Querido Brógui,
Hoje eu me dei conta de que nada escrevi durante esse mês de setembro. Isso me deixou meio que chocada, não pela ausência de inspiração – isso é normal – mas porque perdi a noção do tempo. O vácuo criativo foi mais longo do que eu pensava e eu – mais uma vez – constatei que o tempo está passando mais rápido e eu não estou dando conta de acompanhar o seu passo.
Meditei arduamente por vinte e cinco segundos, tentando compreender o fenômeno e todas as explicações que já ouvi acerca disso. É, porque não sou apenas eu que falo: “Nossa! Como o tempo está passando rápido!”
Já ouvi dizer que tudo é culpa da modernidade. Que a velocidade e a intensidade das informações que recebemos faz com que nosso cérebro fique tão ocupado que não temos tempo de olhar o tempo passar. Também tem aquela coisa do excesso de obrigações que não nos permitem respirar com calma, nem comer com calma, nem dormir com calma. Outro dia me disseram que a Terra está girando mais rápido e fiquei imaginando como seria ser ejetada da superfície.
O fato é que não vemos o tempo passar porque não temos tempo de ver o tempo passar. Profundo, não? Eu que inventei isso. Somos ocupados, mas também não nos damos ao direito de não sê-lo. Na boa? Temos é o maior preconceito contra o ócio e, quando eventualmente nos pegamos desocupados, entramos em pânico, porque, além da culpa, simplesmente não sabemos o que fazer com o tempo que sobrou. Desaprendemos a ficar de bobeira. Temos vergonha de ficar de bobeira. Aí, vamos correndo arrumar uma panela pra dar brilho, um edredon pra lavar no tanque, pegamos aqueles cinco livros para ler ao mesmo tempo, vamos decifrar o manual de instruções do eletrodoméstico, limpar os arquivos do computador, separar os sapatos para levar pro conserto, e por aí vai. É uma coisa um tanto esquizofrênica, não?
Então, em prol da sua saúde mental, vou lançar mais a campanha “Viva o ócio.” Não é “viva” no sentido de saudação, é “viva” no sentido de viver mesmo. Curtir aquele momento sem fazer nada, ficar de bobeira. Na boa, sem culpa.
Ah, mas você não tem tempo pra isso… Então, Querido, crie o seu momento-bobeira. Se for absolutamente necessário, se você só faz aquilo que sua atribulada agenda permite, reserve nela um horário para nada fazer. Não precisa de um lugar especial, não tem que acender incenso, nada disso. Basta parar tudo e ficar olhando o tempo passar. É uma delícia.
PS: achei uma explicação legal para essa coisa da passagem do tempo – embora não tenha entendido muito bem a parte inicial. Campo eletromagnético, ionosfera, hertz… Muito complexo para uma manhã de domingo. É a tal da Teoria da Ressonância Schumann. Coloquei um texto do Leonardo Boff sobre isso naquela coluna “Outras coisinhas”. Fica do lado direito da sua tela. Caso tenha curiosidade, leia (e depois me explica).