Fatinha

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Então é Natal

In Sem categoria on 20/10/2008 at 12:53 PM

Querido Brógui

“Então é Natal…”
Ô musiquinha enjoada! O gênio conseguiu pegar uma canção maravilhosa e transformar numa execrável versão cantada de forma churumelosa  e fazer sucesso com isso. Genial! Eu nunca tive uma idéia brilhante dessas. Das muitas idéias brilhantes que tive, nenhuma me rendeu sequer um centavo.
Descobri que já é Natal, pelo menos para o comércio, quando entrei nas Lojas Americanas e estava tocando essa versão ad nauseam. Sim, porque não basta você ter que ouvir uma vez, você fica tomando essa lavagem cerebral por no mínimo trinta minutos (que é o tempo que leva para entrar na loja, achar o que quer, comprar o que não precisa e bater em retirada).
Em frações de segundos, ouvindo Simone, você realiza que é Natal, que mais um ano se passou, que você não conseguiu executar tudo o que planejou, que aquelas promessas do final de 2007 foram pras picas, que o seu 13º salário também já foi pras picas e que agora já era.
Não, Querido Brógui, nada de tristeza. Agora é hora de se preparar psicologicamente para encarar a chatíssima alegria de final de ano.
Se você tem família grande, problema na certa. As festas de final de ano são perfeitas para reunir todas aquelas pessoas que, por um motivo justo, não se vêem e nem se falam durante todo o ano. Que motivo justo? Elas não se suportam, claro. Pertencer à mesma família não passa de um descuido cármico. Às vezes essas pessoas nem mesmo compartilham o DNA, então temos o cunhado, o primo de quarto grau, o tio do primo do cunhado de quarto grau. Juntamos isso à bebida, ao excesso de comidas engordativas e pronto: barraco garantido.
Se você não tem família ou tem um núcleo familiar reduzido, problema também. Como encarar sem depressão os olhares piedosos das pessoas que descobrem que não vai rolar ceia na sua casa pelo simples fato de que não tem ninguém pra comer peru com você? Dureza.
Agora, o pior é quando você não dá a mínima pra esses festejos de final de ano. Tem que ser muito macho para admitir perante o Universo que anda pra isso tudo, que Natal é a celebração do nascimento de Jesus e não pretexto pra trocar presentes e que na virada do ano nada excepcional acontece além de ter que comprar um novo calendário. Na maioria das vezes, pra não ter que ficar se justificando o tempo todo pra todo mundo, você entra no jogo e finge. Assim todo mundo fica feliz e o saldo final é menos um pária no mundo. Tudo bem que para entrar no jogo é necessário ter cacife pra comprar lembrancinhas (coisa de pobre!) pra todo mundo, bater chifre no shopping, dar tapinha nas costas do colega de trabalho que lhe sacaneou o ano inteiro, estapear-se no mercado pelo último pernil do freezer. Tudo bem, já que optou pela hipocrisia, leve-a às últimas conseqüências.
E o tal do amigo oculto? Você por acaso alguma vez recebeu de presente uma coisa de que realmente gostou? Não vale aquela vez que passaram a listinha na qual todo mundo, na maior cara de pau, escreve o que quer ganhar. Assim é fácil. Aliás, eu acho que é tão sem-graça que melhor seria estipular um valor e todo mundo colocar aquela quantia num envelope e trocar os envelopes. Melhor ainda: cada um compra o que quer ganhar, entrega pro seu amigo oculto que lhe entrega de volta no dia da confraternização. Perfeito mesmo é acabar com esse negócio de amigo oculto. Poupa tempo, trabalho, neurônios, frustração, uma nova ida ao shopping para trocar o presente, a cor, o tamanho, encarar as vendedoras cheias de má vontade por estarem ali trabalhando sem ganhar comissão.
Seja lá a que grupo você pertença, aos felizes genuínos, aos hipócritas conformados ou aos párias, antecipadamente desejo a você um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo (mais clichê que isso, impossível).

A quem interessar possa

In Sem categoria on 17/10/2008 at 6:59 PM

Querido Brógui

Uma leitora traumatizada hoje me abordou para dizer que gosta tanto do que eu escrevo que morre de vontade de repassar os meus textos, mas não o faz porque eu proibí. Que fique registrado: superem o bloqueio emocional, essa minha fase tiranossaura, que ameaçava de morte quem divulgasse meu besteirol, já passou. Repassem, repassem, repassem. Enviem para toda a sua lista de amigos e para a dos inimigos também. Agradeço com os olhinhos marejados de lágrimas essa demonstração de apreço.  Beijocas. 

