Fatinha

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Fúria Legiferante

In Sem categoria on 24/06/2008 at 12:50 PM

Querido Brógui,

Para os pobres e sofridos estudantes de Direito, bem como para os nada pobres mas igualmente sofridos Juízes, Promotores, Defensores Públicos, nada pior do que a “fúria legiferante” do nosso Poder Legislativo. Quando eu penso que tenho mais ou menos uma leve noção do universo legal, tenho notícia de que mais uma lei foi publicada, seja inovando, seja reformando, seja remendando essa enorme colcha de retalhos que é o nosso ordenamento jurídico. Exemplo recente disso são as modificações no Código de Processo Penal, que confesso ainda não ter tido coragem de me debruçar sobre.
Para estar relativamente atualizada, recebo pela internet um informativo do site do Planalto, contendo as últimas publicações. Deixo juntar uma semana e tiro uma manhã pra executar essa difícil tarefa que é me manter a par do que anda fazendo nosso Congresso. Verdade seja dita: os caras trabalham muito. É tanta coisa que chega dar vontade de chorar.
Hoje, depois de ver que o CPP foi mais uma vez bolinado, saltou aos meus olhos uma lei absurda. Antes de comentá-la, vou fazer uma leve digressão acerca desses remendos nos códigos, em especial no CPP.
Quem sou eu para me meter a criticar a sistemática de um código… Mas, tomo para mim as palavras de meus professores, esses sim, estudiosos com cabedal para falar daquilo que entendem. Um deles diz sempre que o CPP é ininteligível (no que eu concordo), anacrônico (no que eu concordo), assistemático (no que eu concordo) e ineficiente (no que eu concordo).
O Código de Processo Penal é de 1941, da época que ainda havia o Decreto-lei. De lá pra cá, sofreu inúmeras alterações para meio que se adaptar às exigências mais modernas. Meu professor disse que o projeto de lei para promulgar um novo código está engavetado há mais de quinze anos!!! Ou seja, esse projeto já está igualmente ultrapassado e mais ainda, reza a lenda que já existe uma comissão para fazer sua reforma!!! Vamos esperar mais uns quinze anos, para ver se a reforma de reforma sai.
Podemos então concluir que, nesse nosso amado e idolatrado país, salve, salve, é mais fácil mudar a Constituição do que mudar uma lei ordinária, o que é uma distorção absurda considerando o Direito Comparado. As Emendas Constitucionais são sempre votadas em regime de urgência urgentíssima (cá pra nós, só em terras brasileiras existe algo urgente urgentíssimo) e enquanto isso coisas urgentes, mas que não são tãããão urgentes assim permanecem como calço de pé de mesa.
Em meio a essa barafunda, vem a Lei 11721/08 instituir o Dia Nacional de Prevenção à Obesidade e é sobre ela que venho tecer meus sábios comentários.
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Desculpe, não tenho palavras para comentar.

Samambaia de plástico

In Sem categoria on 09/06/2008 at 2:20 PM

Querido Brógui

Não tem escapatória: é preciso assumir que sua vida sexual é comparável à de uma samambaia de plástico quando a simples notícia de um beijo na boca causa frisson. Funciona assim:
Você começa a pensar que talvez tenha uma vida sexual de uma samambaia de plástico (e que, pra piorar, todo mundo sabe disso) quando esse pequeno acontecimento converte-se no evento mais significativo do século, digno de um relatório contando tudo tintim por tintim e depois entrando em detalhes (como diria Millôr).
O segundo passo, que lhe leva à certeza de que tem uma vida sexual de uma samambaia de plástico, é quando faz a sua narrativa escutando um foguetório de comemoração ao fundo (padrão reveillon), corinho de leleleô e o estouro de uma champagne, além de saber que sua amiga vai ter que pagar uma promessa que fez. É, quando as amigas começam a fazer promessa pra você desencalhar antes do naufrágio, definitivamente você tem uma vida sexual de uma samambaia de plástico. E todo mundo sabe disso.

Dia de Greta Garbo

In Sem categoria on 01/06/2008 at 10:39 AM

Querido Brógui

Não sei se acontece com todo mundo, mas sei que acontece com muita gente: aquele dia, ou aqueles dias em que a gente tem uma vontade enorme de curtir uma reclusão (ou exclusão mesmo). Sabe como? É não querer nenhuma espécie de interação social, nenhum contato com o mundo e seus habitantes.
“O ser humano é um ser gregário”, já dizia o antropólogo. Verdade inegável, posto que desde os primórdios os hominídeos procuraram juntar-se e com isso garantir a sobrevivência da espécie.
Sou normal, sou humana: gosto de falar (ando até numa fase exageradamente falastrona), gosto de ouvir, mas hoje acordei com o meu lado eremita em flor.
Acordei um tanto quanto quebrada. Fisicamente, quero dizer. Essa batida que venho vivendo há algumas semanas, de ficar cuidado de um pequeno e nada pesado rotweiller, já vem trazendo suas conseqüências.
Acordei também um tanto quebrada emocionalmente. Tenho sido muito demandada ultimamente, coisa normal para uma pessoa normal que assuma responsabilidades.
Divagação nº 1: Há quem desenvolva uma capacidade (para mim estranha) de “andar” para qualquer assunto que não lhe diga respeito diretamente. E com o passar do tempo, a gama de assuntos que não lhe dizem respeito diretamente aumenta em proporções geométricas, a ponto de quase nada ser considerado de seu interesse ou da sua conta. Obviamente, aquilo que não é de sua conta certamente há de ser da conta de alguém. Conclusão: na medida em que alguém retira de si comprometimentos, alguém os toma para si, gerando uma distribuição injusta de aporrinhações. Obviamente também é que, o omisso, como bom omisso que é, também “anda” para a distribuição injusta de aporrinhações, porque afinal de contas, isso não é de sua conta.
Então, voltando à vaca fria, já acordei hoje meio cansada e fiquei muito feliz em ver que apenas eu estava de pé. Fiz meu cafezinho, comi minha torradinha, li uns trechos da Veja (só pedacinhos, pra não cansar muito a cabeça), tudo no maior silêncio para poder curtir esse delicioso momento solitário, fazê-lo estender-se o mais possível.
São mais ou menos dez horas da manhã e eu ainda não precisei falar com ninguém, nem ouvir, nem sorrir, nem trocar o curativo da Ala, nem decidir o que vamos almoçar, nadinha. Estou só, maravilhosamente só no meu cafofinho. Como não posso me transportar para uma dimensão paralela, nem congelar todo o mundo, vou ficar aqui, em silêncio, escondidinha, com a esperança (vã) de que hoje, pelo menos por hoje, esqueçam que eu existo.