Fatinha

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E por falar em Natal

In Sem categoria on 26/12/2007 at 5:12 PM

Querido Brógui

E por falar em Natal, quem aqui nunca recebeu um presente nada a ver?

Começando pelo nefasto amigo oculto, uma solução boa pra economizar uma grana, mas sempre causa de profundas decepções. Há muito tempo que eu não participo de um, mas sempre acontecia a mesma coisa: eu me esmerava em comprar uma coisa maneira e recebia um treco que eu jamais em sã consciência teria coragem de dar de presente nem se fosse para meu inimigo oculto.

As situações mais embaraçosas são aquelas em que a pessoa toda sorridente diz pra você que o presente é a sua cara. Quando ouço isso tremo nas bases, porque lá vem bomba (eu tenho cara de bomba?). Como minha santa mãezinha me domesticou muito bem, eu agradeço, disfarço a decepção e penso: “Que que eu faço com isso?”

Eu mesma já devo ter dado presentes assim. Munida da mais singela intenção de fazer o outro feliz e acabando por dar um tiro na água.

Já sei. Você deve estar procurando no seu disco rígido quais foram os presentes dados a mim e tentando adivinhar se eu gostei ou não. Pode parar de se torturar porque você nunca vai saber mesmo. E também nem pense em parar de me dar presentes por causa disso, porque aí eu vou ser obrigada a escrever um diário-denúncia dedurando você.

Em retribuição ao carinho, mesmo não gostando da coisa, procuro usa-la, em homenagem à pessoa que me presenteou. Sim, Querido Diário, minha crueldade tem limites. Não é assim que funciona? O outro me faz feliz dando e eu tento fazê-lo feliz usando. Quando não dá mesmo pra salvar o presente – há casos irremediáveis como roupa pequena, ou uma bijouteria que vai deixar minha pele em carne viva – há solução. Vou trocar, passo adiante – nem adianta fazer cara feia porque duvido que você nunca tenha feito isso – ou simplesmente meto no fundo do armário e pronto.

Temos aqui em casa a nossa secretária do lar – nome politicamente correto para empregada doméstica – que todo Natal traz um presentinho para nós. Ficamos sempre comovidos porque sabemos o quanto o dinheirinho dela é curto, inversamente proporcional ao prazer que ela sente em nos presentear. Quando ela vem toda contente com o embrulhinho na mão, entramos em pânico porque a cada ano ela se supera trazendo objetos de decoração pavorosos.

Um ano ganhamos um porta-papel higiênico. Sabe aquele que a gente pendura os rolinhos na parede? Tem coisa mais cafoninha? Na minha escala de valores, está no mesmo nível da roupinha para bujão de gás ou o pano de prato calendário – aqui em casa não usamos gás de bujão, graças a Deus.

No ano seguinte foi um vasinho de flores artificiais cor de rosa com areia colorida também cor de rosa. De chorar. O problema das flores artificiais é que além de serem horrorosas não morrem nunca. Não secam, não apodrecem. Só ficam ali se enchendo de poeira e desafiando meu senso estético. E tem mais: tudo quebra, menos o tal do vasinho.

Esse ano, veio a pérola. Umas flores amarelas – artificiais também – submersas em um aquário, com os dizeres: “Jesus o segredo da paz”. Tem noção?

PAUSA PRA EU RIR, TÔ ME CONTORCENDO, O TROÇO É MUITO FEIO…

O pior é que não dá pra defenestrar as coisas. Ela vai dar falta e ficar magoada. Solução: deixar os enfeites enfeiando o ambiente e ela sorrindo. Muito justo.

Mas, vou confessar a você que eu e minha santa mãezinha já arquitetamos o plano maligno de deixar esses objetos ao alcance do João Pedro. Se ele quebrou o galo do Presépio que armamos aqui em casa desde que eu me entendo por gente, tenho certeza de que não vai falhar nessa nobre missão que vamos a ele confiar.

