Querido Brógui,
Tudo bem que o tal do raio x dos aeroportos são para garantir a nossa segurança. Tudo bem que nem o Brasil está imune a ataques terroristas, vide os arrastões cariocas. Mas, cá pra nós…
No aeroporto de Vitória, como em todos os outros, há a tal da esteira com o detector de metais. Ok. Meu pai, contando 82 anos de idade, muleta em punho, é barrado.
“O senhor pode caminhar sem muleta?” Ora pois! Se ele pudesse caminhar sem o acessório, porque raios o carregaria pra cima e pra baixo? Tirar onda? Fazer tipo?
Papai colocou a muleta na esteira e tentou dar um passo pra frente. Percebi sua hesitação, voltei pra ampará-lo – afinal, se ele se quebrar de novo, quem aguentará o tranco serei eu e não a Infraero.
“A senhora não pode passar de volta.” Então ajude você, que está aí em pé esperando ele cair. Mas de todo jeito o alarme vai apitar, ele tem duas próteses na perna direita. (É, pra quem não sabe, meu pai é o ser mais próximo do Homem de Ferro que conheço: um joelho de titânio e uma haste que percorre todo o trajeto entre ele e seu o fêmur.)
Apitou, como eu havia alertado.
“O senhor pode me acompanhar?”
Eu não acreditei. O cara colocou o velhinho de pé com os braços abertos em cima de um tapetinho e ainda o mandou dar um 360º. Se ele não consegue nem andar pra frente, que dirá dar uma voltinha?
“A senhora não pode se aproximar.” Como é que é? Eu vou me aproximar, sim. O aparelhinho apitou, apitou, apitou e ficou por isso mesmo.
Bem, com isso, foi frustrado todo o plano terrorista urdido há meses, nos mínimos detalhes. Durante o vôo, papai iria tomar de assalto a cabine do piloto armado com sua muleta. A munição estava escondida dentro do joelho e seu fêmur, na verdade, é uma espada ninja.
Fica pra próxima.