Outra coisa: descobri que o prazo de validade das publicações aqui na página do Terra é de um ano. O que eu escrevi em outubro do ano passado foi para o limbo da Internet. Então, a hora é essa: quer ler ou reler a produção de novembro de 2007, corre lá no arquivo antes do final do mês. Caso contrário, vai ter que cantar , aos prantos,  "Quem comeu, comeu, quem não comeu, não come mais."

PS: Essa vai dedicada à Lili, a traumatizada. Valeu o toque!

PS 2: mandei você ir ler a produção de novembro, não foi? Pois é, foi mal. Em novembro não teve produção alguma, eu estava de molho, me recuperando de uma cirurgia. Pra não perder a viagem, leia a de dezembro.

 

Cretinices

In Sem categoria on 17/10/2008 at 6:20 PM

Querido Brógui,
Essa edição é em homenagem a nós, professores, e à nossa árdua batalha no dia-a-dia. Não é inédita, aliás, pra falar a verdade, nem requentada mesmo é. Digamos que ela é "trequentada". Ela é datada de 2002, não havia nem ainda o "Querido Diário" e, quando ele nasceu, eu requentei. Sendo assim, é a terceira vez que empurro o mesmo texto pela sua goela abaixo e ele ainda é, seis anos depois, a fiel, pura e cruel realidade de meu alunado.
Lá vai:

"Querido Diário,

Neguinho fica por aí espalhando que essa humilde e simpática professora de História é grossa, que é malcriada, que tem tolerância zero. Já me disseram que eu rosno e que meu olhar irado congela qualquer criatura num raio de cem metros.
Após o meu relato, diga sinceramente se a cretinice do alunado tem limites. Se você não é professor ou nunca teve contato com crianças, atire a primeira pedra.

Cretinice 1
Sete horas da manhã, cara inchada, ainda com cheiro de travesseiro, chegando ao meu local de trabalho, sabendo que vou ter que encarar dúzias de adolescentes e pré-adolescentes e crianças e colegas e etc, etc, etc.
“A senhora vai dar aula?”
“Não, eu não vou dar aula, só vim aqui porque acordei as cinco e meia da manhã e como não tinha nada melhor pra fazer eu vim aqui passear e ver se você estava bem de saúde.”

Cretinice 2
Mesmo contexto.
"A senhora veio?”
“Não, eu não vim. O que você está vendo é um holograma, está tendo uma visão do inferno, você está sonhando e tendo um pesadelo.”

Cretinice 3
Mesmo contexto.
“Por que a senhora veio?”
“Por que você veio?”

Cretinice 4
Dia de prova.
“Professora, eu não assisti a nenhuma aula da senhora. O que eu escrevo na prova?”
“Seu nome. E vê se põe letra maiúscula.”

Cretinice 5
O trabalho é para ser feito em folha separada para que eles me entreguem no final da aula.
“Precisa colocar o nome e a turma?”
“Não. Ontem comprei pilhas novas pra minha bola de cristal.”

Cretinice 6
Seis meses depois de iniciado o ano letivo, o aluno pergunta: “Qual é mesmo a matéria que a senhora ensina?”
“Grego arcaico.”

Cretinice 7
Acabo de passar um exercício no quadro.
“É pra copiar?”
“Não. É que eu estava com vontade de me sujar toda de giz, cheirar um pouquinho de pó e ficar com câimbra no braço.”

Cretinice 8
Continuando a cretinice nº 7, o aluno copia tudinho.
“É pra fazer?”
“Não. Leva pra casa que sua mãe responde pra você.”

Cretinice 9
Já em desespero, com a bexiga quase explodindo, pego a bolsa e aviso que vou descer.
“A senhora vai pra casa ?”
“Não. Vou usar o banheiro aqui da escola mesmo. "

Cretinice 10
Dando continuidade, provando minha tese que cretinice não tem limites, o aluno retruca:
“Vai fazer o quê?”
“Brincar de amarelinha.”

