Fatinha

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O barquinho

In humor on 29/12/2021 at 10:32 AM

Querido Brógui,

Já escolhi a metáfora de hoje. Adoro metáforas. Jesus ensinava por parábolas, eu prefiro as metáforas. É isso mesmo? Estou me comparando a Jesus? A megalomania bateu à minha porta? Isso é grave. Em tempos de messianismo, todo cuidado é pouco. Vai que eu surto e resolvo iniciar uma seita ou me candidatar à presidência? Ou pior: vai que você resolve aceitar e concordar com tudo o que eu digo, sem questionar, como se fossem verdades absolutas? Vamos cortar logo o mal pela raiz. Eu não sou o Messias, não atingi a Iluminação, não tenho a menos pretensão de ser governante e tampouco sei como a vida funciona. Sou um mero aprendiz que gosta de compartilhar seus aprendizados.

Vejo a vida como um rio. Tem a nascente, corre corre corre e deságua no mar. Não para, não volta, é um fluxo contínuo do início ao fim. E tem você, com seu barquinho. Ou iate. Ou canoa. Escolhe aí. Eu gosto de barquinhos.

Nascemos, ganhamos de presente um barquinho e somos colocados no rio. Começa aí a grande aventura.

Tem momentos tranquilinhos, que dá até pra dar um mergulho e relaxar. Tem momentos turbulentos, como quando você dá de cara com uma correnteza e é preciso tomar cuidado para o barquinho não virar (sugiro sempre usar um colete salva-vidas). Dependendo da força da água, pode até perder o remo. Tudo bem. Dá uma paradinha numa lojinha de conveniência e compra outro.

Há sempre a possibilidade de uma queda d’água, com fortes emoções, mas tudo bem, o importante é não entrar em pânico e se isso acontecer, peça ajuda. Inspire, expire e não pire.

Em determinados pontos, há vários caminhos a seguir. Há as escolhas que vão determinar o rumo seguinte, que vão determinar o rumo seguinte e que vão determinar o rumo seguinte. Nessas horas, cabe uma ponderação, se possível. Não sendo possível (às vezes não dá tempo de pensar muito), opte pelo que lhe parece melhor naquele instante. Se der merda, não caia na cilada de ficar remoendo o ” e se”. E se eu tivesse pego o outro caminho, será que seria melhor ou mais fácil ou mais rápido? Bobagem. Perda de energia. Você não pode voltar. Já era. Solte um putaquepariu e aceite docemente as consequências. Aprenda. Culpa, arrependimento, remorso não cabem no barquinho. Pesam demais, fica difícil navegar assim.

Pilotando seu barquinho, pare de vez em quando na margem pra descansar. Limpe seu barquinho, jogue fora o entulho que acumulou, guarde somente o necessário, evite a tentação de comprar um maior pra caber mais coisas. Como eu já disse, o peso é um inimigo. Descansou? Volte para o rio.

O seu navegar não precisa ser solitário (a menos que queira) Pode levar alguém junto, dividindo o espaço do barquinho, ou pode navegar em comboio, cada um no seu, cada um no seu ritmo, cada um livre para pegar outra rota. Pode marcar de encontrar em algum lugar, ou daqui a alguns dias. Programar encontros e despedidas. Pode pegar uma carona, se estiver muito cansado (lembre de oferecer carona também).

Uma última recomendação: cuide do rio, cuide do seu barquinho, cuide-se.

Edição especial de Ano Novo

In humor on 25/12/2021 at 11:55 AM

Querido Brógui,

Estava eu varrendo o quintal, às 6 horas da manhã, meditando. É. Tem gente que reflete meditando em posição de lótus (não sei como conseguem isso com as pernas dormentes e dores lombares), tem gente que o faz sentado horas a fio na beira de um lago tentando pescar só pra depois devolver o pobre peixinho para a água (nunca entendi muito bem este conceito de pesca recreativa) e eu, fazendo serviço pesado.

Uma das minhas descobertas sensacionais do ano foi que esfregar rejunte com escovinha de dentes, limpar portas e dar polimento em pia de inox até virar espelho são atividades que têm múltipla função: combater o stress, esvaziar a mente de problemas para enchê-la de soluções, fortalecer a musculatura e, de quebra, fazer seu habitat não ficar com aquela aparência de chiqueiro.

Pois é. E nas minhas profundas reflexões fiz aquele famosa e batida retrospectiva do ano que está acabando. Lembrei de tudo o que aconteceu e fui separando os momentos merda dos momentos uhu. Um pensamento puxando o outro, fui colocando tudo em caixinhas etiquetadas, jogando fora o que só serve pra ocupar espaço no meu combalido HD. Coloquei tudo numa planilha excel e, quando finalizei o balanço, vi que o saldo foi positivo.

Longe de mim querer bancar a Pollyanna, livro que eu li quando era mocinha. Basicamente, pensar Pollyannamente significa ver o lado bom em tudo que é desgraceira que acontece. Ela chamava de “o jogo do contente”. Algo como receber um par de muletas de presente e ficar contente porque não precisa usá-las. Céus! Como posso lembrar de uma história lida no século passado e não ter a menor noção do que almocei ontem? Mesmo não sendo tão positiva quanto a heroína do livro, acredito que dá pra aproveitar muita coisa dos momentos merda, nem que seja pra falar que ainda bem que passaram.

Parte do que aprendi este ano foi acolher meus sentimentos negativos, minhas emoções confusas, meus sofrimentos e angústias sem ficar com raiva de mim por estar vivendo tudo isso. Aprendi a aceitar que “tudo bem não estar bem”. Sim, Broguinho, seu guru espiritual também tem momentos deprê. Desculpe aí, mas sou “humana, demasiadamente humana“, como disse Nietzsche. Chorei muito, fiquei dias sem comer, sem querer levantar da cama, sem me arrumar, achando que viver não fazia o menor sentido (bem… no mais das vezes não faz mesmo, mas e daí?).

