Querido Brógui
Fui ver o Faith No More, assumindo minha nova faceta roqueira – antes tarde do que nunca. Como sou uma recém-convertida, não conhecia todas as músicas, mas isso em nada atrapalhou, só não pude cantar junto, como a maioria dos fãs o faz. Na verdade, na verdade, a única que gritei uhuu quando começou foi Epic – também, quem não conhece essa? Até liguei pro Bão pra ele ouvir. Celular, nessas horas, é uma mão na roda.
A banda é ótima, mas o vocalista é uma atração à parte. Na maior parte do tempo ele fica andando em círculos pelo palco. O andar dele lembra o de Jack Nicholson em “O Iluminado”. Até procurei me informar se por acaso Mike Patton tinha algum problema na perna, mas me disseram que não, era estilo. Ah, tá.
Agarrado ao microfone, o vocalista urrava, berrava, gritava. Não sei como a garganta dele agüenta. Definitivamente, nosso aparelho fonador não foi moldado para tamanha agressão. Eu, professora, cordas vocais mais pra lá do que pra cá, fiquei rouca só de ouvir.
Também gostei dele porque fala português. Acho muito atencioso e educado os estrangeiros que ao menos se esforçam para se comunicar com os nativos e até que ele fala direitinho, conhece os palavrões mais usados e tudo. A figura é carismática, pena que tentou cantar “ela é carioca, ela é carioca…” Além de desafinado, entrou fora do compasso, no meio de uma música que não tinha nada a ver, mas isso fez com que os fãs entrassem em êxtase. Fã suporta tudo, acha tudo lindomaravilhoso, até quando os agudos estouram seus tímpanos. Sei não, mas alguém tinha que pagar uma real pro cara e dizer que cantar não é sua praia. Ele é vocalista, não cantor. Cada macaco no seu galho.
Fiquei morrendo de pena porque o bichinho suava, suava, suava. Será que ninguém avisou que aqui na terrinha faz um calor dos infernos? O pobre, de mangas compridas, calças compridas, sapatos, derretendo no palco. De vez em quando ele se agachava, acho que pra descansar ou beber alguma coisa. Juro que pensei que uma hora ele não ia conseguir se levantar mais, entretanto, ele suportou bravamente a sauna, com o maior bom humor, deu bis, deu tris, atendeu a pedidos. Simpático, não?
Não pulei como gostaria. Meu joelho ainda sofre os efeitos da última presepada no show dos Paralamas. Mas agüentei firme, balançando a cabeça e me diverti de monte. No dia seguinte acordei estragada, como sempre, mas feliz, como sempre.
PS: o vídeo é do show da banda aqui no Rio, apresentando Epic.