Fatinha

No hospital

In humor on 26/07/2012 at 4:54 PM

Querido Brógui,

Papai baixou no estaleiro na madrugada de segunda pra terça. Pressão alta, ora controlada. Pelo que pude apurar junto aos “fraldinhas” – médicos bebês com aquela carinha assutada de quem tá com medo de fazer caca fora do caco – papai correu o risco de um AVC, enfarte e congêneres, visto que foi uma subida de pressão assintomática. Hein? Assintomática, sem sintomas. Ele não sentiu nada, nem dor no peito, nem falta de ar, nem confusão mental, nem dormência nos membros, nadinha. Graças ao fator hipocondria, ele mede a pressão a cada dois segundos e estranhou o fato de ela se mostrar elevada e resolveu procurar um hospital.

Fui acordada pela mamãe, já pronta, avisando que eles iam pegar um táxi até a emergência e que eu podia continuar dormindo. Como assim? Tico conseguiu processar a informação surreal, enquanto Teco puxava o edredom até o pescoço. Tico deu um bico na canela de Teco e os dois conseguiram me empurrar pra fora da cama, colocar uma calça jeans, um tênis absurdamente imundo, mas que eu me recuso a jogar no lixo, e uma camisa manchada de tinta de cabelo. Ainda com um olho aberto e o outro fechado, fiz uma caneca de café e dirigi até o hospital.

O atendimento foi rápido, deram logo um sublingual, a médica falou que ia pedir a internação na UTI, mas lá não tinha vaga e daí até a transferência dele pra outra unidade hospitalar passaram-se cerca de dez horas. Vamos pular a parte do absurdo que pagamos por planos de saúde. Também vou pular a parte da minha neurose de, às cinco horas da manhã, mandar um email pro meu gerente, toda sem-graça, avisando que não ia poder trabalhar. Também vou pular a parte de que meu celular resolveu ficar sem bateria no meio da confusão e da minha preocupação com a possibilidade de o Tigrão ser rebocado.

Viemos em uma ambulância mais maltratada que um coletivo, sacolejando e sem ar condicionado. Já na UTI, papai preocupava-se em saber “cadê sua mãe” e pedir “não liga pro seu irmão pra ele não ficar nervoso”, além de ficar se contorcendo no leito pra enxergar aquela televisãozinha que fica monitorando a pressão e os batimentos cardíacos. Lá pelas tantas, fui expulsa do recinto e me acomodei numa poltrona na recepção.

De lá pra cá… alta na UTI, transferência pro quarto, liguei e mandei milhões de mensagens pro trabalho, fui em casa buscar a muleta e esqueci o pijama. Pra coroar, todo o meu pobre corpinho está dolorido, acho que por conta de ficar cochilando que nem uma sem-teto na tal da poltrona, além de desfrutar do confortabilíssimo sofazinho de acompanhante.

No mais, tudo bem. Administrando a complicada logística familiar que inclui cuidar de um velhinho internado e ao mesmo tempo cuidar para que a velhinha não venha parar no hospital. Quem tem pais idosos sabe como é isso e como dá vontade de nocautear os dois pra ver se param de complicar as coisas. A velhinha foi enfiada quase à força dentro de um taxi e o velhinho não para de perguntar por ela. O que fazer? Sem ela, a pressão dele sobe. Com ela, a pressão dela sobe. Com os dois juntos, a minha pressão sobe. Meu irmão ainda queria pegar um avião e vir pro Rio, pra aliviar minha barra. Só que tem um pequeno problema de 5 anos que está de férias e teria que vir junto. Tá maluco? Vou ter que dar conta ainda de uma criança? Tô fora. Melhor do jeito que está.

Estou aproveitando pra colocar minha leitura em dia, já que aqui a televisão só pega um canal. Aquele canal. Li um romance que mamãe comprou e que, cá pra nós, é de matar qualquer diabético de hiperglicemia, mas era a única coisa que tinha à mão. Hoje lembrei de trazer o Nelson Mandela,a Revolução dos Bichos e o note. Tô pra lá de armada para enfrentar o tédio.

Pra não dizer que não falei de flores, mamãe acabou de telefonar. Está indo ao cardiologista porque mediu sua pressão e tá 16. Que Deus me ajude!


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  1. Fafá , boa sorte na administração da crise. Infelizmente sei o que é isso há bastante tempo; não é fácil, mas já aprendi que é um dia de cada vez. Beijos e melhoras para todos!

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  2. Que jeito, né, Fatinha?
    Se não ficar de bom humor, pira.
    Melhoras pros dois.
    Beijão.

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  3. Melhoras para os dois, Fátima!!! E força na progressiva!!! Beijão.

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  4. Que Deus te ajude e te proteja. Porque eu sei muito bem o que é passar por esses sustos. Se puder ajudar, estou por aqui.beijão, Que ele se recupere rápido.
    candida

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  5. Força, amiga, que tudo vai dar certo. Admiro-a por manter o bom humor escrevendo sobre uma situação tão difícil.

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