Fatinha

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Fazendo rabanadas

In humor on 27/11/2015 at 10:11 AM

Querido Brógui,

Para desestressar, ao invés de ir à academia, fui pra casa fazer rabanadas. Tá, eu sei que ainda não é Natal, mas tá quase. Além do mais, quem foi que disse que tem dia certo pra comer o que quer que seja?

Aprendi a fazer rabanadas com minha Mamãezinha e agora, de ajudante, passei a ajudada. Se dá muito trabalho? Não. Faz uma lambança desgraçada, mas não dá trabalho, até porque minha versão da rabanada materna é simplificada: misturo os ovos com o leite, taco o pão dentro e fim de conversa. E fica bom?

Ora, ora, queridobrogui, então não sabes tu que minhas rabanadas são conhecidas internacionalmente? Por que? Porque minha adaptação inclui substituir parte do leite de vaca por leite condensado. Nooooossa! Então engorda horrores! Claro que sim. Quer emagrecer? Coma alface e não rabanada.  Mas, se quiseres ficar com a consciência menos pesada, use leite de vaca desnatado. Para dar o toque final, elas são fritas na manteiga. Ficam sequinhas, com aquele sabor salgadinho lá no fundo quebrando o enjoado do leite condensado. Finalize com açúcar e canela. Vais comer rabanada até passar mal.

Enquanto fazia a preparação inicial, que inclui descascar o pão, fiquei papeando com minha Mãezinha.  É impressionante como, na correria da vida, às vezes ficamos dias conversando telegraficamente com a pessoa que mora debaixo do mesmo teto. A noite de ontem eu dediquei a dar a ela atenção merecida.

Durante a processo, fui lembrando de algumas coisas e algumas pessoas. Lembrei de uma amiga que adorava rabanadas e me disse ano passado que nunca mais havia comido uma desde que mãe dela morrera. Bem, a essa altura, se no Céu há rabanadas, ela deve estar saboreando algumas feitas pela sua mãe.

Mamãe lembrou que minha tia fazia rabanadas pelo Natal, num fogareiro à lenha. Ela sentava em um banquinho e tome rabanadas!  Meu avô cuidava de manter o fogareiro aceso, com fogo bem alto. É, queridobrogui, tem que ser em fogo alto, senão a rabanada fica empapada de gordura.

Rabanada vai, rabanada vem, nós duas conversamos, cantamos, comemos algumas quentinhas saindo da frigideira e, ao final, estávamos felizes. Ok, a cozinha estava em petição de miséria: louça até o teto, o fogão todo lambrecado de açúcar, leite e manteiga. E daí?

Como se defender de uma granada

In humor on 26/11/2015 at 2:10 PM

Querido Brógui,

Na falta de do que falar, vamos falar bobagens. Para escolher o tema, entrei num site que me chamou atenção porque recebi uma mensagem que dizia que comer em prato azul com talher azul, de preferência num ambiente azul, fazia emagrecer. Neste site, dentre as milhares de informações, esquisitas, inúteis, mas definitivamente interessantes, uma despertou o queridobrogui: o que você deve fazer se lançarem uma granada em sua direção?

Bem, a menos que tente aproveitar as promoções de aniversário de algum supermercado, dificilmente passará por uma situação desta. De todo modo, acho legal estar sempre preparado para qualquer emergência.

A primeira recomendação é não correr, o que eu acho difícil de lembrar na hora. É claro que, se estiver distraído olhando o preço do filé mignon pra ver se dessa vez você consegue comprar, a granada vai vir voando e você nem vai precisar lembrar desta recomendação. Se estiver atento, ligado na missão de evitar que alguém fure a fila do balcão de frios, vai ver a granada vindo, mas também não vai correr porque o próximo da fila é você e afinal de contas há duas horas está ali esperando pra pegar a muçarela da pizza do lanche. De todo jeito, dependendo da quantidade de pessoas por centímetro quadrado, não vai dar pra correr mesmo.

