Querido Brógui,
Depois das férias, depois do carnaval, depois da preguiça, voltei pra academia. Por motivos alheios à minha vontade, estou precisando frequentar aquela antessala do inferno no turno da noite.
É, a antessala do inferno é lotada, cheio de meninos tatuados, meninas louras desfilando suas roupitchas e professores que ignoram qualquer ser humano que aparente ter mais de vinte anos de idade – eu, por exemplo.
No primeiro dia, quase enlouqueci com o barulho do vozerio e do som de boate bate-estaca. Me refugiei numa aula de matpilates – seja lá o que isso queira dizer- que ao menos tinha uma musiquinha suave de fundo e o professor não ficava esbravejando como um cão raivoso. Estourei o joelho bichado e desde então vivo de gelo e anti-inflamatórios diariamente. Mas não desisti.
No segundo dia, coloquei tampões nos ouvidos, patrocinados pela Air France. Curiosamente, os tampões que servem para abafar o ruído da turbina do avião de nada adiantam para abafar o som ambiente da sala de musculação.
No terceiro dia, levei os fones de ouvido para escutar uma musiquinha no meu celular. Lembrei que outro dia tinha usado esse recurso para conseguir dormir não obstante no prédio ao lado tivesse rolando uma festinha regada a pagode, axé e funk, uma combinação que atenta contra os direitos humanos. Até que funcionou, com um pequeno porém: cheguei pouco antes das dezenove horas e o que foi que ouvi? A Voz do Brasil. Bem, até esse programa é melhor que a trilha sonora escolhida para animar a galera da malhação. Afora isso, foi bem instrutivo.
Ouvi que o Sapo Barbudo se diz um cara da paz desde o útero de sua mãe. O mesmo Sapo Barbudo que afaga todos os ditadores do planeta e chama os dissidentes de Fidel de bandidos. Ok, vamos à próxima notícia.
Vai para tramitação no Congresso o Código de Defesa do Cidadão ou coisa que o valha. Mais leis para serem descumpridas em nome de uma demagogia barata.
O STJ não considera que passageiros da empresa aérea Gol tenham sido ofendidos porque os funcionários chamaram a polícia só porque eles carregavam dinheiro demais na bagagem e acharam que eles eram assaltantes de banco. Tudo bem que é meio esquisito a essa altura do campeonato os cidadãos desconhecerem o uso do cartão de crédito e viajam com dinheiro vivo, mas cada louco com a sua.
Mas, nem todas as notícias da Voz do Brasil são ruins. Soube que os soldados brasileiros em missão no Haiti deixam de comer seu café da manhã e levam escondido nos bolsos pães, chocolates, maçãs e iogurtes para distribuir para as crianças pelas ruas de Porto Príncipe. Pois é, Brógui, nem tudo está perdido. Nossos bravos soldados se comovem com a desgraceira alheia e deixam de comer para alimentar o próximo sob a vista grossa de seus superiores – orgulhosos da demonstração de solidariedade dos seus comandados.
PS: enquanto pedalava, li numa revista acerca do barraco do Adriano, um cara que se auto-denomina Imperador mas só se sente confortável na Chatuba. Pelo que entendi, tava todo mundo de cara cheia, inclusive o amigo de infância dele que é o chefe do tráfico da favela e que depois do ataque de pelanca da noiva-loura, ela foi devidamente escoltada pelos traficante até os limites do seu território sob a recomendação expressa de que se ela desse trabalho fosse amarrada numa árvore até se acalmar. Bonito, não? O Imperador manda mesmo…
PS 2: quem disse que academia é lugar de emburrecimento?