Aí você coça o queixo e pensa: “tá. mas o que de bom há em ficar se sentindo um pano de chão rasgado e fedorento?”. E eu respondo que, a princípio, nada. Não é nada bom sentir dor. Não é nada bom olhar para a frente e ver um grande buraco negro prestes a lhe engolir. Não é bom querer que uma bala perdida encontre você ou que o mundo acabe em barranco pra você morrer encostado. Não é nada bom mesmo. No entanto, passada a crise, dá pra avaliar suas consequências e dizer que “ufa! que merda que eu estava e não estou mais.”

Me perdi, me encontrei, me perdi de novo e me encontrei de novo. Nesta busca, contei sempre com mãos a me guiar, orientar ou apenas apoiar (há vezes em que nada mais se pode fazer além de segurar pra não deixar cair de vez ou até mesmo cair junto para amortecer o impacto). Contei com amigos de sempre (aqueles que caminham comigo desde que o mundo é mundo) e amigos não tão antigos, mas não menos importantes. Conquistei amigos fresquinhos, que trouxeram novas perspectivas. Reencontrei amigos que (sei lá por que) haviam ficado em alguma curva da estrada. Por todos os lados, ao meu redor, num esforço conjunto, todos eles me ajudaram a sair da merda.

Este foi o lado bom da merda. Ter a certeza de que, por mais fudida que eu esteja, sempre haverá um amigo ali de prontidão. Sentir-me amada e protegida. Segura e cuidada. Sem julgamentos, sem cobranças, sem críticas. Saber da existência destas pessoas, meus anjos da guarda, me trazem uma felicidade indizível. Pode parecer frase feita (e de fato é), mas “amigo é pra estas coisas” é uma realidade. Ser “amigo” de farra, é mole. Quero ver ser amigo de fossa. Amar a pessoa pelo que ela é, é fácil. Quero ver amar a pessoa apesar de ela ser quem é.

No processo de “shoud I stay or shoud I go”, aos poucos fui colocando a roda da minha vida pra rodar de novo. Neste movimento, tudo vai acontecendo em sucessão. É complicado dar o primeiro impulso na roda. Difícil mesmo. Não há força, não há disposição, não há norte, não há nada. A inércia é total e parece lhe abraçar. Respeitei isso. Deixei acontecer (sem alimentar), sabendo que parte da cura é aceitar a doença. Um belo dia acordei e me senti bem. Aproveitei esta fagulha pra acender minha fogueirinha.

Não lembro exatamente da ordem cronológica dos acontecimentos, qual foi o primeiro impulso, mas ele aconteceu. Olhei no espelho e reconheci a pessoa que me olhava de volta. Cortei os cabelos, comecei a fazer atividade física, o apetite voltou, o sono de qualidade voltou, a ATM parou de me atormentar, arrumei, limpei, comprei coisinhas bonitas, úteis e inúteis. Comecei a ter mais foco, prestar mais atenção no que fazia, parei de sentir dores. Fui pra piscina, li dezenas de livros, ouvi música. Sorri. Aprendi a ligar o foda-se e rever minhas prioridades. Larguei de mão esta farsa de perfeição. Não sou perfeita. Você não é perfeito. O mundo não é perfeito. E daí?

Já posso até adivinhar sua próxima indagação. Você quer saber o segredo, a fórmula mágica, a receita do bolo pra sair da depressão. Desculpe aí mais uma vez. Lamento lhe informar que não tenho esta informação para dar. Posso lhe dizer que aceitei meu sofrimento, mas não me entreguei a ele. Também posso dizer que busquei ajuda. Dei tiro pra tudo que é lado e acertei a maioria deles. Contei com uma equipe multidisciplinar, atacando todas as frentes.

Próxima pergunta? Ah! Se eu resolvi meus problemas? A causa de tudo? A origem? Claro que não. Aprendi a lidar com eles, administrá-los, dar a eles a devida atenção (nem demais, nem de menos). Os problemas reais não têm solução. Os que tem solução, não são realmente problemas, são pedrinhas no sapato. Você tira o sapato, sacode e pronto. Os problemas reais são o próprio sapato e não adianta comprar um novo porque vai machucar também. Em outro lugar talvez, mas vai machucar. Rapidamente você retruca: então tira o sapato. Tá. Me aponte uma pessoa que vive bem sem sapatos. Não há. Os sapatos são necessários, ainda que machuquem.

Mais alguma dúvida? Deixe aqui seu comentário, que eu terei o maior prazer em responder. Se eu souber a resposta, claro, o que é pouco provável.

PS: já ia esquecendo: que 2022 seja menos merda que 2021.

Me diz que sou seu tipo

In humor on 21/07/2021 at 9:36 PM

Querido Brógui,

Lembra da história da latinha? Aquela que está lá no isopor esperando por você? Pois é.

Depois de umas boas olhadas dentro do isopor, escolhi uma e peguei. Broguinho, conheço você. Consigo até ver seu sorriso nos lábios. Pode tratar de ir tirando ele da cara. A Coca-Cola estava choca. Sabe assim quando você abre, sai um monte de espuma e depois quando você bebe tem gosto de cabo de guarda-chuva? Marronemos isso.

Vou contar tudinho pra você.

Manja aqueles sites de relacionamento? Apps? Já mandei parar de rir. Foco na história. O negócio às vezes funciona, basta você se armar de paciência, bom humor, uma ou duas peneiras com tramas diferentes e um funil (depois eu explico para que servem estes instrumentos). Largue seu preconceito de lado e veja as vantagens: 1ª) em tempos de pandemia, ao menos não corre o risco de se contaminar; 2ª) não precisa se arrumar, pode ficar à vontade, de pijaminha, sem se preocupar em parecer bonitinho; 3ª) se você gasta horas na internet fuçando a vida alheia, lendo fake news, inteirando-se do último escândalo de roubalheira nos cofres públicos, por que não usar a tecnologia pra desencalhar? É, Brógui. Vamos ser francos. Tu tá encalhado. Quase naufragando. O rebocador tá pedindo arrego. Aceite a derrota com brio, que eu vou ensinar como faz.

