Fatinha

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Melhor sentir demais a não sentir nada

In humor on 29/10/2014 at 10:42 AM

Querido Brógui,

Acordei bem cedinho, antes do despertador. É um momento especial, um silêncio aconchegante. Olhei pela janela. O dia ia ser ensolarado. Adoro dias assim. Dias nublados me fazem sentir nublada.

Fui fazer minha canequinha de café, sentei no degrau da varandinha dos fundos e, enquanto ouvia o despertar dos passarinhos, fiquei pensando em como viver é bom e este pensamento me levou às lágrimas de felicidade.

Lembrei das minhas viagens, dos shows que assisti, de todas as conversas e risadas que dei. Lembrei do rosto das pessoas que me fazem feliz e da saudade que sinto delas. Pensei em como eu perco tempo com coisas inúteis, ideias inúteis e pessoas inúteis. Prometi não fazer mais isto.

Vi uma vez num filme um personagem dizer que havia tanta beleza neste mundo que às vezes sentia que não ia dar conta. Sinto o mesmo. O mundo me envolve de tal forma que chega fico sem fôlego. Fico tentando, sem sucesso, sorver, mas não dá. Mesmo com meu olhar embaçado, com um foco que meu cérebro nunca reconhece, já vi – e pretendo continuar vendo – o que a natureza fez e o que o Homem fez. Minha fome jamais será saciada, as horas do dia são poucas, os meus neurônios não são suficientemente velozes para fazer todas as sinapses necessárias.

Tento, também sem sucesso, evitar que o que não é bonito me atinja. Para me proteger, criei casca, uso máscara, capacete e armadura. Assumo ares de fortaleza para sobreviver, já que tudo o que eu sinto, eu sinto demais. Melhor assim. Melhor sentir demais a não sentir nada, mas confesso que às vezes gostaria de ser um pouquinho menos eu. Acho que seria mais fácil.

Da minha janela vejo o Pão de Açúcar e o Morro da Urca. No meio do caminho entre meu olhar e o bondinho há uma árvore com as folhas em tons rosados. O céu está limpinho. Dá pra não chorar?

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