Sobre 2008

In Sem categoria on 21/12/2007 at 11:44 PM

Querido Brógui

2008 é ano bissexto, isso quer dizer que você vai trabalhar um dia a mais na sua vida. Sem ganhar hora extra. Isso ocorre de quatro em quatro anos pra acertar os ponteiros do tempo, mas na verdade é uma grande cilada cósmica pra que trabalhemos mais.
Quem nunca consegue festejar o seu aniversário porque cai no dia 29 de fevereiro, esse é o ano pra tirar o atraso. Mas exija quatro presentes, quatro cartões de parabéns, quatro abraços… e não esqueça de encomendar quatro tortas para as quatro festas.
Muita gente diz que o ano bissexto traz energia ruim. Não creio, mas, pelo sim pelo não, convém se prevenir contra o mau olhado. O olho do mal pode causar um monte de problemas físicos como impotência sexual, queda de cabelo, dor de cabeça, indisposições intestinais, desânimo, fadiga. No plano astral, drena o prana, que é a energia vital. Resumindo, o olho gordo é poderoso e nesse ano de 2008 vai estar a todo vapor golpeando a sua aura. Para prevenir coloque um ovo cru embaixo do travesseiro. Não sei como você vai dormir com um ovo cru embaixo do travesseiro, mas isso é problema seu. Pergunte pra algum mexicano, foram eles que inventaram essa simpatia. Também é bom costurar um espelho nas suas roupas, que é pra o olho do mal bater e voltar, essa é uma dica indiana. Usar uma figa também é uma boa. Pra arrematar, plante um canteirinho com arruda, comigo-ninguém-pode, pimenta, alecrim, manjericão, espada-de-são-jorge e abre-caminho. É tiro e queda.
2008 é ano regido por Marte, planetinha safado, cheio de vulcões, com uma atmosfera horrorosa, um pedregulho orbitando no sistema solar. Mas não o menospreze, ele é poderoso. Foi assim batizado em homenagem ao deus romano da guerra. Conhecido como o “planeta vermelho”, é bom tomar cuidado com suas influências. Ele instiga a belicosidade nas pessoas. Se você é um pacato cidadão e se vir de repente metido em uma briga no banco por causa do lugar na fila, se subitamente sentir uma vontade irresistível em dar um chute no seu cachorro ou mandar seu chefe pros quintos dos infernos, não se espante: é Marte. Aliás, quando você estiver descompensado, bote a culpa em Marte. O único problema vai ser se o deus do Olimpo resolver ir à forra.
A cor do ano é o vermelho. Culpa de Marte, mais uma vez. É bom usar porque ativa os chacras de energia vital, mas use com cuidado, pra não dar revertério astral ou fashion. Nada de sair de vermelho dos pés à cabeça, como um comunista démodé. O vermelho também ativa energias como a raiva, as paixões e a rudeza. Libera adrenalina demais da conta. Abra o olho pra não pagar paixão por aquela pessoa que nem sabe que você nasceu e com isso entrar numas de partir pras vias de fato, pagar micos indescritíveis e se comportar como um Neandertal. Vê se dá uma compensada com o azul.
2008 será o ano do rato no horóscopo chinês, o que quer dizer que será um ano de abundância, excelente para os negócios, mas nada de sair por aí gastando por conta. Não vá contando com os ovos no fiofó da galinha. Lembre-se de que esse ano também é o ano do mau olhado, de Marte e isso tudo acaba fazendo um samba do crioulo doido no plano astral. Não vamos brincar com essas coisas. O quente do ano é aprender a tocar flauta – não me pergunte por que, vai perguntar pra algum chinês – comer muito arroz, usar prata, aproveitar bem o inverno e olhar sempre para o norte – menos quando estiver dirigindo ou atravessando a rua, por favor. A bebida indicada é a cerveja – deve ter um jabá da Ambev rolando aí no cosmos. Se você sempre teve vontade de escrever um livro, essa é a hora. Mire-se em Shakespeare, ele nasceu em um ano do rato.
Em 2008, quem vai estar bem na fita é o anjo Gabriel, aquele que anunciou a vinda do Menino Jesus. Como ele é mensageiro da palavra de Deus, mantenha seus ouvidos bem abertos e limpinhos pra não deixar escapar nada. Não esqueça de São Jorge. O ano também é dele e nada como um santo guerreiro em um ano governado por tantas energias belicosas.
Depois de tantas informações importantes, só lhe resta aproveitar bem o ano que vem. Combinado?

Vale peru

In Sem categoria on 21/12/2007 at 8:53 AM

Querido Brógui

O prefeito maluquinho decidiu oferecer aos seus funcionários este ano um vale-peru. Em época de vale-tudo (bolsa família, bolsa escola, vale transporte, caixinha de Natal, cesta básica), nada como esse pequeno regalo para que os funcionários agradeçam comovidos o presente dado pelo nosso alcaide.

Então, é assim que funciona: ao invés de um salário digno, recebemos um afago, semelhante àquele dado ao nosso cão para ele parar de latir, afago esse pago com nosso próprio dinheiro. Daí todo mundo fica feliz, é Natal, Papai Noel chegou com seu presente. São setenta reais pra você gastar à vontade em supermercados previamente selecionados pela prefeitura – seleção feita na maior lisura, sem jabá algum. Esqueçamos a aprovação automática que nos empurraram goela abaixo, esqueçamos o nosso piso salarial pra lá de pobrinho, esqueçamos que a educação está indo pro beleléu e vamos comer peru com farofa “patrocinado” pelo município do Rio de Janeiro.