A segunda recomendação é não tentar jogar a granada de volta pro inimigo. Essa é fácil de atender, a não ser que você seja fã de filmes de ação, no qual o mocinho faz isso no meio de um tiroteio comendo um hambúrguer com a outra mão. Daí, num ato reflexo, você esquece que a granada do filme é de mentirinha e parte pro contra-ataque. Caso isto aconteça, lembre-se de que você tem 4 segundos para executar a manobra antes que a granada exploda na sua mão.

O mais recomendado é se jogar no chão. Ao seguir esta recomendação, tenha em mente que, em hipótese alguma, você deve se jogar em cima da granada. Você não é o Robocop, nem um Transformer, nem o Exterminador do Futuro. Você vai se machucar. Feio. Lembre-se também de que o estilhaço de uma granada pode alcançar até 10 metros, logo, seu salto tem que ser de, no mínimo, 11 metros na direção oposta ao local onde ela caiu. Demanda um pequeno e rápido cálculo envolvendo a distância entre você e a granada, o seu peso corporal e a velocidade do vento, mas dá certo.

A outra opção é se esconder atrás de algum obstáculo. No caso do supermercado, não opte pelas gôndolas de bebidas. Você escapa da granada, mas será retalhado pelos cacos de vidro. Também não é legal a sessão de pescados. Nunca mais você vai conseguir tirar a catinga de peixe do seu corpo.

Na boa? Eu aconselharia algo muito mais eficaz para evitar as consequências de uma granada lançada na sua direção: não vá ao supermercado em dia de promoção.

PS: a questão do efeito emagrecedor do prato azul com talher azul e o ambiente azul é que não existem alimentos azuis, daí seu cérebro não se identifica com a comida e você come menos. Ora, ora… Então não é o prato azul com talher azul e o ambiente azul que vão lhe emagrecer, e sim comer menos.

Programa Cachorro

In humor on 25/11/2015 at 10:45 AM

Querido Brógui,

Programa cachorro também pode ser divertido. Programa cachorro? É. Tipo festa infantil com aquela barulheira infernal, crianças enlouquecidas correndo suadas e descalças por todo o lado, animador gritando no microfone (um dos mistérios indecifráveis da humanidade é por que as pessoas gritam ao microfone. o treco não é pra ampliar o volume da voz? pra quê ficar berrando?) e, invariavelmente um calor insuportável. Bem, se ao menos a comidinha estiver a contento, a chatice pode ser suportada e a vontade de cortar os pulsos controlada.

Como tudo é relativo, o conceito de programa cachorro também varia de pessoa pra pessoa (tem gente que se amarra em acordar cinco horas da manhã pra ir correr debaixo de chuva), varia conforme a época da sua vida (houve um tempo em que eu viajava sem antes investigar a condição de salubridade do local de destino), varia conforme as condições atmosféricas (fila de restaurante, só com os hormônios em dia, com a Lua em Sagitário e se eu estiver em estado de inanição).

A única invariável é que, se a companhia for boa, qualquer programa cachorro vira um programasso, com direito a boas gargalhadas. Bem acompanhado, a gente ri até de fratura exposta.

Ontem, a diversão foi garantida pela companhia de minha comadre, fiel escudeira nas cachorrices da vida. Muito constrangida, fiz a proposta indecente, o convite quase imoral e ela aceitou toda animada. Saí do trabalho, de salto alto, com os dedões do pé prestes a gangrenar, rumo à paradisíaca loja de materiais de construção (que, diga-se de passagem, minha comadre disse adorar. ok, é só dar o remedinho na hora certa e não contrariar.)

Nada como aquele cheirinho de poeira a obstruir suas vias aéreas! Nada como a vista inebriante de pisos e revestimentos, louças e metais! Que felicidade ter que ficar acocorada escolhendo uma ducha higiênica! Isso sem contar o banho de cultura. A sutil diferença entre argamassa e rejunte. A necessidade de um anel de vedação para o vaso sanitário. A existência de uma coisa chamada coluna para lavatório. Tanta coisa interessante, que não sei como sobrevivi tantos anos sem este precioso conhecimento.

