Querido Brógui
Ser advogado é, mais do que conhecer a lei, saber manipular as palavras. Advogado é a raça mais picareta que existe. Se conseguir escrever bem e falar bem, já tem meio caminho andado.
Estamos em época de eleições na OAB. Minha caixa postal vive entupida de propaganda eleitoral, recebo pelos Correios trilhões de jornaizinhos e panfletinhos, a cidade inteira tem estampada a cara dos candidatos. Uma chatice só, mas, tudo bem, a democracia, blá blá blá.
A coisa começou a ficar esquisita quando recebi um comunicado informando que “a Ilustre Colega deverá exercer o seu direito de voto no dia, horário e no local abaixo indicados.” Peraí! Fico toda arrepiada quando leio na mesma frase as palavras: “deverá” e “exercer o direito”. No meu singelo entendimento, há um certo nonsense quando tenho obrigação de fazer algo a que tenho direito. Meus direitos são garantidos, graças à Constituição, mas isso não quer dizer que tenho que exercê-los.
Na lei sempre são separados os direitos e os deveres, menos em se tratando do voto. Quando se fala em voto, vem atrelada a obrigatoriedade. Mas, como estamos falando em convocação feita pela OAB, não se menciona a compulsoriedade. Não vem escrito: “a Ilustre Colega é obrigada a votar.” Claro que não. A OAB não vai dar esse mole, vai brincar com as palavras para o remédio parecer ser menos amargo.
Tá bem, eu sei que a obrigatoriedade do voto não é invenção da OAB. Sei que se reproduz um modelo, mas esse modelo está errado. Se é democracia, por que o cidadão tem que votar, mesmo que não esteja a fim? E não me importa se não quer porque tem preguiça, porque tá fazendo sol e prefere ir à praia, se é porque não tem nenhum candidato que vá de encontro às suas convicções, ou porque acha que qualquer um que seja eleito será a mesma porcaria. Não me interessa. Eu posso, mas não quero. É simples assim.
Agora, fiquei danada da vida mesmo foi quando recebi uma mensagem pelo celular. Aí foi demais. Quem deu meu número para a criatura? Quem foi que autorizou o bonitão a me incomodar no sacrossanto recesso do meu lar, no domingo, só pra me lembrar que amanhã vou ter que me despencar pros quintos dos infernos, na hora do meu almoço, debaixo de sol, entrar numa fila e ainda ter que enfrentar cabos eleitorais risonhos, enfiados em seus terninhos, tentando me vender um candidato aos quarenta e cinco do segundo tempo?
Eu não tinha candidato, mas agora já decidi: meu voto, esse não leva. Abusado!
PS: não vou dizer o nome dele, tá? O cara é advogado, vai que resolve me processar porque o chamei de bonitão?
Você ainda perde tempo pensando nessa bosta?
Desculpe-me o linguajar chulo, mas é que me irrito diante dessas “jogadas” já sem sentido pra nós, com um mínimo de entendimento sobre essa parafernália apelidada de democracia.
Desde há exatos 34 anos que deixei de votar em alguém.
Se o voto é obrigatório, anulo. De vez em quando “fico doente”, impossibilitado de comparecer às urnas. Justifico.
Esquece isso menina. Só o fato de pensar já é de mau agouro.
Beijão.
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Querida Vevê,
Não sei se serão utilizadas urnas eletrônicas ou as velhas e boas cédulas. De todo o jeito, sempre tem como anular.
Bjs
Paz
PS: Senti uma certa insinuação de sua parte… hehehe
PS 2: dizem que no inferno tem um lugarzinho especial para “os colegas”. O capeta não quer que eles se misturem com os outros porque acha que aí seria sofrimento demais.
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Olá Fatinha!!!
Penso exatamente como você… ser obrigado a exercer meu direito de voto! Obrigação e direito não combinam na mesma frase.
Desculpe a ignorância, mas me esclareça uma dúvida: existe a possibilidade de anular o voto nessa eleição da OAB?!
Ah, advogados são capazes de enganar o próprio diabo, não confio em 1% dos existentes!
Beijo!
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