Querido Brógui,
Já escolhi a metáfora de hoje. Adoro metáforas. Jesus ensinava por parábolas, eu prefiro as metáforas. É isso mesmo? Estou me comparando a Jesus? A megalomania bateu à minha porta? Isso é grave. Em tempos de messianismo, todo cuidado é pouco. Vai que eu surto e resolvo iniciar uma seita ou me candidatar à presidência? Ou pior: vai que você resolve aceitar e concordar com tudo o que eu digo, sem questionar, como se fossem verdades absolutas? Vamos cortar logo o mal pela raiz. Eu não sou o Messias, não atingi a Iluminação, não tenho a menos pretensão de ser governante e tampouco sei como a vida funciona. Sou um mero aprendiz que gosta de compartilhar seus aprendizados.
Vejo a vida como um rio. Tem a nascente, corre corre corre e deságua no mar. Não para, não volta, é um fluxo contínuo do início ao fim. E tem você, com seu barquinho. Ou iate. Ou canoa. Escolhe aí. Eu gosto de barquinhos.
Nascemos, ganhamos de presente um barquinho e somos colocados no rio. Começa aí a grande aventura.
Tem momentos tranquilinhos, que dá até pra dar um mergulho e relaxar. Tem momentos turbulentos, como quando você dá de cara com uma correnteza e é preciso tomar cuidado para o barquinho não virar (sugiro sempre usar um colete salva-vidas). Dependendo da força da água, pode até perder o remo. Tudo bem. Dá uma paradinha numa lojinha de conveniência e compra outro.
Há sempre a possibilidade de uma queda d’água, com fortes emoções, mas tudo bem, o importante é não entrar em pânico e se isso acontecer, peça ajuda. Inspire, expire e não pire.
Em determinados pontos, há vários caminhos a seguir. Há as escolhas que vão determinar o rumo seguinte, que vão determinar o rumo seguinte e que vão determinar o rumo seguinte. Nessas horas, cabe uma ponderação, se possível. Não sendo possível (às vezes não dá tempo de pensar muito), opte pelo que lhe parece melhor naquele instante. Se der merda, não caia na cilada de ficar remoendo o ” e se”. E se eu tivesse pego o outro caminho, será que seria melhor ou mais fácil ou mais rápido? Bobagem. Perda de energia. Você não pode voltar. Já era. Solte um putaquepariu e aceite docemente as consequências. Aprenda. Culpa, arrependimento, remorso não cabem no barquinho. Pesam demais, fica difícil navegar assim.
Pilotando seu barquinho, pare de vez em quando na margem pra descansar. Limpe seu barquinho, jogue fora o entulho que acumulou, guarde somente o necessário, evite a tentação de comprar um maior pra caber mais coisas. Como eu já disse, o peso é um inimigo. Descansou? Volte para o rio.
O seu navegar não precisa ser solitário (a menos que queira) Pode levar alguém junto, dividindo o espaço do barquinho, ou pode navegar em comboio, cada um no seu, cada um no seu ritmo, cada um livre para pegar outra rota. Pode marcar de encontrar em algum lugar, ou daqui a alguns dias. Programar encontros e despedidas. Pode pegar uma carona, se estiver muito cansado (lembre de oferecer carona também).
Uma última recomendação: cuide do rio, cuide do seu barquinho, cuide-se.