Querido Brógui,
Confesso: adoro um trash. Aqueles programas de um mal gosto profundo feitos com a seriedade de quem acredita que está fazendo uma coisa legal. Ou será que não? Será que de fato a intenção é ser ruim mesmo? Difícil acreditar que alguém produza tanto lixo pensando que aquilo é bom. Sei lá.
Hoje cheguei à casa e, enquanto degustava um pãozinho com queijo e café, liguei a TV, canal aberto. Estava passando Xena, a princesa guerreira. Não é a primeira vez que vejo isso. Na verdade, é uma reprise desse seriado neozelandês datado de uns dez anos atrás. Eu sei disso porque acompanhava fielmente as aventuras da heroína Xena e sua amiga Gabrielle. O treco é muito ruim e por isso mesmo é muito bom. Imperdível.
Tudo se passa na Grécia Antiga e adjacências, numa mistura em que figuram deuses, semideuses, reis, rainhas, soldados romanos, bárbaros, chineses, cristãos, indianos, que brigam – e como brigam – entre si o tempo todo. A salada leva um tempero de filosofia, mitologia, religião e o homossexualismo subliminar das personagens principais. Os cenários são sofríveis assim como os figurinos e os (d)efeitos especiais. Isso sem contar nos lisérgicos roteiros. A atriz que faz a protagonista é uma canastrona de primeira, cujo ápice de interpretação é levantar a sobrancelha esquerda e trincar os dentes cada vez que vai enfiar a espada no bucho de algum inimigo. Os demais seguem a mesma patética escola de atuação.
A aventura de hoje foi inédita para mim e estava especialmente hilária. Apesar de se passar na antiguidade, o cenário era uma coisa meio filme de caubói com direito a saloon, chapéus de vaqueiro e um duelo no final – no qual os contenedores afastam as capas compridas e atiram punhais um contra o outro. Não bastasse isso, a heroína se descobre grávida por obra divina, segundo a explicação de sua amiga espiritualizada. Um lixo total, maravilhosamente horrível.
Então? Que tal desligar os neurônios após um exaustivo dia de trabalho? Chegou a fatura do cartão de crédito e o salário não deu nem pra pagar o mínimo? Descobriu que seu melhor amigo está para lhe cravar uma faca nas costas? Está dada a dica que vale por mil sessões de terapia: passar deliciosos minutos de puríssima alienação vendo Xena. Todos os dias, na Record.