, quando descobrem que a sua companheira cedeu ao outrem, arvoram-se em juízes e executores. A verdade é que não os impele qualquer sentimento elevado ou nobre. Não. É o despeito de se ver preterido por outro. É o medo do ridículo – eis a verdadeira mola do crime.”

Seria muito bom que os doutrinadores mais modernos aprendessem com os mais antigos para que um dia conseguissem discorrer tão lindamente e tão simplesmente sobre assuntos áridos ao invés de tentar demonstrar saber através de hermetismos jurídicos enfadonhos e pretensiosos.

Sem feriados?

In Sem categoria on 17/01/2008 at 8:27 PM

Querido Brógui

Ok, vou assumir: estou ar-ra-sa-da com o que foi noticiado nos jornais: esse ano teremos um maior número de dias úteis. Os feriados cairão nos finais de semana, não haverá enforcamentos, o carnaval é logo no início do mês de fevereiro que ainda por cima tem 29 dias!

Vagabunda, eu? Não gosto de trabalhar? Atire a primeira pedra quem gostou da notícia. Confesse: vc não olha o calendário no início do mês pra ver quando vai ter uma folguinha a mais? Não sonha dia e noite com os feriados prolongados? Não conta nos dedinhos quantos dias falta para o próximo? MENTIROSO!!!!

Tá certo. Como professora de História, sei que essa coisa de feriados associados a shows gratuitos nas praias e almoço de um real nada mais é do que a atualização da velha política do pão e circo que os imperadores romanos já haviam inventado antes de Cristo nascer. A idéia é genial: comida e diversão pra evitar qualquer tipo de comoção social. Povinho feliz, carnaval, bolsa família, praia, feriadão com as crianças e a patroa comendo churrasquinho de gato na laje e tomando banho de mangueira, futebol, cervejinha gelada. Pra que mais?

É genial. Tão genial quanto funcional, por isso perdura até hoje e, “curiosamente”, é sucesso de público e crítica no nosso pobre país pobre. É coisa pra se pensar, não é? A gente é pobre porque tem feriados demais ou a gente tem feriados demais porque é pobre? Qual é o segredo de Tostines?

E aí vem esse bendito desse bissexto ano de 2008 pra bagunçar o coreto, estragar toda a lógica romana nos privando do ócio eventual do meio da semana.

Mas, tenho fé em que até o final do semestre, quando a panela de pressão na qual irá se transformar esse país começar a apitar, o nosso eficiente Congresso Nacional já terá votado em regime de urgência urgentíssima alguma lei que conseguirá subverter o calendário solar e nos devolver os preciosos feriados. Com o apoio do povão, com o respaldo de nossos brilhantes juristas, com as bênçãos de Baco.

Tudo como dantes

In Sem categoria on 03/01/2008 at 4:39 PM

Querido Brógui

OK, o arroz da Ala virou carvão, a coca-cola explodiu dentro do congelador e eu estou com dor na palma da mão porque inventei de varrer o quintal.

Fora isso, continuo sendo uma excelente dona de casa.

Receita de Ano Novo

In Sem categoria on 01/01/2008 at 10:20 PM

Querido Brógui,

Um Drumond para você:

Receita de Ano Novo

Carlos Drumond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ver,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra
birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta ou recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre