Fatinha

Archive for 15 de abril de 2011|Daily archive page

ESTAMOS DE LUTO

In humor on 15/04/2011 at 3:33 PM

Querido Brógui,

Você sabe que sou professora da Rede Municipal de Educação da cidade do Rio de Janeiro. Trabalho há mais de uma década na E.M. Reverendo Martin Luther King, espaço onde o couro come, onde as condições de trabalho são muito aquém do desejado, os alunos são rebeldes, mas, com todos os problemas que enfrentamos, tiramos leite de pedra. Nessa escola há um corpo docente que ainda acredita em educação em sentido amplo, que inclui exercício da cidadania, dignidade, respeito ao próximo e tantas outras coisas que têm perdido seu valor com o passar do tempo.

Essa foto é da faixa de luto, composta por um plástico preto e três palavras escritas: “ESTAMOS DE LUTO”. Foi colocada no portão de entrada da escola no dia em que ocorreu o assassinato das crianças da escola de Realengo – tragédia inominável que poderia ter sido na nossa ou em qualquer outra, pública ou particular.

Essa simples homenagem prestada pela comunidade escolar, por incrível que pareça, não foi bem recebida pela nossa coordenadoria – embora sua chefe tenha dito, uma semana depois, desconhecer os fatos (!!!). Como diz o velho ditado: “Filho feio não tem pai.”

Que fatos? Foi dado um telefonema para a CRE informando acerca da existência da faixa de luto e, poucos minutos depois, recebemos a ordem de retirá-la (!!!). Dá pra acreditar?

Não entra na cabeça de nenhum ser humano normal que uma Coordenadoria Regional de Educação dê um comando no sentido de coibir uma manifestação de compaixão por um fato ocorrido dentro de uma escola municipal, com alunos nossos, colegas nossos. Ao invés de sugerir que outras escolas fizessem o mesmo, formando uma corrente de solidariedade, quiseram nos amordaçar, talvez desconhecendo que não há mais censura nesse país e que nossa Constituição nos assegura a liberdade de pensamento e expressão.

“ESTAMOS DE LUTO”. Três palavras apenas. Nada de duplo sentido, nenhuma acusação ou grosseria, apenas a expressão de um sentimento que, aliás, não é exclusivamente nosso.

Continuamos de luto, apesar de termos retirado a faixa após o sétimo dia. Luto não tem prazo, dor não se mede, lágrimas não podem ser proibidas.

PS: Maria Candida, se for possível, coloque nos comentários aquele documento belíssimo que escreveu em nome de todos nós.

%d blogueiros gostam disto: