Fatinha

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AGLOMERAÇÃO

In humor on 19/08/2020 at 4:30 PM

Querido Brógui,

Quero aglomeração.

Vou repetir.

Quero aglomeração.

Quero ficar na fila do banheiro e quando entrar no reservado, quero gente batendo na porta. Quero ficar esperando para lavar as mãos e depois ver que não tem toalha de papel. Quero secar a mão na calça.

Fila… ai, que saudades! Fila pra entrar no restaurante, fila pra pesar o prato, fila pra pagar… Quero muitas filas. Para ir ao cinema, ir ver uma exposição. Quero entrar na fila para um evento gratuito. Estas são as melhores: gente furando fila, aquela minhoca que a gente não sabe onde começa e onde acaba, aquela gente impaciente que fica colada na sua bunda mesmo que você tente manter uma distância higiênica. Não quero mais distância higiênica. Chega de andar com uma trena para saber se a criatura está guardando um metro e meio de distância.

Sonho em ir a um show e aquela fulana suada passar por mim me empurrando sem pedir licença e muito menos desculpas. Ou então aquele cara com bafo de cerveja derrubar metade do copo na minha cabeça e seguir em frente depois de reclamar que eu é quem estava no caminho dele. Quero gente pisando no meu pé e sujando meu sapato. Quero ficar na cuspideira, onde é mais apertado ainda, onde você pula se todo mundo pula e tenta respirar com um escafandro.

Sabe o que mais? Quero SAARA de manhã e calçadão de Madureira à tarde. No mesmo dia. Ouvir gritaria, confusão, empurra-empurra, levar sacolada nas canelas e bolsada nas costelas. Andar pela rua porque não tem espaço nas calçadas. Comer podrão em pé no meio-fio.

Não ando de coletivo, mas quero andar. Metrô da Carioca à 17:30 com aquela parada na Central me agarrando no poste para não ser ejetada. Ônibus sem ar-condicionado. Em pé. Sendo jogada pra lá e pra cá pelo mau-humor do motorista. Descer no ponto errado porque não deu tempo de chegar na porta.

Preciso ir para a academia. Ouvir aquela música ensurdecedora e ficar esperando para sentar naqueles aparelhos imundos e, quando sentar, ouvir a perua perguntar se já estou acabando, se dá pra revezar.

Quero praia lotada, criança correndo por cima da minha canga, olha o mate, biscoito grobo. Cachorro sacudindo o pelo na minha cara, levar bolada de altinho tentando chegar na água. Procurar vaga pra estacionar e ser obrigada a pagar uma fortuna ao flanelinha pra depois ver que ele meteu o pé assim que tomou o meu dinheiro.

É isso. Confessei. Agora, não me venha jogar este post na minha cara depois. Quando inventarem a vacina, quando todos estivermos imunizados contra este maldito vírus, quando o mundo parecer menos esquisito, voltarei a ser nojinho, reclamar de tudo, ficar de cara amarrada quando alguém encostar em mim. Combinado?