Querido Brógui,
Acordei hoje cedinho morrendo de vontade de dar um pulinho na praia. Calibrar o bronzeado, sabe? Olhei pro céu, tava à meia-boca. Não valia o sacrifício de pegar o carro, caçar uma vaga, encarar o perrengue.
Fiz umas coisinhas no computador e olhei novamente pro céu. Tava abrindo o tempo, já era tarde, mas tomei coragem. Fui.
Depois de uma volta infrutífera pelas bandas de Ipanema, voltei pra Lagoa, deixei o carro por lá e fui andando, andando, andando… Léguas e léguas debaixo do sol, desviando de toneladas de lixo deixadas pelos foliões e com sede.
Vinícius de Moraes. Ok. Ficarei por aqui mesmo. Não. Ficaria por ali mesmo não fora o som de um funk estúpido vindo de um carro de som estúpido cercado por pessoas estúpidas.
Quebrei para a direita. Joana Angélica. Ficarei por aqui mesmo. Uma breve parada na padaria para comprar uma Coca e um saquinho de palitinhos de queijo a peso de ouro. Ok. Quem tá na chuva é pra se queimar.
Praia lotada e eu já me perguntando que diabos eu estava fazendo ali, ao invés de estar dormindo. Posicionei-me num pedacinho micro de areia, o mais perto da água possível, peguei meu livro e, entre uma linha e outra, procurei abstrair o calor filhodaputa e a infestação de crianças mal educadas que insistiam em pisar no espaço delimitado pela minha canga.
Lá pelas tantas, quando o milésimo monstrinho passou, sem cerimônia alguma, por cima da canga, atropelando inclusive minha bolsa, resmunguei: “Adoro crianças… com batatas!”
O rapaz que estava perto de mim sorriu, os amigos dele sugeriram que eu reposicionasse minha canga pra não dar passagem e daí em diante o inferno ficou mais palatável. Começamos a conversar e a rir e o bate-papo rendeu.
Lição número 1 do dia: no inferno tem gente legal.
Lição número 2: nada como um bom papo pra esquecer dos riscos do câncer de pele.
PS: Antes que você fique todo assanhadinho achando que arrumei paquera na praia, vou logo informando: o rapaz é casadíssimo e eu sou uma mulher de respeito, tá?
Lição número 3: os melhores assentos sempre estão ocupados.
Por tudo isso que praia no Rio nunca mais. Bj
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Muito bom!
Bjs.
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Muito bom, Fatinha!
Faz algum tempo que você não “se solta”, como se diz na gíria.
Acho que foi o espírito do carnaval (de porco, claro), haja vista ser a festa da carne.
Um beijão.
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Fátima, parabéns! Escrita ágil, bem humorada e direta! Como te falei, a ironia fina é uma das suas maiores qualidades. Tô rindo até agora e ansioso para ver a próxima postagem! Beijos!
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