Fatinha

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In humor on 15/07/2013 at 3:37 PM

Querido Brógui,

Tô de barriguinha cheia, a comida daqui é nada leve e olha que tô tomando um digestivo logo após as refeições, mas fico sempre me sentindo uma surucucu depois de comer um bezerro inteiro.

Ontem, a alvorada foi às cinco da manhã, só que não por engano. Dei uma chegadinha em Salzburg, terra de nascimento de Mozart e da Família Von Trapp. Aliás, Mozart morou em um monte de lugares, nasceu em Salzburg, foi para Viena, passou por Praha, até em Bratislava o cara trabalhou. Oito horas por dia compondo. Um braçal.

Mas, em Salzburg, que significa “terra do sal”, o legal mesmo é ver os lugares onde foi filmado aquele filme e lembrar das músicas e das cenas. Vi a Igreja do casamento. Vi os jardins do Dó, ré, mi. Vi as catacumbas onde eles se esconderam depois do show. Não vi o anfiteatro, só com visita guiada e não dava tempo. O guia estressado engatou uma sexta e saiu trotando. Tudo porque uns turistas se perderam no caminho e perdemos preciosos minutos esperando ele encontrar os desgraçados.

Peguei o funiculare pra dar uma olhadinha no castelo lá em cima, não dei o mole de subir a pé. A cidade é uma coisinha linda também, pena que essa coisa e visita guiada é meio corrida e Salzburg fica a três horas daqui de Viena. Ir e voltar no mesmo dia é pesado, tem que ser na correria. Abri mão do almoço pra poder andar um pouquinho mais. No ponto de encontro, uma montoeira de ônibus de turismo, que não são autorizados a entrar no centro histórico, óbvio. E os ônibus param, a turistada entra rapidinho e parte, porque também não pode ficar parado esperando. Mais dois elementos do grupo sumiram, o guia saiu bufando atrás dos cabras enquanto o motorista ia dar a volta pra pegá-los no meio do caminho.

Observei que há grupos enormes de velhinhos viajantes. Uma gracinha! Eles passam o dia numa cidadezinha qualquer e vão embora. As senhorinhas todas arrumadinhas, uma grande parte de muletas, bengalas, nada impede os velhinhos europeus de curtir a vida.

Passei a viagem tagarelando com uma francesinha. É, achei uma francesa que falava inglês. Tosco, mas falava. Ela confirmou que os franceses se recusam a aprender inglês, e que em Paris, todos são uns metidos. Aliás e a propósito de papo furado, puxo conversa com todo mundo. Nada parecido com o poço de antipatia que sou normalmente.

Na viagem de trem de Praha pra cá, cinco exaustivas horas, vim trocando ideias com um russo. Um rapazinho que mora em Viena e saiu da Rússia fugindo do serviço militar obrigatório. Disse que não volta mais, porque se voltar, pegam ele. O serviço militar lá é barra pesada, segundo ele. Faz o treinamento dos caveiras parecer um piquenique na praia. Falamos de tudo um pouco, o garoto era inteligente e esclarecido.

Hoje minhas vítimas foram um casal de americanos moradores de Chicago. Almoçamos juntos, falamos sobre corrupção e correlatos. Ponto em comum: os políticos, em sua maioria são uns aproveitadores e o povo, burro. There is a especial place in the hell for them!

No barco, tricotei com uma egípcia. Assunto: a crise lá na terra dela, como eles estão tentando proteger os seu patrimônio histórico da estupidez dos radicais (tentaram botar fogo num acervo enorme e só não conseguiram porque outro grupo fez uma parede humana na frente do prédio). Morro de aflição só em pensar no dano irreparável que esses monstros podem vir a causar. Ela disse que um ex-ministro da cultura andou negociando com outros países pra tirar esses tesouros de lá, mas há coisas que não podem simplesmente ser encaixotadas e enviadas pra fora do país. Como empacotar uma pirâmide?

Conclusão: conhecer lugares diferentes é legal, colecionar imãs de geladeira também, mas bom mesmo é conhecer pessoas de lugares diferentes e colecionar histórias.

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In humor on 15/07/2013 at 1:14 PM

Querido Brógui,

Obrigada que sou a falar inglês o dia inteiro, o título do post tem que ser nesta língua. Não tive tempo de falar com você nos últimos dias, então tentarei passar um breve informe.

No momento, estou em Viena, num hotel à nossa altura, recepcionistas sorridentes, ar-condicionado, casinha limpinha. Fica num lugar chamado Westbanhof, perto da estação de trem e metrô que têm o mesmo nome. O lugar é meio esquisito, mas safe, de acordo com a recepcionista sorridente. Na esquina tem um puteiro, digo, uma casa de tolerância, ao lado uma daquelas boates onde fica mulher pelada na janela (Lelena, não vimos em Amsterdam, fui ver aqui, sem querer!) e do outro lado da rua uma sexshop.

Well, pegando o metrô, estou em dez minutos em Stephanplatz, no olho do furacão turístico. A passagem do metrô é caríssima, como tudo por aqui (André, sete euros por um bilhete 24 horas é um assalto, considerando que só vou e volto uma vez e não tem como comprar uma viagem só). Consegui comprar o ticket sozinha, após ler as instruções em alemão. Não eu não falo alemão, mas tive que dar meu jeito e rezar pra não fazer caca. 

Fui acordada hoje às cinco horas da manhã pelo recepcionista sorridente. Good morning, it’s your wake up call. What? Era pra me acordar à seis e meia. Sorry, you can sleep one more hour. Seis horas. Good morning again. It’s your wake up call again. Os austríacos têm um senso de humor pitoresco. 

Um motorista fofo veio me buscar. Fofo, até arrumar o maior barraco na porta de outro hotel porque outro motorista estacionou errado. Depois de xingar a mãe do coleguinha, virou para mim sorridente e continuou a conversar fiado como se nada tivesse acontecido. 

Cheguei a Bratislava uma hora e meia depois. Where the fuck is Bratislava? Assim está escrito na camiseta que eu tive que comprar. Bratisllava fica na Eslováquia e os eslovacos também têm senso de humor, vide a camiseta. Aqui por essas bandas tudo fica meio embolado, se você cuspir com força, acerta no país vizinho. A cidade é uma gracinha, com aquelas ruazinhas estreitas, com arquitetura de vários períodos. Tem gótico, renascentista, barroco, rococó. Fruto de guerras, invasões, golpes, comunismo, derruba, reconstrói. 

A volta foi de barco, que quase perdi, porque ao invés de andar para a esquerda do rio, fui para a direita. Corri que nem uma vaca, mas cheguei e consegui aproveitar a viagem pelo Danúbio, que não é azul. Desci do barco noventa minutos depois, olhei para um lado, olhei para o outro, ninguém tinha ido me buscar pra me devolver ao hotel. Olhei para a rua em frente, e pronto: tô local. Stephanplatz ao fundo. Metrô, Westbanhof, puteiro, boate, sex shop. Tô local.

Recepcionista sorridente, natural de Bratislava. Did you enjoy your tour? Me derreti em elogios. Did you enjoy your lunch bag? A recepcionista sorridente tinha mandado fazer pra mim um lanchinho pra viagem: uma baguete gigantesca, iogurte, suco de laranja, barrinha de cereais, maça gigantesca, bolinho. Fofa, não? Me derreti novamente e subi pro meu quartinho fresquinho, silencioso, cheirosinho.

Vou comer alguma coisa e depois continuo a atualização. Não desligue o seu computador.

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