Querido Brógui,
Viver é bom demais, principalmente porque acumulamos causos que, com sorte, lembraremos para contar.
Sexta-feira comentei com um aluno que havia ouvido no rádio que chegar à Cidade do Rock estava dificílimo e afirmei que nem morta me submeteria a tal sacrifício. Então, caiu um raio na minha cabeça que me lembrou que eu já me submeti a sacrifício bem pior na primeira edição do Rock in Rio. Um segundo raio me fez fazer as contas nos dedos e perceber que se passou uma vida entre a minha heróica jornada ao desconforto e meus resmungos. Um terceiro raio trouxe em flashes: Fred Mercury, Cazuza, Herbert Vianna pulando. Coisas que vi e não mais verei de novo.
Fiquei parada, levando raios na cabeça até que meu aluno me trouxe de volta do transe dizendo: “Professora, quanta história a senhora tem pra contar!” É isso: colecionar histórias, esse é o motivo último da minha vida. Fiz uma promessa pra mim mesma de que viveria mais, aumentaria mais meu repertório e sugaria todo o caldinho possível do presente para que um dia, no futuro, eu ainda pudesse sentir o gosto.
Catei esse vídeo para você lembrar comigo o momento mais lindo do Rock in Rio 1985 e confesso que meus olhinhos ficaram cheios d’água. Se procurar direitinho, vai me ver ali, no meio da multidão, toda enlameada, com fome e sede e me sentindo a mais feliz das criaturas.
PS: um beijo especial para Jorge Luís e Bão, meus companheiros nesse momento tão especial de minha existência.