Está com pena dos alunos? Tá achando que sou demasiadamente cruel, irônica, debochada e deseducadora? Pois você não entende nada de educação.
Passados alguns meses nessa salutar convivência, ao ouvir perguntas cretinas, apenas digo em voz baixa e com um sorriso sarcástico nos lábios: ”É pra eu responder ou se trata de uma pergunta meramente retórica?” E o aluno, que é cretino, mas não é burro, rapidamente responde: “É meramente retórica.”
Viu? Eles sabem o que é retórica. Sou ou não sou uma professora de mão cheia?

Esse texto é dedicado à Michelle, minha ex-aluna, futura professora, provando que ainda há almas a serem salvas nesse mar de cretinice e que, por essa almas, vale o sacrifício.

A máquina de lavar

In Sem categoria on 13/10/2008 at 4:07 PM

Querido Brógui

Segunda-feira, dia de corno. Nada como uma edição do Querido Diário requentada para começar bem o dia. Essa é do início de 2007.

“Querido Diário

Cássia está com tendinite. Não veio trabalhar essa semana toda. Aqui em casa a roupa é lavada semana sim, semana não. Como essa era a semana sim que virou semana não, na sexta-feira percebi aterrorizada que não me restava limpo um pé de meia, uma blusinha, uma roupinha de ginástica, nadinha. Minhas gavetas estavam completamente vazias e o cesto de roupa suja completamente cheio. O meu terror veio da dupla constatação: 1) eu teria que encarar uma lavação de roupa; 2) tenho bem menos roupas do que gostaria de ter. Das duas, a última foi a que mais me doeu, é claro.
Então, cheguei ontem do curso já preparada psicologicamente para dar uma de peniqueira. Enquanto almoçava, lembrei-me vagamente de que não dominava a complexa técnica de operar a nova máquina de lavar. Pode parar de rir, essa é uma tarefa difícil, sim, nem vem. Poucas pessoas a sabem executar com maestria.
Bem, como penica que é penica não foge à luta, peguei o cesto de roupas sujas, fui lá pra trás, dei uma olhadinha nos botõezinhos daquela coisa (é botão que não acaba mais, a outra máquina só tinha o de ligar e o de desligar), tentei adivinhar como aquilo funcionava, não consegui e acabei por me render à leitura do Manuel.
Na máquina antiga, a gente primeiro enchia de água e depois botava a roupa. Foi o que fiz, coloquei a máquina pra encher enquanto lia as instruções. Aí, dez páginas depois, chegou numa parte que dizia: “nunca encha a máquina de água antes de colocar as roupas”. Danou-se. Já comecei errando. Desliguei rapidinho e pensei em esvaziá-la pra botar a roupa e depois encher de novo. Só que no Manuel não ensinava como tirar a água da máquina. Não sucumbi à tentação de tirar a água de dentro dela com um balde, achei que seria burrice demais, até para mim. Decidi colocar a roupa com ela cheia mesmo, qual o problema? Na medida em que fui colocando a roupa, o nível de água foi subindo, subindo. Simples lei da física aplicada à atividade peniqueira. Enquanto isso, continuei lendo as dicas do Manuel e cheguei na parte que ele dizia: “o nível da água não pode passar do quarto furo da bacia.” Que bacia? A bacia aqui de casa não está furada… É até relativamente nova… Não, sua Anta, a bacia da máquina, disse-me o Manuel. Parei de colocar roupa antes que transbordasse, liguei novamente a máquina e ela começou a bater.
Daí o Manuel me disse: “coloque o sabão em pó e o amaciante nos recipientes devidos.” Danou-se de novo! Esqueci que tinha que colocar sabão em pó e amaciante. Abri a máquina pra colocar o tal do sabão em pó e o amaciante e ela parou de bater. Pronto! Quebrou. Não, sua Anta, toda vez que você abre a tampa, ela pára. Ah, tá. E cadê os tais dos recipientes devidos? Achei. Comecei a puxar e o treco não abria a tampinha. Lógico, sua Anta, não é de puxar, é uma gavetinha dividida em duas metades. Qual será a metade pra botar o sabão? E cadê o sabão? Onde será que a Cássia esconde o sabão em pó e o amaciante?
Vitória! Imagina se eu, com dois cursos superiores completos, mais de mil livros lidos, curso de inglês na Cultura, vinte anos de magistério e dez anos de academia de ginástica, iria ser derrotada por uma simples máquina de lavar! Fiquei contemplando minha façanha, embevecida, toda orgulhosa, quando de repente a bicha parou de bater de novo. Agora danou-se mesmo. Dessa vez eu consegui quebrar a máquina. Minha mãe vai me matar e o pior é que depois de morta ainda vou ter que lavar essa montanha de roupa no tanque!
Fiquei alguns minutos olhando para a máquina, em estado de choque, tentando inventar uma boa mentira pra contar pra minha mãe e ao mesmo tempo pensando como iria fazer pra tirar a roupa e a água de dentro daquela meleca. Repentinamente, ela começou a bater de novo. ???? É que o ciclo de lavagem completa tem uma batidinha e um intervalo pro molho, outra batidinha, outro intervalo, sua Anta! Legal, entendi.
Dei conta de toda a roupa da casa após três ciclos de lavagem completa. Pendurei tudo na corda, subindo e descendo as escadas para o terraço com as bacias cheias. Pura aeróbica.
Finalizei a missão com a alma lavada e enxaguada, como dizia Odorico Paraguaçú. Nada como um servicinho de corno pra deixar a pessoa livre de quaisquer problemas existenciais, emocionais, sexuais ou financeiros."

