Querido Brógui,
O movimento feminista trouxe inúmeras benesses para as mulheres. Trocamos o sutiã pelo peito caído, conseguimos somar à obrigação do trabalho doméstico o direito de trabalhar fora e com o anticoncepcional podemos continuar sendo chamadas de galinhas, mas com a opção de não procriar.
Também conquistamos o direito de dividir a conta do restaurante, nenhum homem precisa mais abrir a porta do carro para entrarmos (já que nós é que vamos buscá-lo em casa), temos direito ao voto obrigatório.
Nunca mais nenhum homem se levantará para nos ceder o lugar no ônibus, nem carregar nossa sacola de compras.
Podemos ser estivadoras, trabalhar nas minas de carvão e ir para o front em caso de guerra.
Hoje, caí num bueiro sem tampa. Quer dizer: eu não, o Tigrão. Como resultado, um pneu arriado. Liguei o pisca-alerta, olhei para o pneu e, por um segundo, apenas um segundo, pensei em fazer a troca. No segundo seguinte já estava olhando para as unhas que acabara de fazer. No terceiro segundo me imaginei, na posição em que Napoleão perdeu a guerra, tentando encaixar o tal do macaco no lugar certo. No quarto segundo visualizei minhas mãos sujas de pneu sujo. No quinto segundo estava pedindo pro segurança do shopping trocar o pneu pra mim.
É, eu demorei apenas cinco segundos para decidir que o bom mesmo é ser mulherzinha e me aproveitar de uma das poucas prerrogativas que ainda me restam – que é exatamente fazer cara de mulherzinha e atingir em cheio os brios do cabra-macho. Feminismo é o cacete!