Primeiro você procura um app ou um site pago. É, Brógui. Larga de ser canguinha. Liberte o escorpião que você cria dentro do bolso. É baratinho, tipo dez pau por mês. Não pode ser um gratuito? Olha, poder, pode, mas só se for pra se divertir como quem vê um filme de terror. Só tem dragão pobre. Ah, tá! Tô discriminando? Tá me patrulhando? Então diz, olhando no fundo dos meus olhos, que seu sonho de consumo é feio e sem um puto no bolso. Vai! Diz aí! Diz que seu sonho é casar com um catador de latinhas e morar num barracão de zinco com um balde de alumínio aparando as goteiras. Fala pra mim que você sai pela rua e só paquera tribufú. Ah, desculpe. É exatamente isso o que você quer? Então, cai dentro! Curta! Seja feliz!

Depois, você se inscreve, preenche uma ficha com trezenas de perguntas, bota aquela foto melhorada. Tome cuidado para não se expor muito, tipo vem-ninmim-quetô-facinha. Isso é péssimo. Atrai os piores. A menos, é claro, que seja exatamente isso que você quer. Depois você preenche mais outra trezena de perguntas informando qual seria seu tipo ideal. Aquele ser (que não existe) que vai suprir todas as suas carências, encaixar direitinho nas suas expectativas. Mas, presta atenção: não fique colocando muito filtro, porque senão não passa nada. Nem água podre.

Três horas depois, você está apto a começar a garimpar. Garimpar? Sim, garimpar. Usando aquelas peneiras e o funil aos quais me referi antes. Respira fundo, e entra lá.

De cara, amarradão, você começa a perceber que está fazendo o maior sucesso. Seu perfil tá bombando. Chovem pretendentes. Sua autoestima vai nos píncaros. Até que você se dá conta que não é bem assim que funciona. Você precisa pegar sua peneira primeiro.

A primeira peneirada é olhar as fotos. Isso é fácil e divertido. Não olhe só para a cara do sujeito. Amplie a foto e veja o entorno. Descarte logo a que mostra a cama desarrumada, a lixeira transbordando ou o reboco caindo. Benza-se quando vir aquela que o camarada tá sensualizando dentro da piscina de “prástico” com um latão na mão. Ah, tá! Este é seu perfil favorito? Beleza! Manda ver!

Escolheu? A segunda peneirada é ler o perfil. Para esta, use a peneira com a trama mais fininha, pra pegar mais impurezas. Comece a ler o que a figura escreveu. Deu de cara com um “eçe negoço de perfiu é um saco” ou “se amarro em funk”, feche rapidamente e volte para a primeira etapa. Em homenagem ao politicamente correto, vamos lá: sua cara metade não precisa saber escrever, pode cometer erros de ortografia até falando? Tá bem, pode passar para a terceira fase que é mandar uma mensagem (isso se você fizer questão que o nãoglota saiba ler).

Repita a primeira e segunda peneirada até seu saco ficar cheio de ver tanta cara esquisita e/ou começar a sentir ânsia de vômito.

Agora, pegue o funil e comece a ler as centenas de mensagens que você recebeu. Lembra? Você é pop, seu perfil tem estrelinha e tudo, carne nova no açougue. Isso fora as mensagens que você já enviou e o pato respondeu. Nesta fase, você já tá craque. Em dois segundos, já consegue mandar um cartão vermelho e pular para o próximo. Responda a todas aquelas que lhe interessarem. Sem medo de ser feliz. Pra facilitar, redija um texto padrão tipo: oi, meu nome é Brógui, moro em tal lugar, gosto de fazer sei lá o que sei lá o que e sou gente boa pra caralho. Não fique esperando resposta, saia dando tiro pra tudo que é lado, um deles você acerta.

Chato mesmo é quando você acerta um monte de vítimas. Fica meio confuso porque chega uma hora em que você não lembra mais quem é quem, quem trabalha onde, quem tem filho pequeno, quem gosta de cachorro ou é budista. Mas eu tenho a solução: chama tudo de querido e evite fazer perguntas muito profundas. Mantenha-se raso como um pires no começo. Se puder, pegue um caderninho e anote o básico pra não pagar mico de falar de churrasco pra quem é vegetariano.

Emplacou? Passaram algumas preciosidades pelo funil? É hora de aprofundar. Não muito. Não dê detalhes de sua vida, não diga seu endereço, não diga exatamente onde trabalha, nem seu nome completo, CPF, identidade. Seja vago, mas não minta porque você tá falando com uma montanha de gente e depois não vai lembrar que mentira contou pra quem. Pode informar seu WhatsApp. Se a vítima for muito mala, é só bloquear. Não mande fotos demais. É chatíssimo quando você recebe todo o álbum de uma só vez, então não faça aos outros o que não quer que façam com você.

No mais, é curtir o trajeto sem pensar muito no destino final. Sem fantasiar muito, sem delirar, sem achar que agora vai. Deixa fluir. Se colar, colou. Se não colar, tudo bem. Comece tudo de novo. Achou chato? Pare. Não tá nem a fim de tentar? Não tente, Faça o que quiser ou não faça nada. Aqui, Broguinho, ninguém manda em ninguém, como ninguém solta a mão de ninguém.

Tá doidinho pra saber a minha história, não é? Depois eu conto.

Pé na Bunda

In humor on 09/07/2021 at 1:21 PM
Meu ZapZap - Imagens Não desanime - Engraçadas para Whatsapp e Facebook

Querido Brógui,

Lá vamos nós de novo com a sessão auto ajuda. Desta vez, analisarei, com minhas sempre sábias palavras, os pés na bunda que a vida nos dá.

Seja lá qual for a situação, um pé na bunda, nunca é legal. Atualmente, em termos genéricos, estamos levando um por dia. O tal do vírus não alivia. O que fazer? Ou sentar no cantinho, olhando para a parede e chorando, ou tentar aproveitar pra rever nossos paradigmas, valorizar o que realmente tem valor, fazer do limão uma limonada, buscar alternativas, transformar pequenos momentos de alegria em grandes momentos de felicidade.

