Fatinha

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País do futebol

In humor on 24/11/2022 at 7:18 PM

Querido Brógui,

Clichê? Sim. Mas é a verdade.

Pra começar, aqui no Rio de Janeiro, parte do funcionalismo público não trabalhou ou trabalhou meio expediente. Os demais trabalhadores, ou foram liberados mais cedo, ou interromperam o expediente para retornar depois da partida. Fico pensando aqui quem dá o azar de precisar ir á emergência do hospital ou precisa desesperadamente comprar um pão na padaria ou abastecer o carro que está prestes a dar pane seca (como este Brógui que vos fala).

Eu aproveitei a folga para ir à rua fazer umas coisinhas pendentes, coisinhas que precisam ser feitas dias de semana e nos dias de semana estou no tronco. Quem trabalha em horário comercial tem que se virar para fazer o que só pode ser feito em horário comercial ou encarar a cara torta do chefe que acha que sua vida se resume às tarefas laborais – talvez porque sua vida se resuma a isso mesmo.

Com pouco mais de dois mil rodados, mas não querendo perder a garantia, me despenquei para a concessionária a fim de fazer a revisão no Fred. Chegando lá, fui alertada para o fato de que o expediente seria encerrado mais cedo e que, portanto, não teriam tempo para lavar o veículo e devolvê-lo brilhando como é de praxe, mas se eu fizesse questão voltasse outro dia. Ok. Em tempo recorde, trocaram óleo, filtros, lubrificaram e me esclareceram que a luzinha que acende no painel e que eu não tinha a menos ideia do que significava, era indicativo de que precisava calibrar os pneus.

No caminho para a próxima parada, encarei um baita de um engarrafamento. Era o horário que o povaréu estava se deslocando. Onze horas da manhã e os torcedores ensandecidos pra chegar em casa a tempo de assistir ao jogo – que começaria hoooooras depois. Buzinaço, cortadas, xingamentos.

Na ótica, também fui de pronto informada acerca do término antecipado do expediente. Fui muito bem atendida, mas suspeito que colocaram uma vassoura atrás da porta.

A caminho de casa, mais uma vez olhei para o painel do Fred e lembrei que tinha que parar num posto para alimentá-lo. Rezando para conseguir chegar, cheguei. Parei. Fui, mais uma vez, informada de que o expediente encerrava mais cedo e implorei ao frentista para encher o tanque, senão eu ia ter que empurrar o carro até em casa, aproximadamente 30 quilômetros, incluindo a serra.

Esses singelos fatos me levaram a elaborar a tese de que nada nada nada nem ninguém ninguém ninguém funciona antes, durante e depois de qualquer jogo da seleção. Como estudiosa que sou do comportamento humano, resolvi fazer uma pesquisa utilizando como grupo de controle alguns Bróguis selecionados criteriosamente.

Lancei uma simples pergunta dez minutos antes de começar o jogo. O resultado não me surpreendeu:100% dos entrevistados não respondeu. Simplesmente andaram para mim, comprovando minha tese de que já não estavam funcionais antes mesmo de o jogo começar e assim permaneceriam após o apito final.

E eu? Assisti? Sendo eu um ponto fora da curva, dormi e acordei minutos antes do primeiro gol, ou seja, não perdi nada.

Chegando

In humor on 16/11/2022 at 9:23 AM

Uma viagem. Curta, longa, pra longe, pra perto. Sozinho, acompanhado. Padrão glamour ou no modo mochileiro das galáxias. Com folga de grana ou com os trocados contadinhos. Tanto faz. Uma viagem é a maior viagem.

Serve pra desopilar o fígado, curar mal de amor não-correspondido e sorrir curtindo o gostinho do novo. Serve para aliviar a ansiedade que gera aquilo que temos que resolver e não conseguimos nem com vela acesa.

Serve para conhecer lugares, pessoas, respirar um ar diferente, mudar alguns hábitos e fugir da chata rotina normal. Exercitar a adaptação e a flexibilidade.

Presta pra fazer tudo de uma vez e voltar mais cansado do quando saiu, precisando de uns dias de folga pra se recuperar dos dias de folga. Ou presta pra não fazer nada. Absoluta e redondamente nada. Só fazer fotossíntese e olhe lá.

Estou aqui, Brógui, chegando de mais uma pequena grande viagem. Escrevendo e tentando abstrair que estou famélica e praticamente desidratada porque vou fazer uma endoscopia e não pode ter nada no estômago. Não tá funcionando muito, parece que o proibido dá mais vontade ainda de fazer.

Fiz de tudo um pouco e aproveitei cada minuto, desde a ida de ônibus – num rola o preço da passagem aérea tão curta que quando o avião atinge a velocidade de cruzeiro, tá na hora de preparar para a aterrissagem – até a volta, também de ônibus. Deixei tudo o que me incomoda e me deixa triste para trás, só dei uma fraquejada no último dia – fraquejada da qual me arrependo, mas valeu pra fortalecer.

Entre comidas gostosas, sorvetes quebrando a dieta, longas conversas com minha cunhada favorita, brincadeiras com a sobrinha de quatro patas e videogame com o sobrinho de duas patas, aprendendo sobre economia e política com meu irmão cabeçudo.

Praia no dia lindo, praia no dia nublado. Piscina pra fugir do vento da praia. Comecei a reler um livro que emprestei pro Bão e ele nunca leu e tomei de volta o livro que dei pra ele de presente e ele também nunca leu – só lê livros técnicos, o cabeção que faz duas pós ao mesmo tempo.

Caminhei e fiquei deitada e fiquei sentada olhando o mar. Pensei muito muito muito. E não pensei em nada, nada, nada.

