Querido Brógui,
De acordo com a notícia divulgada hoje, “o tomate, quem diria, tem DNA mais complexo do que o do ser humano. Seu genoma, que acaba de ser decodificado, conta com 31.760 genes – sete mil a mais do que o nosso. A diversidade genética pode ter salvo a planta de sucumbir à mesma catástrofe que matou os dinossauros e a maior parte das formas de vida da Terra.”
Esta notícia me deixou especialmente feliz. Por que?
Os tomatinhos são bonitinhos, saborosos, dão vida às saladas e ainda são nutritivos. Nada mais justo de que sejam elevados ao status que merecem. Os tomates não são corruptos, não superfaturam nas licitações, não matam seus semelhantes, não fazem fofoca, são completamente inofensivos. Além de tudo isso, são biodegradáveis e fertilizantes.
Prefiro ser comparada a um tomate a sê-lo a uma barata. Há algum tempo também foi veiculada a notícia de que nosso DNA é mais parecido com o de uma cucaracha do que com o do chimpanzé. Isso me revoltou profundamente, porque não há nada de fofo numa barata, são seres nojentos do começo ao fim, não dá pra ser generoso com uma barata, não servem nem pra heroi de desenho animado, como os ratinhos.
Mesmo a contragosto, consigo encontrar uma semelhança entre a barata e tomate. De acordo com a reportagem, os tomates são resistentes – achei que eles eram frágeis. Sob aquela pelezinha fina, há um ser vivo que sobreviveu à Era Glacial – isso dá um tese de filosofia sensacional. Os dinossauros se foram e ficou o tomate. Em Hiroshima, a explosão da bomba atômica matou tudo, ficaram as baratas.
Entretanto, ainda que eu pense que grande parte da humanidade está mais pra barata do que pra tomate, saio em defesa de minha espécie.
Nem tomate, nem barata. Ser gente é melhor. Nem barata, nem tomate são capazes de compor uma boa música (boa música, algumas devem ter sido compostas pelas primeiras). Nem tomate, nem barata podem escrever um bom livro, fazer um bom filme, conversar bobagens, dançar, gargalhar. Nem barata, nem tomate podem ter amigos, podem amar, beijar e abraçar.
É. Os tomatinhos que me desculpem, mas ser gente é fundamental.