Fatinha

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Andando de ônibus

In Sem categoria on 07/10/2008 at 7:22 PM

Querido Brógui,
Essa é também de 2006 e já estou estourando a semana comemorativa. Quer que eu pare de requentar textos?

Querido Diário

Não gosto de andar de ônibus por algumas poucas razões. Vou fazer uma breve listinha:
Porque tenho que andar até o ponto, porque tenho que ficar em pé esperando, porque tenho que andar em pé dentro dele, porque um monte de gente desconhecida fica encostando em mim, porque tenho que segurar naqueles ferrinhos asqueirosos onde todo mundo põe a mão, porque tenho que sentar naqueles bancos onde todo mundo põe a bunda, porque tenho que descer dele e andar até o meu destino, porque ele pára em quinhentos pontos antes de chegar onde eu quero, porque ele passa em quinhentos lugares antes de chegar onde eu quero, porque as pessoas fedem às sete horas da manhã e fedem mais ainda às seis da tarde, porque as pessoas falam ao berros no celular sem se mancar que estão em público e que meu ouvido não é penico, porque tem sempre um infeliz pedindo desculpas por atrapalhar a minha viagem mas que está vendendo dois saquinhos de bala, três jujubas e uma caneta Bic por um real e eu devo ajudar porque é melhor ele estar ali trabalhando do que estar roubando e Deus me acompanhe o resto da viagem, porque tem sempre uma mulherzinha que joga a bolsa na minha cara quando passa pelo corredor e tem sempre um ser involuído jogando o *** na minha cara quando passa pelo corredor.
Só. Acho que é só isso.
Eu o-dei-o o transporte coletivo, mas ainda o utilizo porque não tem jeito mesmo. Ir pra cidade de carro é enlouquecedor, é pior que andar de coletivo. Procurar vaga é algo que me deixa fora de mim. Sempre me lembro daquele filme “Um dia de fúria”. Identifico-me totalmente com o personagem do Michael Douglas e me vejo dando porrada em guardador, socando pedintes, largando o carro no meio da Presidente Vargas com o freio de mão puxado, dando com a tranca do carro na cara do guarda, essas coisas.
Hoje peguei um coletivo. Nem percebi que era um sem ar condicionado. Sentei no quentão, estava um calor danado, pensei no meu cabelo escovado que estava começando a encolher e comecei a me distrair olhando as figuras que passavam pela roleta.
De repente, entra no ônibus um homem todo suado, sem camisa. Fiquei gelada e olhei para o lugar vazio ao meu lado. Rapidamente fiz uma súplica a Deus: "Senhor, não permita que esse homem se sente aqui!!!" Deus, ocupado com coisas mais importantes, não atendeu à minha prece. Tudo bem. Vai ver que eu merecia mais esta provação na minha vida.
O homem sentou ao meu lado. E, não apenas sentou, mas ENCOSTOU EM MIM!!!! Encostou aquele braço nojento, suado, cheio de pelos nojentos e suados no meu bracinho limpinho, com cheirinho de Dove. Nem disfarcei a careta, me encolhi toda no cantinho, só faltei pular pela janela. O que o cara fez? Se acomodou mais ainda e ENCOSTOU EM MIM DE NOVO!!!
Obs: daí vem a minha teoria de que as pessoas espaçosas só são espaçosas porque a gente dá espaço pra elas. Quanto mais a gente se encolhe, mais o espaçoso se espalha, já que pra ele, todo o espaço do mundo lhe pertence e você não faz mais do que sua obrigação ao se encolher pra ele se esticar.
Voltando…
Me encolhi mais ainda, tentei salvar o meu cabelinho do contato daquele ser abjeto. Sabe o que o cara fez? ABRIU AS PERNAS!!!! Sim. Porque não bastou ele se refestelar no encosto, ele tinha que abrir espaço no chão também. Aí, eu já com câimbra, toda encolhida, contraída, torta, temendo que meus membros gangrenassem, pedi licença pra me levantar. Ele deu? Não. Eu tive que me espremer entre ele e o banco da frente para poder passar, o verme não arredou um milímetro.
Passei. Taquei a bolsa na cara dele (tudo bem, é de pano e já foi pra lavar), pisei nos dois pés dele com o saltinho da minha sandália e ainda derrubei o jornal O Povo da mão dele. Não pedi desculpas, lógico, e fui sentar no assento do outro lado do corredor. (sim, tinha banco vazio, ele sentou do meu lado só pra me sacanear).
Desci dois pontos depois. Passei pelo corredor como um elefante furioso (lembrei da mãe do Dumbo), atropelei todo mundo, dei bolsada, pastada, livrada, pisada, bundada… Todos os passageiros foram vítimas da minha ira.
Cheguei em casa, tomei um banho de duas horas com escovão e caco de telha, desinfetei minha pasta e meu livro, taquei fogo na minha roupa e conjurei todos os demônios do reino abissal para que amaldiçoassem as empresas de transporte coletivo e em especial aquele asqueiroso que encostou em mim.
É, Querido Diário, você hoje conheceu minha faceta má. Como May West disse: “Quando eu sou boa, sou boa, mas quando eu sou má, sou melhor ainda”.