Esqueci de dizer algo muito importante: eu ainda não recebi meu vale-peru. Sei que ele existe porque Luzinha recebeu o dela e me mostrou. É fofo. Um cartãozinho magnético com senha e tudo, com a carinha de Papai-Noel desenhada. Como o recesso inicia hoje e acho que só retornaremos depois do carnaval, suponho que meu vale-peru se transformará num vale-ressaca. Tá tudo certo.

O energúmeno

In Sem categoria on 19/12/2007 at 8:57 PM

Querido Brógui

Voltando da Cidade, preparo físico ruim, doida pra chegar em casa e esticar minhas cansadas canelas, toco o sinal para o ônibus parar. O motorista passa direto. Quando percebo o que está acontecendo, grito com aquela doce voz, padrão Clementina de Jesus: “Ei! Não vai parar não?”. O motorista não se digna a me responder e continua acelerando o veículo. Passa o primeiro quarteirão. Engrosso a voz, adoto aquele tom peculiar de professora dando esporro em aluno: “Ei! O ponto já passou!”. O motorista, ainda acelerando, responde: “O ponto não é aí não, minha tia!”
Doeu. Mais do que ter que andar muitos metros excedentes, ser chamada de “minha tia”, foi como tomar um soco na minha recente cicatriz. Ainda tive forças para retrucar: “O ponto é lá em frente ao banco, seu energúmeno!”.
“O que?”
“Vai procurar no dicionário, sua anta!”.
Desci meio que vingada. Duvido que ele tenha um dicionário em casa. Vai carregar essa dúvida pro resto da vida.

O que é um ex blog?

In Sem categoria on 11/12/2007 at 4:07 PM

Querido Brógui

É público e notório que o Prefeito Maluquinho, aquele que governa a cidade pela tela de um computador, se amarra em causar frisson. De uns tempos pra cá, tenho lido no jornal que César Maia, em seu ex-blog, disse isso, que falou mal de fulano de tal. Hoje disseram que tinha uma foto de um monte de defuntos abatidos pela polícia no tal do ex-blog. 

A pergunta que não quer calar é: "QUE DIABO É UM EX-BLOG?????" Sou muito burrinha, muito simplória para compreender isso. Era um blog e não é mais ou o blog continua sendo blog mas não é mais dele? E se não é mais dele, por que ele continua escrevendo lá? E se não é mais blog, é o que?

Aguardo orientações.

O último adeus

In Sem categoria on 11/12/2007 at 3:05 PM

Querido Brógui,

Nada como voltar à vida para eu recomeçar a falar besteira.
Vou começar pela mais recente, que é a morte da minha caixinha de som. Tô arrasada! Minha caixinha, contando apenas sete anos de uso, foi ao chão. Não, não foi de propósito não. Foi um acidente. Não costumo dirigir minha ira a coisas, prefiro fazê-lo contra os seres humanos, pelo menos eles podem se defender. Ela escorregou de seu pedestal quando eu tentava alcançar o telefone, que também foi ao chão. Esse último sobreviveu. Mais jovem, mais resistente…
Foi praga daquele Um, que cismou que eu tenho que comprar uma mais moderna, mais potente, mais isso e mais aquilo, inclusive mais cara. O cara adora gastar o meu dinheiro, ainda bem que não pede pra comprar nada pra ele, senão eu estava lascada.
Com muita dor no coração e no abdômen, me espremi entre a escrivaninha e a parede para pegar a pobre da caixinha, que jazia morta, de bandinha, fazendo um ruído esquisito (acho que caixas de som têm um jeito todo especial de dar o último suspiro). Fiz o resgate, mas ela não sobreviveu à queda. Seu botãozinho de liga e desliga ficou torto, qual um olho saltando da órbita e quando dei uma sacudida nela, percebi que algo havia quebrado. Danos internos, disse-me Bão.
Fui chorar no ombro do Carlo, que disse, todo sensível: “Joga essa merda fora!”, engrossando o coro do rogador de praga.
Ainda não comprei outra, vou ficar um tempo em silêncio, prestando minha última homenagem à minha companheira de tantos anos, a única parte do meu computador ainda não trocada por uma mais moderna.
É. A vida é assim mesmo: cheia de despedidas, cheia de saudades, cheia de sentimentos tolos por objetos inanimados.