O grande pé na bunda que todos nós levamos e continuamos levando diariamente vem de uma criatura que nem pé tem – o tal do vírus. Sabe aquele projeto de viagem? Aquela viagem que você ia fazer nas férias do ano passado, que estava toda paga e foi pro saco? Aquele projeto de se mandar por aí já que se aposentou e não tem mais que bater ponto? Este projeto ficou pra depois. Um depois que a gente não sabe muito bem quando será. Quando pensamos que agora vai, não vai. Daí, Broguinho, você está pensando, com aquela cara amarrada: “Como este pé na bunda pode me empurrar para frente?” Elementar, meu caro Brógui: você pode aproveitar pra juntar mais grana para dar um upgrade na sua viagem que um dia acontecerá ou planejar a outra viagem depois desta que foi suspensa. O mundo não acabou (ainda). Então, reveja seus planos, escolha mais destinos ou troque de destino, pense num hotel melhorado, inclua mais de uma refeição por dia, faça uma listinha de perfumes que vai comprar no free shop. Futilidade? Tô pensando pequeno em meio a uma catástrofe? Não. Estou sugerindo que tenha esperança, que saia do cantinho onde está sentado, chorando e vá para seu computador ou pegue seu celular e encha sua cabeça de sonhos.

Outro pé na bunda é aquele que primeiro passou pela sua cabeça: o namoro, casamento, noivado e similares que terminou e deixou você com uma sensação de ter sido atropelado por um um trem carregado de minério. Vagões e mais vagões passaram por cima do seu corpinho e você nem viu de onde veio. Aí você chorou, ficou sem comer, passou dias paralisado como uma samambaia de plástico, sem ao menos fazer fotossíntese. Você achou que a vida era uma grande merda, que o amor era uma grande cilada, que todos os homens/mulheres do planeta pertenciam a uma categoria inominável. Jurou nunca mais se apaixonar, que ia abraçar o celibato e passar o resto da sua vida enclausurado, alimentando seu sofrimento com porções generosas de rancor e mágoa. Viveu tudo isso? Gastou todos os rolos de papel higiênico da sua casa enxugando as lágrimas e assoando o nariz? Ótimo. Agora, tá na hora de aproveitar o pé na bunda que lhe tirou do eixo e ver que ele lhe empurrou pra frente. Por que pra frente? Elementar, meu caro Brógui. Pé na bunda não empurra ninguém pra trás. Levanta, coloca remedinho nas escoriações e procure um novo amor. Ele existe sim. O seu ex, a sua ex não é a última Coca-Cola do deserto. Tem um montão de latinhas no isopor esperando para serem saboreadas. Mais uma vez, Broguinho, ouça o que o seu guia espiritual está falando: saia do cantinho do sofrimento e olhe em volta. Achou o isopor? Abra-o. Está de esperança até a boca. É só abrir e pegar uma latinha. Não gostou? Tava sem gás? Pega outra. Tava gelada demais? Pega outra. Tava quente? Pega outra. Não tá a fim de beber agora? Não beba. O importante não é encontrar a latinha perfeita ou se obrigar a beber se não está com sede. O X da questão é saber que existem outras latinhas. Sacou?

Poderia ficar aqui falando de mais um zilhão de tipos de pé na bunda existentes, mas vou falar só de mais um. Você perdeu seu emprego ou seu negócios não suportaram a crise econômica ou a sua profissão depende de contato físico e agora não dá ou o que você fazia para ganhar dinheiro ninguém mais pode pagar. Tá na merda. As contas continuam chegando, a geladeira só tem água e lá vai você pro cantinho chorar. Vai que este pé na bunda não é a hora de você tentar outra coisa? Vai que foi aquele sacode que você precisava pra sair da inércia e mudar de ramo ou procurar outras maneiras de permanecer fazendo o que fazia mas de forma diferente? Encare como um estímulo à sua criatividade, à sua inteligência, à sua competência. Saia do cantinho, Querido. Enquanto você tá aí, parado, as oportunidades estão surgindo e você nem tá vendo. As ideias estão embotadas dentro do seu cérebro, loucas pra serem libertadas e você não está deixando. Aí você me diz : “Ah, Brógui! Tá tudo tão difícil! O mercado tá competitivo demais! Tá todo mundo duro! A economia mundial tá phodda!” Ok, ok. Eu sei disso. Minha alienação não chegou a este ponto. Não sou lá muito de matemática, mas acho que é mais ou menos assim: se você tentar, tem X% de chances de se dar bem. Se não tentar, tem 100% de chances de se dar mal. O quanto vale este X, eu não sei, mas sei que é maior do que zero. Este X, esta incógnita, é a sua esperança. Cai dentro!

Lembra do que eu falei em outra edição? Fé e esperança. A esperança alimenta-se da fé.

A porquinha

In humor on 14/01/2021 at 10:16 AM

Querido Brógui,

Achei uma porquinha na minha sala. No chão da sala do Micro, que é meu pedaço do Paraíso aqui na Terra. Ele é a coisinha mais fofa do mundo, meio fashion, meu casinha de boneca, meio baguncinha de um lar. Meu Microcosmos. Do meu jeitinho, como sempre sonhei. Bem… estou divagando. Começarei de novo.

Achei uma porquinha na minha sala. Já era noitinha, tinha acabado de encerrar meu expediente. O tal do home office que todo mundo pensava antes que era a maior molezinha. Trabalhar em casa, não ter que enfrentar trânsito, não ter que acordar mais cedo para se arrumar. Ficar em casa com roupinha de ficar em casa, sem maquiagem, sem se preocupar se o cabelo está no bad day. Fomos enganados. Tem esta parte legal, mas tem aquela parte que ninguém nos contou que é fazer o trabalho para o qual somos pagos e ao mesmo tempo lavar, passar, cozinhar, fazer faxina, ver o que está faltando em casa, fazer as compras pela internet, etc, etc, etc. Temos hora pra entrar, mas não temos hora pra sair. Se houver uma demanda aos 45 do segundo tempo, temos que atender. De todo modo, no frigir dos ovos, eu estou gostando muito. É. Todas as coisas acabam se organizando, os horários e tudo o mais. A única coisa que não gosto é que perdi o ar-condicionado. No verão do Rio de Janeiro, chegar ao trabalho e vestir um casaco era tudibom. Enfim… estou divagando de novo. Começarei de novo.