O vendedor, corria pra lá e pra cá nos atendendo (e a outros clientes), tentando dar conta de tirar nossas dúvidas, procurar o que queríamos, filtrar nossas conversas paralelas, esperar eu tirar fotos e falar ao telefone. Na hora de fechar a conta, puxei meu lencinho e banhei a mesa do pobre com minhas lágrimas. Ganhei um desconto que deu pra cobrir o frete. Quem não chora,

Na boa? Foi divertidíssimo! Entre uma torneira e outra, fazendo as contas pra economizar mas também não comprar nada muito ordinário, nós rimos, choramos, falamos mal dos homens (sempre, não dá pra evitar), trocamos ideias sobre o futuro da humanidade, rimos mais, tomamos um suquinho de lata, nos abraçamos, fizemos revelações altamente confidenciais daquelas que nem às paredes e, ao final, alma lavada e enxaguada, conseguimos montar um banheiro inteiro.

Horas depois, fim do passeio. Fomos as últimas a sair da loja, com a sensação de menos-um-problema-pra-resolver. Conseguimos, na maior parte do tempo, tirar o foco daquilo que nos incomoda e relaxar um pouco.

Programa cachorro pode ser divertido. Terapêutico. Catalizador de boas energias. E tenho dito.

Rebeldia construtiva

In humor on 24/11/2015 at 10:20 AM

Querido Brógui,

O mundo está muito esquisito. Mesmo. Tanta coisa ruim acontecendo, pessoas matando pessoas, pessoas matando a natureza, pessoas levando o sofrimento para outras pessoas. Isso tudo me leva de um extremo ao outro. Ou vários extremos, eu diria. Passo da tristeza à apatia, sigo para à euforia, parto para a raiva, caio na hiperatividade e finalizo na falta de vontade de escrever, que é o meu termômetro de felicidade.

Não tenho me permitido ficar bem, nem aproveitar de verdade o breve e fugaz brinde de estar viva. Tomo o sofrimento alheio como o meu próprio, uma empatia às vezes absurda, que até tem seu fundo filosófico nas palavras de Dalai Lama – enquanto houver um ser em sofrimento, todos estaremos em sofrimento. Só que eu exagero e esqueço que o próprio Dalai Lama recomenda que sejamos felizes.

Hoje eu decidi me opor a mim mesma e a essa palhaçada de ficar me martirizando pelo simples fato de que a minha vida – ainda que com atropelos, tombos, mancadas e trombadas – é boa. Decidi que não vou me sugar pra dentro de um buraco só porque o mundo está indo, inevitavelmente, pra dentro dele. Que minha resistência ao Mal será ficar cada vez mais alegre, positiva, esperançosa. Que vou redimensionar minhas prioridades e desprezar o que é desprezível (parece redundante, e é mesmo).

Vou começar novamente a rir de mim e de meus desastres – como o galo que fiz ao dar uma cabeçada na janela porque fui olhar pra fora e esqueci que ela estava fechada.

Vou recomeçar a rir do que não tem a menor graça, mas que exatamente pelo bizarro é que é engraçado – como o ladrão que na maior cara de pau bateu no vidro do meu carro e pediu pra eu abrir porque ele queria me tomar o celular.

Vou cair da cadeira rindo quando no trabalho me pedirem alguma coisa absurda como se fosse a coisa mais normal do mundo – tipo dar a  mesma informação pela milionésima vez.

Tratarei como surreal que é que, num mundo em crise, ainda haja alguém que defende a violência como solução, que continue cultivando burros preconceitos (outra redundância), que não consiga ver que atitudes individuais comprometem o coletivo.

Minha rebeldia não será destrutiva. Demonstrarei minha rebeldia resistindo à infelicidade, à amargura, rindo pra caralho, falando bobagem, dando beijo na boca, enchendo a porra do saco dos outros, ouvindo música no trabalho e dançando sentada na cadeira, lendo e, principalmente, escrevendo pra você. Vou liberar o Querido Brógui da quarentena.

Sejamos felizes juntos.

 

 

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