Cheguei há pouco e fui recebida pelo porteiro dizendo que não havia luz – consequentemente, não havia água. É, o gênio que projetou o prédio não colocou caixa d’água. É direto da rua. sem luz, sem bomba, sem água. Pensando no banho que eu tanto precisava e queria tomar, subi os quatro andares com a mochila/container nas costas, recitando mantra todo-castigo-pra-corno-é-pouco. Quando chego à porta do Micro, fiat lux! 🙂 🙂 🙂

Alguns minutos pra recuperar o fôlego e pensar que eu bem poderia ter chegado cinco minutos depois, mais alguns minutos pra ligar todas as torneiras e deixar sair a água suja, tô aqui. Limpinha, levinha, contentinha, pronta pra encarar com galhardia os desafios que estão por vir.

Cheiro de peixe, peixinho é.

In humor on 05/11/2022 at 11:41 PM

Querido Brógui,

Não, eu não confundi o ditado. Criei um novo.

Depois de uma gastroenterite de proporções siderúrgicas, que me levou a nocaute por cinco dias, iniciei, forçadamente uma dieta.

Nota de rodapé sem ser no rodapé: gastroenterite é uma irritação e inflamação do tubo digestivo, incluindo o estômago e o intestino. O sujeito, no caso, A sujeita, sente dor abdominal, diarreia padrão preparo para fazer colonoscopia, vomita como aquela garota do filme “o Exorcista”, tem náuseas de mulher grávida, cólicas como se seu períneo fosse cair no chão. A sujeita sentiu ainda dores de cabeça fortíssimas, dor no corpo semelhantes ao que se sentiria se fosse atropelada por um rolo compressor e ficou com os quatro pneus arriados, jogada na cama como um molambo encardido.

Fui parar na emergência, atendida por uma médica fraldinha que deu uns quatrocentos e noventa e cinco bocejos na minha cara. Perguntei, ingenuamente, a causa da minha doença e ela disse que não sabia (????????), mas que poderia ser uma virose ou bactérias ou parasitas ou uma simples intoxicação alimentar. Ou seja, pode ter sido qualquer coisa ou nada.

Enfim…

O fato é que eu fiquei na merda. Literalmente.

Nota de rodapé sem ser rodape número 2: mamãe dizia que o que sustenta o corpo é a merda. Que não há nada que derrube tão rapidamente uma pessoa como uma boa dor de barriga.

Depois de passar 5 dias só bebendo água de coco, tomei coragem para comer. Peixinho grelhado e salada verde. Não sei exatamente há quanto tempo e por que isso aconteceu, tô meio sem noção. Só sei que foi assim. E, de lá pra cá, encontro-me ingerindo apenas frutos do mar com salada. No máximo uns legumes e umas frutinhas.

E sabe que tô gostando da parada? Nem consigo me ver comendo carne vermelha, nem outra coisa que não seja salada. Acho que meu corpo está rejeitando essas coisas mais punks, embora não tenha tentado comê-las pelo simples fato de que não tenho vontade mais.

Daí, feito este introito, chegamos ao objeto dessa minha cartinha pra você.

Fui ao Mercado São Pedro levando com minha comadre como consultora – é porque de peixe e coisinhas do mar, só entendo mesmo de comer. Estava a fim de comprar frutos do mar específicos para determinados pratos e acabei por encher o freezer de salmão, anchova (que o fulano escreveu no saco com x), dourado, tilápia, polvo e camarão.

Me empolguei e comprei tanta coisa que não conseguia carregar até o carro. Minha comadre, gentilmente, me deu um empurrão, tomou a sacola da minha mão, disse que ela estava ficando irritada porque eu não sabia ser pobre e carregar coisas pesadas. Humildemente, aceitei minha derrota e fui carregando as sacolinhas dela, que estavam bem mais leves.

Chegando ao carro, vi que o gelo que havia nas sacolas estava derretendo e que o minúsculo isopor que eu havia levado não ia dar conta de armazenar os aproximadamente oito quilos que eu havia comprado. Fiquei em pânico e comecei a choramingar porque Fred ia ficar todo melecado de água de peixe e fedendo a peixe e que o cheiro não ia sair nunca mais.

Comadre, mais uma vez, me deu um empurrão, mandou eu deixar de ser fresca e disse que existia uma coisa chamada desinfetante e que servia para desodorizar catingas em geral. Botei meu rabinho entre as pernas e deixei-a arrumar as sacolas fedidas e pingando fedor na mala do Fred.

Chegando em casa, a situação não podia estar pior. O carro estava com cheiro de barraca de peixe no final da feira. Um odor pungente que tratei de espalhar pela garagem do prédio, por que estava pingando aquele caldo fétido, elevador, corredor, até eu conseguir jogar aquela pestilência no tanque.

Fui tirando tudo dos saquinhos e arrumando em potes plásticos e derramando aquele gelo sanguinolento no ralo e pingando tudo no caminho até a geladeira.

Depois desci e fui limpar a mala do Fred. Taquei desinfetante, esfreguei, taquei mais, esfreguei mais e deixei os vidros semiabertos pra arejar o interior do carro de peixe.

Saldo do dia: feliz porque passei horas agradabilíssimas e divertidas com minha comadre, feliz porque comprei minha comidinha favorita no momento, feliz porque passei um dia sem pensar nas encrencas que tenho que resolver semana que vem.

Nota de rodapé no rodapé. Apesar de ter lavado tudo gastando 500 ml de desinfetante, o tanque fede a peixe, a sacola fede a peixe, o isopor fede a peixe, a cozinha fede a peixe, o freezer idem, minha barraca de praia (residente da mala do carro assim como dois pares de havaianas) fede a peixe. Minha mão fede a peixe e desconfio que minha alma também.

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