Achei uma porquinha na minha sala. Tive que montar uma estação de trabalho, comprei uma mesinha, poltrona espadar alto, desktop, coloquei meus lápis numa latinha de Coca-Cola antiga, daquelas que ainda eram de lata mesmo. Ficou uma graça ainda que o espaço seja pequeno – não estava planejado montar um escritório no meio da sala – e consegui acomodar tudo em 90 cm. Nada como pouco espaço para otimizarmos a ocupação. Nenhum centímetro é desperdiçado. Tudo é milimétricamente arrumado. Eu, acostumada com casa grande, nunca dei importância a estes detalhes. Agora, sou a mulher da trena, não tenho lugar pra entulhar nada (a propósito, tenho que desocupar o box do banheiro social, que está servindo de armário para umas coisinhas). Lá em casa, temos um brechó. É de dar medo. Só em pensar em selecionar e arrumar e se desfazer de tanto troço, fico toda arrepiada. Putz… Divaguei de novo. Começarei mais uma vez. Agora vai.

Achei uma porquinha na minha sala. Não uma porquinha de verdade. Quero dizer, não uma porquinha viva. É uma porquinha daquelas que servem para enroscar um parafuso. Uma porquinha até bonitinha, pequena, sextavada, cutcut mesmo. Como ela veio parar no meio da sala? Caiu de algum lugar e neste lugar há um parafusinho solitário, desprotegido, solto ao léu, chorando pela sua porquinha perdida. Me corta o coração pensar no pobre parafusinho pensando no porquê de ter sido abandonado pela sua amada porquinha. O que ele fez de errado? Por que ela foi embora? Nós éramos tão perfeitos juntos, nos completávamos, nos ajustávamos, éramos tão próximos um do outro e de repente ela foi embora.

Parafusinho querido. Não fique triste assim. Você não fez nada de errado, não entre nessa onda de culpa e remorso, tá? Estou ajudando a sua porquinha a voltar pra você. Ela não o abandonou, caiu no chão sem querer. Pode ter sido um movimento brusco, uma folga no aperto, mas foi um acidente. Ela sente saudades também e está doida para vê-lo de novo. Desde ontem estou procurando por você para juntá-los novamente e tenho certeza de que vou encontrá-lo. Você não pode estar muito longe. Ela está bem, guardadinha aqui em cima da mesa. Um pouco nervosa, preocupada com você, mas já falei pra ela que tudo vai dar certo. O amor de vocês é lindo, a maneira como convivem harmonicamente, cada um fazendo seu papel, sem nunca terem entrado em conflito. Ajustados num abraço bem apertadinho. É a perfeição que todos os amantes procuram e poucos encontram. Vocês encontraram. Foram feitos um para o outro e nada vai mantê-los afastados por muito tempo. Prometo que vou encaixá-lo na sua amada porquinha em breve.

Confie. Tenha fé. Não perca a esperança.

E tem que regar todo dia

In humor on 13/01/2021 at 11:27 AM
Broguinhos! Bora cantar, dançar e sorrir!

Querido Brógui,

Alguns vão lembrar desta música. Quem nunca ouviu, nunca é tarde para conhecer A Cor do Som. Banda criada em 1977, por músicos que acompanhavam Moraes Moreira quando ele saiu dos Novos Baianos. Mú, Dadi, Armandinho, Ary Dias, Gustavo Schroeter. Galera abençoada, que trouxe – e ainda traz – alegria.

Em tempos de tomatomatomatoma sentasentasentasenta, é uma bênção escutar algo que realmente vale à pena. O amor precisa para viver de emoção e de alegria e ter que regar todo dia. A rotina é a grande vilã, assim como a distância, o excesso de ocupações, a preguiça, o cansaço. Mas o amor Sim, é como a flor. Uma semente que tem que ser cuidada, paparicada, olhada. Não basta plantar e largar pra lá. Até um cacto tem que ser regado vez por outra.

Plantar amor é até fácil. Difícil é conservar e não deixá-lo morrer. Dá um trabalhão, mas trabalhão que dá prazer e muita muita alegria. Quantos têm o privilégio, como temos, de ter amores de anos, décadas? Amores que criam laços que, como disse Mário Quintana, não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. Amores regados de amor. E fé. E esperança.

Fé e esperança – Mamãe sempre falava isso. Ter fé e esperança. Fé é uma convicção. É acreditar, mesmo sem provas, mesmo que todas as evidências apontem em outra direção. Ter fé é esperar que o que queremos que aconteça, vai acontecer. Esperar com fé é ter esperança. Confiança na possibilidade. Fé e esperança andam de mãos dadas. Não consigo ver uma sem a outra. No jardim da fé eu já plantei um pé de esperança.

À fé e à esperança acrescento o amor. Fé e esperança plantados no amor. Aquele amor que vem em várias formas. Amor de amigo. Amor dado e recebido de pessoas que nem conhecemos direito. Amor de casal. Amor de familiares. Amor via internet. De máscara. No olhar, na voz. Qualquer maneira de amor vale à pena. Qualquer maneira de amor valerá.

Na linha guru espiritual, a ordem de hoje é escutar A Cor do Som, cantar junto, levantar da frente do computador e dançar. Larga tudo. Para tudo. Solte a franga. Quando acabar a música põe pra tocar de novo, de novo, de novo, aumenta o volume, cante mais alto, pule, pule, pule – até o vizinho estressado ameaçar chamar a polícia porque você endoidou de vez. Aí você bota a cara fora da janela e canta pro vizinho.

Um abraço de laço, Broguinho.

PS: De brinde, segue Mário Quintana

O Laço e o Abraço (Mário Quintana)

Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço…
Uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e
pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo
cercado de braço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
Vai escorregando…
Devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
E saem as duas partes, iguais meus pedaços de fita, sem
perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso…
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

Longe, sim. Separados, nunca.

