Querido Brógui,
Essa semana aconteceu aqui no Rio a tal da passeata em protesto contra a perda dos royalties do petróleo, passeata essa idealizada, organizada e patrocinada pelo nosso governador. A frase utilizada nas faixas e cartazes e propaganda trazia a palavra “covardia” como tema central.
Coincidentemente fui obrigada a comparecer a duas repartições públicas estaduais no dia seguinte e, não obstante a notória ineficiência da maior parte dos funcionários, hoje não venho falar mal deles, venho em sua defesa.
Na primeira delas, estava um calor absurdo. Segundo pude ler no aviso preso na parede do elevador, algum equipamento deu pau por conta da chuva de domingo e o gerador responsável pelo funcionamento dos condicionadores de ar está sendo usado para manter dois dos seis elevadores funcionando. Tudo bem que onde eu trabalho não tem ar-condicionado, que eu tive que comprar meu próprio ventilador, mas não é porque eu pago os pecados por mim já cometidos e os ainda por cometer que desejo o mesmo para o resto do mundo. Afora isso, não são apenas os funcionários daquela repartição a penar, centenas de pessoas transitam por aquele lugar diariamente e, passados quatro dias, não consertaram o treco. Covardia.
Na segunda repartição, havia ar-condicionado, mas não havia água – os banheiros estavam interditados. Li o aviso na escada – sempre tem um aviso às vítimas. Não tinha água porque a bomba queimou. Então, os funcionários têm que se virar pra não precisar ir ao banheiro – talvez não comer ou beber nada durante todo o expediente. Covardia.
Fico pensando… Se com os royalties a situação dos prédios reservados à administração do estado estão dessa maneira, sem eles… Por outro lado, pode ser que não faça tanta diferença assim, porque se com dinheiro tá tudo caindo aos pedaços, significa que ele não é usado em prol da eficiência e da prestação de um serviço decente por funcionários felizes. Sob um terceiro ângulo, talvez não seja necessário tantos bilhões para colocar um gerador pra funcionar e comprar uma bomba nova. O dinheiro gasto na passeata somado ao que deixamos de ganhar por conta do ponto facultativo e da paralisação do centro financeiro da cidade em plena quarta-feira seriam suficientes.
A covardia que vi na quinta-feira foi essa. Funcionários e contribuintes obrigados a subir não sei quantos andares pelas escadas, sufocarem num prédio lacrado sem ar-condicionado e domesticarem sua fisiologia para não usar o banheiro.