Pensando gordo

In Sem categoria on 12/10/2008 at 10:36 AM

Querido Brógui

Rapidinho: na mesma revista, veio uma matéria sobre o uso da terapia cognitivo-comportamental para emagrecer. Pobres psicólogos sérios que trabalham nessa linha… Além de solução mágica para o TOC, depressão, ansiedade, stress pós-traumático, fobias, vícios em jogo, bulimia, agora vão ter que dar conta dos gordinhos. O pior é ter que explicar para essa galera que terapia não é milagre, que o processo pode ser rápido ou não, que é necessário separar o joio do trigo…
Mas não é isso que quero falar. Lá no meio da matéria tem um quadro “O pensar gordo e o pensar magro”. Depois de ler atentamente como funciona a cabeça de um gordo e de um magro, concluí que sou, irremediavelmente uma magra com cabeça de gorda. Eu busco conforto na comida, às vezes como compulsivamente, tenho fome de doce, quando perco peso retomo meus horríveis hábitos alimentares ao invés de prosseguir na reeducação alimentar, quando engordo penso que jamais vou conseguir perder aquele quilinho, me sinto injustiçada porque tem gente que come e não engorda, não tenho hora certa pra comer.
Acho que vou ter que trabalhar isso com a minha terapeuta.

Diarréia mental

In Sem categoria on 12/10/2008 at 10:21 AM

Querido Brógui

Como hoje é domingo, não vou lhe servir uma edição requentada. Pra você, com amor, uma fresquinha.
Estava eu folheando a revista em busca de alguma coisinha leve para ler, o que é difícil atualmente em meio a essa crise no mercado financeiro que deixa até os modestos poupadores de cabelo em pé. O pior é que quanto mais os especialistas tentam me tranqüilizar, mais nervosa fico, porque esses caras… não sei não. Mas, enfim, encontrei uma pérola que estimulou a minha produção de veneno. Pegue rapidinho seu soro anti-ofídico pra se garantir.
O título da entrevista com a atriz Cláudia Alencar é: “Ama a si próprio como a ti mesmo”. Vou repetir: “Ama a SI próprio como a TI mesmo”. FALA SÉÉÉÉRIO, como dizem meus alunos. Num relance, a dona já diz a que veio. A cidadã já começa mal, misturando a primeira com a segunda pessoa. Normal.
A atriz bate ponto na telinha na novela pra lá de trash “Os Mutantes” da Record, que, a propósito, aconselho dar uma olhadinha por três minutos. Não passe desse tempo, os danos cerebrais podem ser irreversíveis. Tudo certo, tá ganhando seu dinheirinho honesto, mas isso não é salvo-conduto para abrir sua torneirinha de asneiras.
Numa tentativa de travar um papo-cabeça com a entrevistadora, a criatura diz que o “ama ao si próprio como a ti mesmo” vem da filosofia hinduísta que deu origem a cristianismo. Hã? De onde ela tirou essa informação? Deixa pra lá.
Gentilmente, ela é corrigida: “Não seria ama ao próximo como a ti mesmo?” OK. Há vida inteligente no mundo jornalístico. Ponto para a entrevistadora.
Acho que a atriz leva muito a sério sua filosofia de vida. Só quem ama a si própria como a ti mesma tem uma auto-estima tão inabalável a ponto de falar tanta abobrinha com tanta autoridade sem perder o rebolado. Admirável.
Sentido firmeza nas suas palavras, ela continua a bostejar, afirmando que os físicos dizem que com a maternidade a pessoa entende o lado divino do ser humano e passam para uma segunda dimensão. Deixa eu ver se eu entendi: de acordo com a física, há uma segunda dimensão, que tem a ver com o lado divino do ser humano e só quem tem passe livre para essa dimensão são as mães. Tenho amigas que são mães e que jamais mencionaram ter mudado de dimensão. Será que as mães podem transitar livremente entre as dimensões? E por que elas nunca me contaram como é por lá? Será que é algum segredo guardado tipo aquelas sociedades secretas? Vou investigar isso, detesto me sentir excluída. Se há uma outra dimensão, eu quero ir, nem que tenha que ter um filho para isso.
Para finalizar a diarréia mental, a moça, que também escreve poesia, arremata: “A ansiedade é falta de delicadeza com o andar da natureza.” Deixa eu ver se entendi. (…) Não, não entendi.

