Querido Brógui,
Fui ao Rock in Rio no sábado. Foi bem legal, vi o tão falado show do Bruce Springsteen, larguei meus pés e meus joelhos no gramado sintético – que não passava de um tapete verde colado no chão. Tudo limpinho, Senti uma certa saudade da lama, da falta de infraestrutura e da bagunça da primeira edição.
É, Brógui, eu fui no primeiro Rock in Rio, era uma mocinha, menor de idade, quase um bebê. Fui todos os dias, dez dias seguidos. Eu sempre digo que, com menos de dezoito anos, a criatura faz qualquer coisa, por mais insalubre, perigosa e desaconselhável que seja. Sem grana, passando fome e sede, chafurdando, amarradona. Ao invés de canga, capa de chuva feita com saco de lixo.
Vi todos os shows, de toda a qualidade. Vi artistas que nunca mais verei, já se foram cantar em outra dimensão. Vi grupos que se desfizeram, brasileiros que estão aí até hoje nos brindando com sua música, jovens que amadureceram junto comigo e não tão jovens que envelheceram e continuam em plena atividade.
O transporte era meio desorganizado, mas funcionava. Havia linhas especiais que passavam por todos os bairros, não tinha essa complicação de comprar bilhete antecipado pela internet e buscar depois não sei onde e depois ir pro ponto final não sei onde. Na volta, era meio salve-se quem puder – e todo mundo se salvava. Chegava em casa direitinho, tomava banho e saía de novo para mais um turno
Comprar ingresso? Fácil. Era só comprar. Nada de entra no site, imprime voucher, entra na fila, troca pelo convite, mostra identidade, CPF, exame de sangue.
Às vezes penso que organização demais atrapalha, tira o charme.
Você, maldoso, tá pensando que eu, toda metida a europeia, que reclama de horário, de bagunça, de desinformação só posso estar de caô. Tô não.
Quando a gente é adolescente – lembra que você já foi um?- não tá nem aí pra essas coisas. Vai à praia de ônibus, torra o dia inteiro sem filtro solar e fica feliz porque nossa pele virou um maracujá de gaveta. A gente senta no chão mesmo, sem se preocupar se os fundilhos vão ficar sujos, come porcaria o dia inteiro porque nunca ouviu falar em colesterol ou triglicerídeos. Não tem um tostão furado pra chamar de seu, então não fica com essa frescura de pegar táxi.
Saudosismo? Não. Sim. Sei lá. Saudosismo é querer que o tempo volte? Ou querer que pare de passar tão rápido pra dar tempo de viver mais? Talvez um pouco de saudades de mim mesma, quando tinha mais disposição para mais coisas, ou quando era menos seletiva, menos exigente, menos chatolina. Muito complexo.
De todo modo, na hora de voltar do show, matei as saudades dos tempos de adolescência (e rapidamente voltei a mim mesma). Não tínhamos como pegar ônibus, ou táxi, ou van, ou nada. Sentamos à beira do caminho, no meio da estrada, depois de andar alguns quilômetros pensando numa saída digna para a situação. Ela veio em forma de uma carona – paga, obviamente – de um casal.
Moral da história? Depois dos quarenta eu quero mordomia, conforto, mimo. Quero área VIP, quero banheiro limpo, quero carro com ar-condicionado, quero poltrona. Da adolescência, bastam meus amigos.
É verdade… A idade nos deixa mais seletivos… Às vezes dá saudades de ser mais adolescente de vez em quando… Bjs
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