Querido Brógui,
Cheguei de viagem, problemas na reentrada, semaninha que me custou alguns milímetros dos meus molares. Mas, já assumi meu lado Pollyanna, que associado à minha cada vez mais forte crença nos anjos, fez com que eu sobrevivesse.
Pollyanna? É aquela do jogo do contente. Sempre há um lado positivo nas coisas ruins, mesmo que às vezes não o vejamos logo de cara. É um exercício de procurar e a cada vez fica mais fácil. Tente.
Anjos? Sim. Acredito neles. E os vejo. Não aqueles gorduchinhos de asinhas, mas os personificados. Hein? É assim: sempre que estou com alguma dificuldade, surge alguém que dá uma mão, um ombro, uma palavra, algo que me ajuda a resolver o problema. Comecei a classificar essas intervenções humanas como divinas e esses seres humanos como anjos. Há muitos na minha vida. Aqueles de plantão, aqueles esporádicos, aqueles que nunca mais verei. A maioria nem tem noção de que um dia foi (ou ainda é) um anjo.
Então, a semana passada, tentei (e consegui) segurar a onda olhando pro lado bom de levar uma bola nas costas e rezando por todos os anjos que passaram pela minha frente, que não foram poucos. Quando desatava um nó, surgia outro. Aí vinha o anjinho e desenrolava a parada. Aí enrolava de novo, vinha outro e desenrolava. A situação não está como eu gostaria, mas está melhor do que estava há oito dias atrás.
Ok, pra você não morrer de curiosidade, vou fazer uma breve exposição do ocorrido.
Sobrei na escola. Tenho que cumprir doze tempos de aula e só me foram dados seis. O que fazer com os outros? Complementação de carga horária em outra unidade. Uma aporrinhação! Ter que ir na Metropolitana (que é mais ou menos uma coordenadoria), ficar numa fila mega enorme – assim como eu, um monte de professores estão sobrando e voando e cumprindo carga em duas, três ou mais escolas. É, Brógui. Quando você sobra e vai ver a carência, dificilmente encontra uma escola pra se enfiar com seus tempos. O professor, contratado para cumprir dezesseis horas, acaba fazendo dedicação exclusiva porque há que se considerar o tempo que gasta pulando de uma escola pra outra. Já pensou se o pobre pega uns tempinhos na segunda, uns na terça, outros na quinta, uns de manhã, outros à tarde, outros à noite, uns no Méier, outros no Leblon, outros na Praça Seca (quem mora no Rio tem ideia do que falo)? isso sem contar no dinheiro gasto na condução e na escola particular que ele não vai poder trabalhar porque tá com o horário todo quebrado.
Isso vem acontecendo há algum tempo e tem a ver com redução de carga horária em algumas disciplinas, fechamento de escolas, implementação de alguns projetos diferenciados. Não vou falar disso tudo porque é um saco pra quem não é da área. O fato é que já há alguns tempo está o maior barata-voa. A cada semestre, os professores se preparam para o pior, que é ser pego com as calças na mão, sem ter pra onde ir – e tendo que ir mesmo assim.
Pois é. Dessa vez foi a minha vez. Estou apenas em duas escolas, procurando pensar que de repente é uma boa essa mudança de ares, que afinal o Jardim Botânico não é tão longe, que é só um dia na semana, que verei a Lagoa.
Depois dessa semana, veio o finde: João Pedro veio visitar, cada vez mais lindo e fofo e inteligente e safo. Bão em casa, sua simples presença me conforta. Dia dos pais. Festa de aniversário animada (depois conto, merece post exclusivo). Reencontro com amigos.
Essa semana vai ser melhor.