Tá com problema?

In Sem categoria on 08/10/2008 at 6:46 PM

Querido Brógui

Olha só: eu perguntei se era pra parar de requentar e você não respondeu. Como diria o “velho deitado”, quem cala consente. Sendo assim, mais um texto direto do microondas, em “homenagem” à derrota do Candidato Universal…

“Querido Diário

“Você que tem problemas com SPC, Serasa, títulos protestados, nome sujo na praça, falta de crédito em bancos, problemas com o dízimo, participe da Corrente da Prosperidade na Igreja Universal.” Assim anunciou o carro de som.
Então, você que está na merda total trate de se organizar, abrir um espaço na sua agenda e dar uma passadinha na Universal hoje ainda, que é o dia da Corrente da Prosperidade.
Mesmo que você seja um safado de carteirinha, tome pirulito da boca da criança, tenha feito compras com o décimo terceiro salário que não saiu, deixou rolar o carnê da Casas Bahia, mandou a Casa e Vídeo pra casa do cacete ou mesmo enfiou o cacete na sua mulher, não tem problema. Vai lá que o pastor resolve.
Se deixou de pagar o dízimo, aí eu não sei como vai ser. É tipicamente um conflito de interesses. Afinal, como o pastor vai intervir a seu favor se você não pagou pelos serviços prestados? Aliás, se você tá tão mal na fita, o serviço não foi prestado e então é caso de apelar para o Código de Defesa do Consumidor. Eu não sei como funcionam as instâncias do tribunal divino, mas creio que você, contratante, pode apelar para a exceptio non adimpleti contractus, ou a exceção do contrato não cumprido. Não sabe o que é isso? Tudo bem. Eu também não sei se escrevi a expressão em latim corretamente. Em síntese, quer dizer que você pode deixar de cumprir sua parte no contrato se a outra parte também descumpriu a dela.
Se não for o suficiente, amanhã é o dia da Sessão do Descarrego. Se sua dureza é devida à macumba, nome na boca do sapo, pomba-gira, mau-olhado, vai lá. Se for preciso o pastor lhe quebra todo de porrada. Você vai direto pro Souza Aguiar, mas o encosto sai (até porque não tem encosto que agüente uma internação no Souza Aguiar). Com encosto ou sem ele, você ainda pode meter uma ação de indenização no pastor. É dinheiro certo. O STJ garante (obs: na época tinha acabado de ser publicada uma decisão nesse sentido). Daí resolve-se o problema inicial. Tudo não começou com a falta de dinheiro? Pronto. A Universal resolveu de um jeito ou de outro.

Andando de ônibus

In Sem categoria on 07/10/2008 at 7:22 PM

Querido Brógui,
Essa é também de 2006 e já estou estourando a semana comemorativa. Quer que eu pare de requentar textos?