In humor on 06/01/2021 at 10:06 PM

Querido Brógui,

A maldita pandemia impôs (pelo menos para as pessoas sensatas) o tal do isolamento social, que, para mim significa não poder estar com as pessoas que amo. Não poder estar junto pra rir, falar bobagem, fazer visitas, sair pra passear, ir para feirinha, pegar uma praia ou sentar num banquinho de praça pra ver o tempo passar.

Não poder estar junto implica em também não poder abraçar. Não poder abraçar é um comportamento antinatural para mim. Sempre fui abraçadora. Sempre gostei de agarrar bem apertado, quebrando as costelas, sentindo aquela energia boa passar de um corpo para o outro. Não é aquele abracinho nojinho, é abração mesmo, é se pendurar no pescoço do outro e sentir acolhimento, carinho, afago, segurança.

Todo mundo que conheço vez por outra se queixa da solidão, de saudades. Um suspiro melancólico escapa sempre. Mesmo quem não mora sozinho, sente a solidão. Sente falta de outros além daqueles com quem divide o teto. Sente falta de renovação, reclama que o assunto acaba e o silêncio vem. Normal. Difícil encontrar assunto novo pra conversar com alguém que está confinado no mesmo espaço 24 horas por dia por longos e longos meses. Haja criatividade! E mais difícil ainda é inventar assunto que não seja morte, doença, vacina, 2ª onda, tô de saco cheio, tô estressado, tô cansado e por aí vai. A conversa roda, roda e acaba no mesmo assunto. Deprê total.

Mas, Querido Brógui, como assumi a missão de ser seu guia espiritual mesmo estando tão na merda como você, o assunto de hoje é a existência do abraço de longe. O abraço que vem pelo telefone em ondas de empatia. O colo que vem por escrito. O amor que vem só na voz. Aquela abençoada chamada de vídeo na qual você chora e o outro puxa o lencinho. O abraço que vem dos anjos personificados nos amigos.

Hoje tive um dia péssimo. Gastei dois rolos de papel higiênico secando lágrimas e assoando o nariz. Tive falta de ar, dor de cabeça, tremedeira. Um horror. Por outro lado, tive um dia ótimo.

Tá doida, Brógui?

Tô não, Brógui.

Tô na merda, mas tô legal. Tô na merda porque estou sofrendo. Tô legal porque o sofrimento foi apaziguado pelos meus anjos. Sim, acredito em anjos. Não aqueles gorduchinhos com asinhas, mas aqueles que Deus coloca no meu caminho nos momentos de desespero. Incontáveis vezes os anjos me acolheram. Muitos de vocês provavelmente já foram anjos na minha vida e nem sabem disso, mas eu sei.

Então… Hoje, meus anjos vieram me acudir, me consolar, me guiar, passar a mão na minha cabeça e aliviar minha dor. São aqueles amigos que estão longe, sim. Separados, nunca. Aqueles que nem entendem bem o que você está dizendo ou do que você está falando, mas vão pegando uma ideia aqui, outra ali, concluem que tá feia a coisa pro seu lado e tomam para si a difícil e árdua tarefa de segurar sua mão a quilômetros de distância e puxar você pra fora da piscina de lágrimas antes que se afogue.

Aqueles serem humanos metamorfoseados momentaneamente em anjos ouvem, falam, não ouvem direito, mas falam assim mesmo, mandam inspirar, expirar e não pirar. Mandam assoar o nariz abrindo a boca pra não estourar os tímpanos. Mandam comer porque você precisa se alimentar e ficam esperando pra ver se comeu mesmo. Mandam dormir, ver um filme besta pra distrair, tomar chá de camomila. Ficam ouvindo você chorar, soluçar e só desligam o telefone quando a situação parece mais ou menos sob controle. Enviam mensagens pra checar se conseguiu descansar um pouquinho, se tomou o remedinho para dor de cabeça ou se tá precisando de mais papel higiênico. Depois ligam mais uma vez, mandam mais mensagens só pra saber se tá tudo bem ou se o drama começou de novo.

E, depois da tempestade, vem a bonança (que significa tranquilidade, acabei de olhar no dicionário). Vem aquela certeza de que tudo vai dar certo. Aquela sensação de que o pior já passou, não houve naufrágio, o barquinho continua seu rumo em direção ao lindo por de sol. Nos remos, meus anjos. No leme, este Brógui que aqui escreve sem deixar uma lagriminha cair.

Assim somos nós, Broguinho: longe sim, separados, nunca.

PS: Deixem comentários, coloquem estrelinhas, encaminhem o post pra seus contatos. As ferramentas estão logo abaixo do texto. O Brógui tá carente, precisando de abraços dos seus anjos.

Autoajuda

In humor on 05/01/2021 at 7:35 PM

Querido Brógui,

Acordei hoje com esta música. Não fui acordada por esta música. Por incrível que pareça, hoje o vizinho taxista que trabalha na madrugada desligou o rádio antes de estacionar embaixo da minha janela. Acordei com esta música porque ela estava no meu sonho.

Havia muitas pessoas, todas sentadas no chão, em silêncio, usando máscaras. De repente, assim de repente – como em todos os sonhos – começou a tocar esta música – acho que apareceu um DJ (!) – e eu me levantei de um pulo – coisa que só mesmo em sonho eu conseguiria fazer – e comecei a dançar. Acordei.

A primeira coisa que me veio à cabeça foi que eu precisava escrever pra você. Precisava contar o meu sonho.

“É a vida, é bonita e é bonita.” Gonzaguinha escreveu isso em 1982. Há 39 anos, o que estamos vivendo não passaria de um roteiro batido de filme catástrofe, daqueles bem desgracentos, cheio de lágrimas, gritos e um final geralmente feliz. Jamais pensaríamos que respirar se tornaria algo tão perigoso, que viver se tornaria algo tão perigoso, que uma normal ida ao mercado se tornaria uma aventura.

O ano de 2020 foi phodda pra todo mundo, para uns até mais do que para outros (?). Sofrimento se mensura (?). O meu parece maior do que o de todo mundo porque é meu. Simples assim. Só eu sinto e dizer que consigo imaginar o do outro é balela. Posso ser solidária, companheira, amiga, ouvir, dar palpite, consolar, segurar a mão (não, segurar a mão é coisa do passado, a menos que esteja usando luvas), mas só quem sente sabe o que sente.

