Querido Brógui,
Tô de barriguinha cheia, a comida daqui é nada leve e olha que tô tomando um digestivo logo após as refeições, mas fico sempre me sentindo uma surucucu depois de comer um bezerro inteiro.
Ontem, a alvorada foi às cinco da manhã, só que não por engano. Dei uma chegadinha em Salzburg, terra de nascimento de Mozart e da Família Von Trapp. Aliás, Mozart morou em um monte de lugares, nasceu em Salzburg, foi para Viena, passou por Praha, até em Bratislava o cara trabalhou. Oito horas por dia compondo. Um braçal.
Mas, em Salzburg, que significa “terra do sal”, o legal mesmo é ver os lugares onde foi filmado aquele filme e lembrar das músicas e das cenas. Vi a Igreja do casamento. Vi os jardins do Dó, ré, mi. Vi as catacumbas onde eles se esconderam depois do show. Não vi o anfiteatro, só com visita guiada e não dava tempo. O guia estressado engatou uma sexta e saiu trotando. Tudo porque uns turistas se perderam no caminho e perdemos preciosos minutos esperando ele encontrar os desgraçados.
Peguei o funiculare pra dar uma olhadinha no castelo lá em cima, não dei o mole de subir a pé. A cidade é uma coisinha linda também, pena que essa coisa e visita guiada é meio corrida e Salzburg fica a três horas daqui de Viena. Ir e voltar no mesmo dia é pesado, tem que ser na correria. Abri mão do almoço pra poder andar um pouquinho mais. No ponto de encontro, uma montoeira de ônibus de turismo, que não são autorizados a entrar no centro histórico, óbvio. E os ônibus param, a turistada entra rapidinho e parte, porque também não pode ficar parado esperando. Mais dois elementos do grupo sumiram, o guia saiu bufando atrás dos cabras enquanto o motorista ia dar a volta pra pegá-los no meio do caminho.
Observei que há grupos enormes de velhinhos viajantes. Uma gracinha! Eles passam o dia numa cidadezinha qualquer e vão embora. As senhorinhas todas arrumadinhas, uma grande parte de muletas, bengalas, nada impede os velhinhos europeus de curtir a vida.
Passei a viagem tagarelando com uma francesinha. É, achei uma francesa que falava inglês. Tosco, mas falava. Ela confirmou que os franceses se recusam a aprender inglês, e que em Paris, todos são uns metidos. Aliás e a propósito de papo furado, puxo conversa com todo mundo. Nada parecido com o poço de antipatia que sou normalmente.
Na viagem de trem de Praha pra cá, cinco exaustivas horas, vim trocando ideias com um russo. Um rapazinho que mora em Viena e saiu da Rússia fugindo do serviço militar obrigatório. Disse que não volta mais, porque se voltar, pegam ele. O serviço militar lá é barra pesada, segundo ele. Faz o treinamento dos caveiras parecer um piquenique na praia. Falamos de tudo um pouco, o garoto era inteligente e esclarecido.
Hoje minhas vítimas foram um casal de americanos moradores de Chicago. Almoçamos juntos, falamos sobre corrupção e correlatos. Ponto em comum: os políticos, em sua maioria são uns aproveitadores e o povo, burro. There is a especial place in the hell for them!
No barco, tricotei com uma egípcia. Assunto: a crise lá na terra dela, como eles estão tentando proteger os seu patrimônio histórico da estupidez dos radicais (tentaram botar fogo num acervo enorme e só não conseguiram porque outro grupo fez uma parede humana na frente do prédio). Morro de aflição só em pensar no dano irreparável que esses monstros podem vir a causar. Ela disse que um ex-ministro da cultura andou negociando com outros países pra tirar esses tesouros de lá, mas há coisas que não podem simplesmente ser encaixotadas e enviadas pra fora do país. Como empacotar uma pirâmide?
Conclusão: conhecer lugares diferentes é legal, colecionar imãs de geladeira também, mas bom mesmo é conhecer pessoas de lugares diferentes e colecionar histórias.