Querido Diário

Não gosto de andar de ônibus por algumas poucas razões. Vou fazer uma breve listinha:
Porque tenho que andar até o ponto, porque tenho que ficar em pé esperando, porque tenho que andar em pé dentro dele, porque um monte de gente desconhecida fica encostando em mim, porque tenho que segurar naqueles ferrinhos asqueirosos onde todo mundo põe a mão, porque tenho que sentar naqueles bancos onde todo mundo põe a bunda, porque tenho que descer dele e andar até o meu destino, porque ele pára em quinhentos pontos antes de chegar onde eu quero, porque ele passa em quinhentos lugares antes de chegar onde eu quero, porque as pessoas fedem às sete horas da manhã e fedem mais ainda às seis da tarde, porque as pessoas falam ao berros no celular sem se mancar que estão em público e que meu ouvido não é penico, porque tem sempre um infeliz pedindo desculpas por atrapalhar a minha viagem mas que está vendendo dois saquinhos de bala, três jujubas e uma caneta Bic por um real e eu devo ajudar porque é melhor ele estar ali trabalhando do que estar roubando e Deus me acompanhe o resto da viagem, porque tem sempre uma mulherzinha que joga a bolsa na minha cara quando passa pelo corredor e tem sempre um ser involuído jogando o *** na minha cara quando passa pelo corredor.
Só. Acho que é só isso.
Eu o-dei-o o transporte coletivo, mas ainda o utilizo porque não tem jeito mesmo. Ir pra cidade de carro é enlouquecedor, é pior que andar de coletivo. Procurar vaga é algo que me deixa fora de mim. Sempre me lembro daquele filme “Um dia de fúria”. Identifico-me totalmente com o personagem do Michael Douglas e me vejo dando porrada em guardador, socando pedintes, largando o carro no meio da Presidente Vargas com o freio de mão puxado, dando com a tranca do carro na cara do guarda, essas coisas.
Hoje peguei um coletivo. Nem percebi que era um sem ar condicionado. Sentei no quentão, estava um calor danado, pensei no meu cabelo escovado que estava começando a encolher e comecei a me distrair olhando as figuras que passavam pela roleta.
De repente, entra no ônibus um homem todo suado, sem camisa. Fiquei gelada e olhei para o lugar vazio ao meu lado. Rapidamente fiz uma súplica a Deus: "Senhor, não permita que esse homem se sente aqui!!!" Deus, ocupado com coisas mais importantes, não atendeu à minha prece. Tudo bem. Vai ver que eu merecia mais esta provação na minha vida.
O homem sentou ao meu lado. E, não apenas sentou, mas ENCOSTOU EM MIM!!!! Encostou aquele braço nojento, suado, cheio de pelos nojentos e suados no meu bracinho limpinho, com cheirinho de Dove. Nem disfarcei a careta, me encolhi toda no cantinho, só faltei pular pela janela. O que o cara fez? Se acomodou mais ainda e ENCOSTOU EM MIM DE NOVO!!!
Obs: daí vem a minha teoria de que as pessoas espaçosas só são espaçosas porque a gente dá espaço pra elas. Quanto mais a gente se encolhe, mais o espaçoso se espalha, já que pra ele, todo o espaço do mundo lhe pertence e você não faz mais do que sua obrigação ao se encolher pra ele se esticar.
Voltando…
Me encolhi mais ainda, tentei salvar o meu cabelinho do contato daquele ser abjeto. Sabe o que o cara fez? ABRIU AS PERNAS!!!! Sim. Porque não bastou ele se refestelar no encosto, ele tinha que abrir espaço no chão também. Aí, eu já com câimbra, toda encolhida, contraída, torta, temendo que meus membros gangrenassem, pedi licença pra me levantar. Ele deu? Não. Eu tive que me espremer entre ele e o banco da frente para poder passar, o verme não arredou um milímetro.
Passei. Taquei a bolsa na cara dele (tudo bem, é de pano e já foi pra lavar), pisei nos dois pés dele com o saltinho da minha sandália e ainda derrubei o jornal O Povo da mão dele. Não pedi desculpas, lógico, e fui sentar no assento do outro lado do corredor. (sim, tinha banco vazio, ele sentou do meu lado só pra me sacanear).
Desci dois pontos depois. Passei pelo corredor como um elefante furioso (lembrei da mãe do Dumbo), atropelei todo mundo, dei bolsada, pastada, livrada, pisada, bundada… Todos os passageiros foram vítimas da minha ira.
Cheguei em casa, tomei um banho de duas horas com escovão e caco de telha, desinfetei minha pasta e meu livro, taquei fogo na minha roupa e conjurei todos os demônios do reino abissal para que amaldiçoassem as empresas de transporte coletivo e em especial aquele asqueiroso que encostou em mim.
É, Querido Diário, você hoje conheceu minha faceta má. Como May West disse: “Quando eu sou boa, sou boa, mas quando eu sou má, sou melhor ainda”.