Perdemos pessoas próximas ou mais ou menos próximas ou distantes mas que são próximas de alguém que é próximo de alguém próximo. Os consultórios estão lotados de gente que está somatizando e adoecendo. É. Não podemos esquecer que as demais mazelas continuam aí. Não tem doença esperando a pandemia acabar para dar as caras. Desemprego, miséria, desigualdade sempre existiram (e tá pior). Preços subindo, coisas faltando, gente se aproveitando da desgraça para enricar mais ainda e se esconder dentro de uma bolha hiperbárica, estéril e confortável. Um bunker maravilhoso e virus free. Por outro lado, outros indo pra gandaia mesmo, sem máscara, sem cuidado algum porque encheu o saco de ficar trancado em casa e com a certeza de que o vírus só pega no vizinho e não dando a mínima se vai contaminar alguém.

Os psicólogos e psiquiatras estão fazendo hora extra pra dar conta da renca de gente deprimida, ansiosa, com todas as síndromes de que já ouvimos falar e mais algumas que estamos conhecendo agora. Aumentou ou número de drogados, sejam as drogas lícitas ou ilícitas. Gente buscando a fuga ou o consolo ou um fugaz esquecimento, ou alívio. Tanto faz. É gente em sofrimento.

Ok, tá difícil de ver a boniteza da vida, mas bora procurar a beleza no fato de estar vivo? Bora lembrar que somos sobreviventes de uma pandemia (sequelados, mas sobreviventes)? Bora celebrar? Não é possível que você não tenha vivido um minutinho sequer de alegria durante o ano todo. Viveu? Lembrou? Então seja grato pela vida, que é bonita pelo simples fato de ser vida.

E Gonzaguinha canta que a vida devia ser bem melhor e será. É isso que precisamos repetir como um mantra. Talvez, pela repetição, consigamos nos convencer de que há esperança de um dia nos abraçar de novo e nas conversas mencionar algo como “nos tempos da pandemia…”. A vida será melhor. Veremos/teremos uma vida melhor porque estamos aprendendo a olhar para ela com outros olhos. Temos agora a oportunidade de uma mudança radical de paradigmas e reavaliar o que é realmente bom, necessário, legal e o que não é. Podemos mudar nossos valores e quem sabe agora consigamos perceber o que realmente importa. Bem… ao menos espero que você, Querido Brógui, consiga, como eu sei que vou conseguir. Vou me convencer disso e isso vai se tornar real.

E, falando em convencimento, comecei a ler um livro ontem. Um livro de autoajuda. É, Broguinho, cheguei ao fundo do poço, lendo livro de autoajuda, o que sempre reputei como uma sequência de baboseiras que alguém escreve para ganhar dinheiro e nos dizer que tudo o que fazemos está errado e dando soluções milagrosas para nossa vida porque somos estúpidos demais para perceber o óbvio.

De todo modo, uma das coisas que li ontem foi que a única vantagem de se estar no fundo do poço é que só tem uma direção possível: para cima. Bacana. Inspirador. Dá um gás, mas ouso discordar. Não há apenas uma direção possível. Ainda há outra opção: cavar mais e tornar o buraco cada vez mais fundo. A vida é assim, é feita de escolhas, não dá pra escapar disso. Pequenas ou grandes, é o que passamos a maior parte do nosso tempo fazendo. E, uma vez a escolha feita, já era. Não dá pra apertar o ctrl x e deletar e querer reescrever a história da sua vida. É aceitar que o efeito borboleta já está acontecendo.

Como seria a minha vida se tivesse feito outras escolhas? | O arrumadinho

Não sei quem criou este quadrinho, mas é genial. Como seria se eu tivesse entrado à direita ao invés de entrar à esquerda? Onde eu estaria? E se eu tivesse casado ao invés de comprar uma bicicleta? Este é o típico pensamento inútil, que apenas consome energia, oxida nossos neurônios e faz com que entremos num loop infinito sem concluir absolutamente nada. Conheço você, Querido Brógui, e tenho certeza de que já fez isso alguma vez e ficou se consumindo na lava do arrependimento, da culpa, do coitadismo.

E aí vem Gonzaguinha me visitar no meu sonho e me lembrar que “é a vida, é bonita e é bonita.” Aquele livro que estou lendo diz da importância do otimismo. Pensar positivo, pra cima. Ser pessimista é fácil. Não nos faltam motivos. Quero ver é ser otimista em meio ao caos. Este é o desafio que faço a você, Querido. Alimentando o pessimismo, se ainda não está no fundo do poço, está prestes a cair nele. Aliás, se está lendo atentamente esta edição autoajuda, refletiu acerca de minhas sábias palavras e chegou sua leitura até este ponto, lamento informar: você já está no fundo do poço, aceitando conselhos de qualquer um, até os meus.

Fique bem, se cuide.

AGLOMERAÇÃO

In humor on 19/08/2020 at 4:30 PM

Querido Brógui,

Quero aglomeração.

Vou repetir.

Quero aglomeração.

Quero ficar na fila do banheiro e quando entrar no reservado, quero gente batendo na porta. Quero ficar esperando para lavar as mãos e depois ver que não tem toalha de papel. Quero secar a mão na calça.

Fila… ai, que saudades! Fila pra entrar no restaurante, fila pra pesar o prato, fila pra pagar… Quero muitas filas. Para ir ao cinema, ir ver uma exposição. Quero entrar na fila para um evento gratuito. Estas são as melhores: gente furando fila, aquela minhoca que a gente não sabe onde começa e onde acaba, aquela gente impaciente que fica colada na sua bunda mesmo que você tente manter uma distância higiênica. Não quero mais distância higiênica. Chega de andar com uma trena para saber se a criatura está guardando um metro e meio de distância.

