Fatinha

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Na concessionária de automóveis

In humor on 23/06/2011 at 9:48 AM

Querido Brógui,

Tô querendo trocar de carro. Havia esquecido como isso é complexo. E chato. E cansativo. E estressante.

Ir visitar concessionárias de automóveis é tarefa que não pode ser feita assim, sem uma preparação prévia. Tem que rezar primeiro pro Anjo da Guarda, colocar uma carranca daquelas que usam nos barcos no Rio São Francisco dentro da bolsa e passar repelente contra encosto. Isso porque, colocando o pé dentro da loja, danou-se. Só vai conseguir sair de lá no mínimo duas horas depois com a sensação de que foi atacado por um cardume de piranhas famintas. Se bobear, compra o carro que você não quer, por um preço que não pode pagar e ainda deixa a chave do seu e volta pra casa de ônibus. Eu, só essa semana, quase comprei três carros zero.

Os vendedores adotam a chamada postura puxa-saco-agressiva. Oferecem café e água – que creio deve ter algum boa noite cinderela dentro. Depois, deixam você olhar – muito rapidamente – o interior do carro enquanto falam e falam e falam sem parar o quão maravilhoso ele é. Pra qualquer observação que você faça, ele tem uma resposta na ponta da língua, ou um folder, um vídeo, um teatro de marionetes, uma simulação, tudo para lhe obnubilar – putz! Sempre quis usar essa palavra e nunca tinha tido oportunidade! – os sentidos.

Quando você abre o olho, os documentos do seu carro usado estão na mão do vendedor- que vai pagar dez contos nele – , já escolheu todos os acessórios inúteis e caros que seu novo veículo vai ter, contratou um despachante, preencheu uma ficha cadastral, deu de sinal tudo o que você tinha dentro da carteira e agora está assinando a proposta de financiamento. Em aproximadamente dois minutos, sua vida, seu amor-próprio e sua dignidade estão na sarjeta junto com você, ao passo que todas as suas economias, bem como tudo aquilo que você iria receber de salário nos próximos 60 meses foram entregues nas mãos do inimigo.

Isso pode ser evitado se você tiver o cuidado de ir acompanhado por uma pessoa de sua inteira confiança, de preferência surda e lutadora de vale-tudo, expressamente autorizada a lhe dar uma porrada no meio da cara pra que você volte a si do estado de hipnose a que foi levado pelo simpático vendedor. Vai por mim, estou coberta de hematomas, mas a salvo.

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