Inteiramente ensaboado

In Sem categoria on 06/10/2008 at 3:42 PM

Querido Brógui,

Essa edição não é uma edição, são duas em uma, visto que… Bem, você vai entender.

‘Querido Diário,

O que é pior?

1. Ir tomar banho e o telefone tocar, quando você já está inteiramente ensaboado.
2. Ir tomar banho e o celular tocar, quando você já está inteiramente ensaboado.
3. Ir tomar banho e o carteiro tocar a campainha, quando você já está inteiramente ensaboado.
4. Pedir ao carteiro para voltar depois, porque você está inteiramente ensaboado e ter que fingir que não percebeu que ele estava rindo da sua cara.
5. Ter que atender a campainha de novo porque a empregada esqueceu de pedir o dinheiro da passagem e mandar ela esperar um pouquinho porque você já está inteiramente ensaboado.
6. Ter que voltar para o banheiro e acabar de tomar banho em dois segundos porque está caindo um temporal e a empregada e o carteiro estão no portão esperando.
7. Ter que sair na chuva depois de um banho quente para pegar a correspondência e dar metade de todo o dinheiro disponível na casa para a empregada.
8. Ter que enxugar o chão do banheiro, do corredor e da sala três vezes.
9. Perceber que o tapete da sala continua inteiramente ensaboado.
10. Pegar um resfriado porque ficou pra lá e pra cá inteiramente ensaboado.

Querido Diário

Cheguei do trabalho, guardei as compras do mercado, fui limpar o cocô que a Ala fez no meio do quintal, aproveitei a viagem para colocar remédio no machucado de sua patinha e passar uma escova em seu pêlo. Limpei e temperei a carne para o almoço de amanhã, cozinhei o jantar do cãozinho, tirei o lixo de dentro de casa e o coloquei perto do portão para o lixeiro recolher amanhã de manhã. Guardei as roupas passadas, lavei a louça de ontem, gravei um CD que minha colega pediu, troquei a fita de impressora, separei a roupa suja, vi meus e-mails.
Ufa!!! Agora é hora do banho, pra tomar coragem pra estudar.
Entro no box, me ensabôo, toca a campainha: “51! Correio! 51! Correio!”.
Depois dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.”

Carnaval

In Sem categoria on 04/10/2008 at 6:25 PM

Querido Brógui,

Chegamos a 2006. Tá ficando difícil de fazer uma seleção. Essa aqui tá imperdível. Tenho certeza de que vão lembrar.

