Querido Brógui,
Tudo o que eu faço no trabalho submeto à apreciação do meu Gerente. Tudinho mesmo. Pô! Mas você já está lá há quase um ano e ainda não aprendeu a fazer o seu serviço? Tô aprendendo, tô melhorando, mas mesmo que já estivesse 100%, faria do mesmo jeito. É assim que aquela Gerência funciona – e muito bem, obrigada. Não existe trabalho solitário. De uma maneira ou de outra, todo mundo dá piruada no trabalho de todo mundo, trocando informações, reclamando das reclamações, rindo dos absurdos, ajudando ao outro sempre que possível. Se algum dia duvidei da existência e eficácia do trabalho em equipe, agora não mais. E o Gerente sabe tudo o que acontece, aconteceu e está para acontecer. E dá piruada em tudo.
Bem, então é assim: faço um ofício, vou mostrar. Faço uma planilha, vou mostrar. Faço um email sobre um assunto mais complexo, envio primeiro pra ele dar uma olhadinha. Invariavelmente ele rabisca tudo e manda fazer de novo. Coloca isso, tira isso, endireita a margem, muda as palavras, coloca em negrito, sublinha, puxa setinha pra lá e pra cá. Às vezes a parada fica tão rabiscada que nem ele entende. Daí ele vai e escreve tudo de novo. Geralmente, depois da 15ª versão, ele se dá por satisfeito. Não fico aborrecida, nem acho chato porque sei muito bem o que é ser perfeccionista. É incontrolável. Os que sofrem desse mal fazem a mesma coisa centenas de vezes e sempre acham que não tá bom ainda.
Hoje, fiz um despacho. Não, não é de macumba. Embora, cá pra nós, todo dia surge um problema para cuja solução uma galinha preta bem gorda com farofa amarela e Velho Barreiro seriam bem úteis. É outro tipo de despacho. Daquelas coisas que funcionário público usa pra mandar o processo pra frente, digo, dar andamento. Escreve daqui, apaga dali, control C, control, V. O que foi mesmo que ele disse ontem? Eu devia ter anotado. Meu HD tá precisando de um upgrade. Pronto! Acho que ficou bom.
Já viu? Não. Vou ver. Leu, leu, leu. NÃO DEU NEM UMA RISQUINHO! NÃO MUDOU UMA VÍRGULA! Apenas assinou. É bem verdade que ele ficou todo empolado, morrendo de vontade de dar uma rabiscadinha, mas apenas fez uma breve recomendação, disse que estava excelente e pronto. Eu só não dei pulinhos porque além de eu estar de salto alto, ia ficar meio ridículo sair saltitando pela sala só por causa de um despacho bem feito. Ninguém ia entender, eu ia ter que explicar e ninguém ia entender do mesmo jeito. Ou melhor, uma pessoa entenderia. É. Ele mesmo, o Gerente, que conhece um pouco desse meu lado perfeccionista-neurótico. Ele entenderia, mas ficaria constrangido. Resolvi poupá-lo de minhas manifestações de entusiasmo. Então, soltei uns foguetes imaginários dentro da minha cabeça e me dei por satisfeita.
Acho que eu deveria ter tirado uma cópia do tal despacho pra mandar emoldurar. Seria um exagero?
Não tem exagero nenhum! Parabéns pelo trabalho! E eu é que sou virginiano…
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Muito bom o artigo! A sua alegria é compreensível, conheço essa emoção. Tive muitas no início da carreira!!! Apenas um senão: nosso gerente perfeccionista? Acho que não……….
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Claro que não é exagero! Todo trabalho bem feito, merece ser lembrado. A experiência e a prática só vem com o tempo, e vc teve humildade de perguntar sempre, o que é fundamental.
Bjs.
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rsrsrsrs….imaigino os foguetes!!
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Não, não seria nenhum exagero; adoro guardar um acórdão ou uma sentença favorável.
Cada um com suas manias.
Beijos.
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