Querido Brógui,
Estou envolvida no tal do projeto de aceleração de estudos que já falei por alto com você. A receita é essa:
Pegue um adolescente do ensino fundamental com todos os hormônios em ebulição, defasagem de idade, problemas emocionais, psicológicos e parapsicológicos, excluídos pelo sistema, portadores de deficit de aprendizagem, dislalia, disgrafia, disfonia, dislexia, desmotivados, revoltados, irados, pertencentes a famílias desestruturadas e meta numa sala de aula.
Pegue professores cascudos, indignados, enlouquecidos, com vários parafusos a mais na cabeça, que acreditam no poder transformador da educação, com coragem pra mamar em onça, dispostos a passar seus dias e suas noites pensando no que fazer pra dar conta de tanto problema junto e jogue-o naquela mesma sala de aula.
Adicione uma metodologia boa, mas que peca por ser um tantinho inadequada à nossa realidade, conteúdos de quatro anos de escolaridade, teleaulas, livros, cartazes, material concreto, memoriais, percursos livres, recuperação paralela, um cronograma esquizofrênico impossível de ser seguido, tesoura, cola, lápis de cor e muita paciência.
Feito isso, tranque a sala de aula, jogue a chave fora e deixe esses ingredientes atingirem o ponto de (con)fusão.
Para finalizar a receita, leve os professores à capacitação para o próximo “nódulo”. É a cerejinha. Jogue o mediador da capacitação, sem colete à prova de balas, no meio de um monte de professores agitados, ansiosos, cansados, querendo mais soluções rápidas e eficazes e menos dinâmicas de grupo e espere ferver.
Pronto. Agora é só esperar o fim do ano letivo e ver que bicho que deu.