“Querido Diário,

Inicio essa edição do Querido Diário Politicamente Incorreto para falar do Carnaval, festa do povo, cartão postal do Brasil e celebração do profano enquanto manifestação cultural da massa.
Jamais gostei, ainda que mamãe na minha tenra idade tivesse investido nesse aspecto da minha educação. Punha fantasia e tudo. Já saí de oncinha, de índia, tenho fotos para provar. Mas nunca passou disso. Meus pais me levavam para ver o carnaval na Cidade, desfile do Bafo da Onça e do Cacique de Ramos. Até pro Cordão da Bola Preta eu fui. Bailinho de clube, 28 de setembro pra ver os blocos de quinta categoria (onde eu me admirava com os travestis, já que isso que sempre me pareceu estranho).
De nada adiantou todo esse trabalho de base. Eu não consigo ver a menor graça nessa festa. Gosto apenas do clima de férias coletivas, nada funcionando, todo mundo imbuído desse go for it.
Então vou passar ao X da questão. Vou meter o pau (sem duplo sentido) no carnaval, começando pelas Escolas de Samba.
Fala sééééério! O que são aqueles carros alegóricos com aqueles bonecões horrorosos? A Vila Isabel, campeã, orgulho do bairro onde moro sempre, trouxe o Simon Bolívar numa pose “tô cagando em pé”. Aquela outra, acho que a Unidos da Tijuca, trouxe um bebê que parecia o filho do Chuck afro-americano (simbolizando sei lá o que). Sim, tem toda uma explicação pra tudo…
E aquele monte de penas, de brilhos, de dourados? Uma ode ao cafona.
E as pobres das baianas marchando uma atrás da outra?
E as alas coreografadas? Quer coisa mais anti-carnaval do que esse excesso de organização? Já que é pra entrar na avenida, que se pule, se brinque. Ficar de passinho marcado parece parada de 7 de setembro (ainda existe isso?).
E aquele monte de bundas? Das mais variadas cores e formatos, mas todas invadindo o meu campo de visão. Queria saber quem foi que associou o carnaval à mulher pelada. Acho que foi Joãsinho (com s??????) Trinta. O que tem a ver, desculpem o trocadilho, o cu com as calças? E os peitos-bolota? Nem que um terremoto abalasse todo o planeta, os peitos-bolota não se moveriam.
E os sambas que não são sambas? É uma batida acelerada (outro dia li que era assim pra dar tempo de atravessar toda a passarela sem estourar o tempo) que desafia o preparo físico do folião. Por falar em estourar o tempo, por que ao invés de colocar quatro mil cabeças correndo não aumentam o tempo do desfile e diminuem o ritmo? Vai demorar muito? Grande coisa. Faz mais um dia de desfile, vende mais ingressos, mais merchandising, mais talentosos comentaristas falando, falando, falando (porque pra ficar horas a fio comentando o incomentável é preciso ser muito bom).
E esse negócio de campeonato? É a síntese do espírito competitivo capitalista selvagem (pronto, baixou a professora de História) tomando conta da festa. Por que não desfilar pra fazer bonito, só pelo prazer de fazer bonito? Por que não desfilar para deleite das quatro mil pessoas que se dispõem a isso? Por que não desfilar para o deleite de quem se dispõe a assistir? Pra que esse negócio de jurado? Julgar o que? Qual o critério para tirar um décimo daqui e colocar ali? Pra que ser bi, tri, tetra? Deixa isso para os esportes. Ou sambista agora é atleta? Daqui a pouco vão querer botar as Escolas de São Paulo pra competir com as do Rio.
Saindo da Escola de Samba, passando a falar (mal) dos blocos. Não cabe na minha humilde inteligência que tantas pessoas tenham a satisfação de ficar levando pisada no pé, cotovelada nas costelas, passada de mão na bunda, fazer xixi em banheiro químico (quando tem), sentir o contato agradável de um monte de gente suada, melada, cheiro de cc, engarrafamento pra ir e pra voltar, bafo de cachaça, batedor de carteira… Pra mim, isso é o retrato da ante-sala do inferno!
Só de ver o Galo da Madrugada pela televisão, começo a passar mal.
Em Olinda, além de tudo, ainda é subindo e descendo ladeira. Não é bacana? Pisada, mão na bunda, cotovelada, inhaca, bexiga cheia, trombadinha e ladeira acima, ladeira abaixo, ladeira acima, ladeira abaixo. É inenarrável.
Salvador eu conheço in loco. Fui ver o carnaval, numa derradeira tentativa de incorporar o espírito momesco. É assustador. Dentro da corda, fora da corda, em cima da corda, qualquer lugar é péssimo (tirando um camarote regado, para o qual eu não fui convidada). Tive o prazer de dar de cara com a pipoca do Chiclete na contramão. Encostei num muro qual uma lagartixa, porque como diz o ditado: quem tem cu tem medo. Não posso deixar de confessar: a Timbalada (de longe e de cima) é uma coisa linda! Também gostei de ver a atuação da polícia baiana carregando meliantes pela cueca (o cara vai na pontinha do pé que nem uma bailarina) e passando pela multidão sem nem amassar a farda (é impressionante como eles conseguem abrir caminho em um lugar que não tem espaço nem pra passar vento). Fora isso, é droga pra todo lado, das lícitas às ilícitas. E aquela coisa nojenta de ficar beijando na boca de quarenta pessoas por dia.
Bem, isto é tudo o que me lembro de dizer acerca dessa grande festa popular que atrai milhares de estrangeiros em busca de turismo sexual, gays em busca de “homens sem preconceito” (li essa expressão no jornal), biscateiras em busca de divulgação gratuita de seu instrumento de trabalho, artistas e "celebridades" em busca de boca-livre, jornalistas em busca de uma fofoca quente ou de um bom escândalo e por fim o mais importante: o “povo brasileiro sofrido” em busca de quatro dias de alienação total.
Mas, pra quem gosta da coisa, nada de tristeza. Vem aí a Copa do Mundo. Mais uma oportunidade para sair mais cedo do trabalho, contratar a bateria de uma Escola de Samba, encher a cara, abraçar um suado e fedido ilustre desconhecido e curtir um carnavalzinho fora de época. Tomara que o Brasil chegue à final. (Chegou? Nem lembro.)

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