Sonho em ir a um show e aquela fulana suada passar por mim me empurrando sem pedir licença e muito menos desculpas. Ou então aquele cara com bafo de cerveja derrubar metade do copo na minha cabeça e seguir em frente depois de reclamar que eu é quem estava no caminho dele. Quero gente pisando no meu pé e sujando meu sapato. Quero ficar na cuspideira, onde é mais apertado ainda, onde você pula se todo mundo pula e tenta respirar com um escafandro.

Sabe o que mais? Quero SAARA de manhã e calçadão de Madureira à tarde. No mesmo dia. Ouvir gritaria, confusão, empurra-empurra, levar sacolada nas canelas e bolsada nas costelas. Andar pela rua porque não tem espaço nas calçadas. Comer podrão em pé no meio-fio.

Não ando de coletivo, mas quero andar. Metrô da Carioca à 17:30 com aquela parada na Central me agarrando no poste para não ser ejetada. Ônibus sem ar-condicionado. Em pé. Sendo jogada pra lá e pra cá pelo mau-humor do motorista. Descer no ponto errado porque não deu tempo de chegar na porta.

Preciso ir para a academia. Ouvir aquela música ensurdecedora e ficar esperando para sentar naqueles aparelhos imundos e, quando sentar, ouvir a perua perguntar se já estou acabando, se dá pra revezar.

Quero praia lotada, criança correndo por cima da minha canga, olha o mate, biscoito grobo. Cachorro sacudindo o pelo na minha cara, levar bolada de altinho tentando chegar na água. Procurar vaga pra estacionar e ser obrigada a pagar uma fortuna ao flanelinha pra depois ver que ele meteu o pé assim que tomou o meu dinheiro.

É isso. Confessei. Agora, não me venha jogar este post na minha cara depois. Quando inventarem a vacina, quando todos estivermos imunizados contra este maldito vírus, quando o mundo parecer menos esquisito, voltarei a ser nojinho, reclamar de tudo, ficar de cara amarrada quando alguém encostar em mim. Combinado?

Minha vida tá tão boa

In humor on 11/12/2017 at 4:49 PM

Querido Brógui,

Este post fica mais legal ouvindo este fundo musical. Pode dançar também. E cantar. A letra é facinha. Se conseguir ler, ouvir, cantar e dançar ao mesmo tempo, ganha o prêmio Brógui do Ano.

Este ano foi corrido, como todos. Acho até que correu mais rápido. Eu corri rápido, corri muito, acabo o ano exausta. Mas sabe de uma coisa? Foi um ano muito legal pra mim.

Estou de bem comigo, acho que estou uma pessoa melhor, acho que estou menos chata, um pouquinho mais tolerante (um pouquinho já é alguma coisa). Bem, a impaciência continua. Não aprendi ainda a esperar e aceitar que o tempo do mundo não tem que ser o meu tempo. Continuo exigindo muito de mim, mas estou conseguindo me perdoar e (finalmente) sacar que sou humana (demasiadamente humana, como disse Nietzche).

Estou de bem com meu corpo. Depois de muito brigar contra a natureza, decidi me juntar a ela. Calma. Não vou me largar. Continuo vaidosa. Só que (finalmente) aceitei que o tempo passa. E com a passagem do tempo, as coisas mudam mesmo. Não dá pra querer ser como há vinte ou trinta anos atrás. Vou ser bonita e gostosa agora, com a idade que eu tenho (aliás, cá pra nós, sabe que me olho no espelho e acho que estou cada dia melhor?). Algumas batalhas já foram perdidas mesmo. E daí? Os hormônios descacetaram, as celulites tão alí e não vão embora, a pele vai perdendo um pouco da firmeza (tento compensar com meu caráter), meus cabelos brancos são bonitos, brilhosos, cor de prata (tô no projeto “xô tinta”, vamos ver que bicho que dá). Vou pra academia pra não entrevar, pra injetar serotonina nas veias, mas não pra ser madrinha de bateria.

Estou de bem com meus amigos. Os melhores, mais legais, mais divertidos, mais inteligentes, mais crocantes do mundo. Amigos de todas as idades, orientações, credos. Todos lindos, especiais, únicos. Todos escolhidos e colhidos ao longo do tempo. Não nos vemos sempre? Ou quase nunca? É chato, mas eles estão ali. E eu estou aqui. E vez por outra a gente se fala como se tivesse se falado ontem. Em meia hora faz-se o resumo de tudo, rimos até ficar com dor no maxilar, nos abraçamos, trocamos energia positiva. Prometemos não nos perder e não nos cobramos um suposto abandono.

Consegui realizar um sonho. Comprei meu Microcosmos. Agora o próximo sonho é deixá-lo bem bem bonitinho, bem aconchegante. Pra quê? Ter o meu canto ora, do meu jeito. Aí todo mundo faz a mesma pergunta: “E os seus pais? Como vai ser?”. Vai ser como é possível ser. O Microcosmos é pertinho, vai ser um pé lá outro cá. Chato? Não. É ótimo. Tenho meus pais vivos e este ano (finalmente) aceitei que isso não é apenas um fardo (sem hipocrisia, quem cuida de velho ou de criança sabe que a tarefa é pesada). Ter meus velhinhos comigo é uma bênção. Claro que reclamo (e muito), claro que toda a minha vida é em função deles, mas estou de bem com isso também. O Microcosmos será meu refúgio, meu retiro, minha casinha de boneca pra eu brincar com meus amigos.

Por fim, mas não menos importante, estou de bem com o amor. Fiz as pazes com Eros e Afrodite. Depois de ter oficialmente pendurado as chuteiras, batido no tatame, pedido pra sair, encontrei meu Namoradinho das Galáxias (por que este codinome? porque ele mora a 40 km de distância de mim, praticamente em outra galáxia e também porque ele é o melhor namoradinho de todas as galáxias conhecidas e desconhecidas). Ele é perfeito? Não. Nem eu sou. Mas somos perfeitos juntos. Vivo este amor um dia de cada vez. Não faço planos para um futuro muito futuro (ele faz e eu acho isso fofo demais). Difícil foi aprender a falar no plural depois de tanto tempo single. Mas acho que aprendi.

Conseguiu ler, ouvir, cantar e dançar? Posso colocar seu nome na premiação do Brógui do Ano?

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