Fatinha

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Domingo, sete horas da manhã

In humor on 18/12/2011 at 8:43 AM

Querido Brógui,

Domingo, sete horas da manhã. Pulei da cama com fome. Até queria dormir mais um pouco, mas, com a barriga roncando, fica difícil. Fiz minha primeira oração do dia: pelos que têm fome e não podem saciá-la. Os passarinhos estão em plena atividade na minha janela, também procurando o que comer e se organizando para mais um dia.

Enquanto tomava meu café e tentava fazer com que meus neurônios despertassem, passei em revista, mentalmente, o que me propus a fazer hoje e, no topo da lista veio você.

Esse ano foi um ano que correu rápido demais, tinha um objetivo a alcançar – que alcancei – depois falo nisso com mais detalhes – , precisei relegar muita coisa a segundo plano. Não que essas coisas fossem menos importantes, mas há momentos na vida em que, penso eu, o máximo que dá pra fazer é não esquecer de pagar as contas no vencimento, não deixar faltar o básico na geladeira e tomar banho todos os dias.

Houve despedidas. Pessoas que agora estão gozando da vida eterna. Houve reencontros. Pessoas com as quais retomei contato depois de muitos anos. Houve desencontros. Pessoas que quis muito estar perto, mas que não deu.

Deus foi muito generoso comigo durante todo esse ano e, em especial, pela enésima vez, agradeço pelos amigos que colocou no meu caminho, nem sei se mereço tanta gente legal me aturando. Nem sei se sou tão legal como eles são. Tento melhorar, limar meus defeitos, mas é difícil demais: sigo impaciente, chata, mal-humorada. E meus amigos me acham engraçada… Virtudes? A que descobri em mim esse ano foi a obstinação, uma mistura-bomba de teimosia com determinação, com pitadas de indignação.

Minha visão do Brasil? A mesma, basicamente. Mês sim, mês não, um ministro no paredão. Corrupção a rodo, uma esquizofrenia institucional impressionante, a ignorância do povo cevada a pão-de-ló, o deboche descarado com que determinados políticos nos tratam. Permaneço incomodada com a patrulha ideológica e sua decorrente hipocrisia. Permaneço irada com a morosidade para tudo o que se pretende fazer nesse país, com uma “burrocracia” que emperra a vida do pacato cidadão, que se vê atado de pés e mãos quando “o sistema cai”, “não consta no sistema”, “o sistema está lento”. Permaneço furiosa quando tenho que sorrir para uma criatura estúpida da qual depende a solução de um problema meu – se bem que essa semana já chamei duas delas de imbecis.

O mundo? Ladeira abaixo. O velho continente naufragando em dívidas, o americano idem. Continuamos nos matando em nome de Deus e em homenagem a Marte. As mulheres, em muitos lugares, continuam sendo consideradas pessoas de segunda classe, submetidas e submissas a um troglodita qualquer que não sabe nem preparar a comida que come. A miséria se prolifera, a população mundial cresce e com isso virei malthusiana.

Credo! Relendo o que escrevi, percebi um certo tom deprê na minha avaliação anual. Foi mal. Não tive a intenção de levar você às lágrimas, apesar de estarmos vivendo o apocalipse. Para me redimir, darei algumas sugestões para aumentar a sua felicidade:

Chupe seu limãozinho todos os dias, mas não esqueça do açúcar (ou do adoçante, se preferir). Depois da primeira vista d’olhos no jornal pela manhã, imagine-se vivendo num quadro de Dalí e procure o surrealismo dentro de si, perceba que nada faz sentido mesmo e que é perda de tempo tentar entender o ininteligível. Inspire suavemente, deixando a poluição entrar lentamente em seus pulmões. Controle o acesso de tosse e expire com força. Converse consigo (de preferência em voz baixa e sem brigar porque senão alguém vai acabar lhe interditando). Tente destravar a mandíbula e arreganhar um sorriso (dói um pouco, mas vale o sacrifício). Escolha uma roupa bem bonita e que valorize seu corpinho. Calce um sapato que não lhe proporcione mais do que duas bolhas no decorrer do dia. Você está pronto para sair da caverna e não cometer nenhum homicídio hoje.

Falta uma semana para o Natal. Tá na hora de começar a pensar nos presentes, na ceia, nos parentes de fora que vão passar uma semana (no mínimo) dormindo no seu sofá, comendo da sua comida e enchendo a porra do seu saco. Seu patrão deixou pra depositar o décimo terceiro amanhã (só pra lhe dar a última cravada do ano), mas ainda dá tempo de ir às compras. Os supermercados, shoppings e comércio popular de rua estão bombando, cheios até a boca, as filas enormes, os vendedores estressados estão doidos pra dar na sua cara. Você não pode perder essa oportunidade de exercitar o seu lado zen. Vá hoje ainda. Com as crianças. E sua tia encrenqueira. O melhor horário é no meio da tarde, pra poder pegar a fila do estacionamento (sem ela, não tem a menor graça). O combate vai ser duro, mas depois vc vai me agradecer a dica.

Bj
Paz
Divirta-se.

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