Fatinha

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É lamentável

In humor on 07/07/2010 at 6:58 AM

Querido Brógui,

Peço sua licença para fugir – e muito – do meu objetivo quando escrevo para você, que é lhe proporcionar alguns minutos de diversão. Hoje ocorreu um fato lamentável na escola em que trabalho e que me deixou profundamente triste.

Um aluno – reincidente – me afrontou com atitudes desrespeitosas, palavreado chulo e eu o convidei a se retirar da sala para que se acalmasse. Sim, Querido Brógui, professor tem que escutar tudo, viver tudo, sentir tudo,  sem perder a fleuma, sem demonstrar descontrole emocional, como se fora um anjo caído do céu.

Momentos depois, já na hora do intervalo, momento esse em que eu deveria ter o direito de me sentar, ir ao banheiro, tomar meu café, conversar fiado com minhas colegas de trabalho e tomar fôlego para o segundo round, fui chamada à sala da Direção porque o padrasto do garoto estava querendo saber o que havia acontecido. No gabinete, já se encontravam dois guardas municipais – que pelo que entendi haviam sido chamados para dar conta de outro furdunço acontecido.

Comecei a relatar o ocorrido quando entrou a avó do garoto, com a qual ele mora. O padrasto se dirigiu a ela pedindo para que se retirasse. Eu olhei para um, para o outro, calada, esperando. A senhora então se dirigiu à minha pessoa, aos gritos, perguntando por que eu estava debochando da cara dela. !!!!  Repito: eu nem lhe dirigi a palavra, estava calada, esperando os dois resolverem quem ia ficar e quem ia sair do gabinete.

Mas o barraco não parou por aí. Uma outra aluna, não sei porque cargas d’água entrou também na sala e a avó do garoto, partiu pra cima dela, gritando que ela tinha chamado o neto dela de ladrão. Parênteses: tudo começou por causa de uma caneta.

Daí começou o maior barata voa, larga a garota, me larga, diretor impedindo a avó de pegar a menina, os guardas segurando o padrasto para não agredir o diretor, um monte de alunos na porta querendo saber o que estava acontecendo, eu mandando os alunos saírem dalí, uma gritaria que nem sei direito descrever.

Moral da história: pela atitude da avó, bem se pode imaginar onde o garoto aprendeu a ser descortês e a não respeitar ninguém. Pode-se também imaginar que o problema familiar é seriíssimo, briga de família, avós com mãe, padrasto e o moleque no meio de tudo isso, descontando sua infelicidade em quem não tem absolutamente nada a ver com o babado. Pode-se também mais ou menos prever o futuro desse garoto descontrolado emocionalmente, fruto desse lar desconstruído, sem limites sendo impostos, sendo acobertado pela leniência dos adultos que o criam. Está sendo formada uma pessoa que não assume os seus erros, sempre colocando-se como vítima de situações, que não reconhece autoridade alguma, que não se responsabiliza por suas atitudes e que reage agressivamente caso seja contrariado.

O outro lado da história é que temos um sistema no qual o menor de idade é protegido dos abusos – o que é certo – e se aproveita dessa garantia para atacar a quem quer que seja, certo de que nada irá lhe atingir. A verdade é que, à guiza dessa proteção, criou-se um paternalismo barato, que defende que qualquer coisa pode traumatizar a criança e o adolescente. Não se pode mais brigar, punir, reprovar, nadinha. O que precisamos é passar a mão na cabeça do menor porque o coitado é marginalizado desde que nasceu, porque precisamos aumentar sua auto-estima e outros tantos chavões que nós, professores, somos obrigados a engolir a seco, como se fôssemos uns carrascos e os alunos indefesas vítimas. Querem nos convencer de que somos responsáveis pelo fracasso da família que não suporta o ônus de criar seus filhos e que traz a reboque o fracasso escolar. Já ouvi inclusive que “temos que resgatar uma dívida com esses alunos.” Que dívida? O que eu ainda posso estar devendo ? – se é que algum dia devi.

Sou professora há séculos e jamais desrespeitei um aluno, mas sou obrigada a aturar toda a forma de desrespeito – seja do alunado, seja dos seus “responsáveis”, seja do tal do “sistema” que exige de mim mais do que a Igreja Católica exige para a canonização de uma pessoa. 

Sempre acreditei no poder transformador da educação e continuo acreditando, mas a concorrência com o lado negro da força é desleal, ainda mais sem contar com o apoio daqueles que deveriam ser nossos parceiros nessa empreitada e não nossos opositores.

Tá feito o desabafo. Obrigada pela atenção.

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