Inteiramente ensaboado

In Sem categoria on 06/10/2008 at 3:42 PM

Querido Brógui,

Essa edição não é uma edição, são duas em uma, visto que… Bem, você vai entender.

‘Querido Diário,

O que é pior?

1. Ir tomar banho e o telefone tocar, quando você já está inteiramente ensaboado.
2. Ir tomar banho e o celular tocar, quando você já está inteiramente ensaboado.
3. Ir tomar banho e o carteiro tocar a campainha, quando você já está inteiramente ensaboado.
4. Pedir ao carteiro para voltar depois, porque você está inteiramente ensaboado e ter que fingir que não percebeu que ele estava rindo da sua cara.
5. Ter que atender a campainha de novo porque a empregada esqueceu de pedir o dinheiro da passagem e mandar ela esperar um pouquinho porque você já está inteiramente ensaboado.
6. Ter que voltar para o banheiro e acabar de tomar banho em dois segundos porque está caindo um temporal e a empregada e o carteiro estão no portão esperando.
7. Ter que sair na chuva depois de um banho quente para pegar a correspondência e dar metade de todo o dinheiro disponível na casa para a empregada.
8. Ter que enxugar o chão do banheiro, do corredor e da sala três vezes.
9. Perceber que o tapete da sala continua inteiramente ensaboado.
10. Pegar um resfriado porque ficou pra lá e pra cá inteiramente ensaboado.

Querido Diário

Cheguei do trabalho, guardei as compras do mercado, fui limpar o cocô que a Ala fez no meio do quintal, aproveitei a viagem para colocar remédio no machucado de sua patinha e passar uma escova em seu pêlo. Limpei e temperei a carne para o almoço de amanhã, cozinhei o jantar do cãozinho, tirei o lixo de dentro de casa e o coloquei perto do portão para o lixeiro recolher amanhã de manhã. Guardei as roupas passadas, lavei a louça de ontem, gravei um CD que minha colega pediu, troquei a fita de impressora, separei a roupa suja, vi meus e-mails.
Ufa!!! Agora é hora do banho, pra tomar coragem pra estudar.
Entro no box, me ensabôo, toca a campainha: “51! Correio! 51! Correio!”.
Depois dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.”

Carnaval

In Sem categoria on 04/10/2008 at 6:25 PM

Querido Brógui,

Chegamos a 2006. Tá ficando difícil de fazer uma seleção. Essa aqui tá imperdível. Tenho certeza de que vão lembrar.

“Querido Diário,

Inicio essa edição do Querido Diário Politicamente Incorreto para falar do Carnaval, festa do povo, cartão postal do Brasil e celebração do profano enquanto manifestação cultural da massa.
Jamais gostei, ainda que mamãe na minha tenra idade tivesse investido nesse aspecto da minha educação. Punha fantasia e tudo. Já saí de oncinha, de índia, tenho fotos para provar. Mas nunca passou disso. Meus pais me levavam para ver o carnaval na Cidade, desfile do Bafo da Onça e do Cacique de Ramos. Até pro Cordão da Bola Preta eu fui. Bailinho de clube, 28 de setembro pra ver os blocos de quinta categoria (onde eu me admirava com os travestis, já que isso que sempre me pareceu estranho).
De nada adiantou todo esse trabalho de base. Eu não consigo ver a menor graça nessa festa. Gosto apenas do clima de férias coletivas, nada funcionando, todo mundo imbuído desse go for it.
Então vou passar ao X da questão. Vou meter o pau (sem duplo sentido) no carnaval, começando pelas Escolas de Samba.
Fala sééééério! O que são aqueles carros alegóricos com aqueles bonecões horrorosos? A Vila Isabel, campeã, orgulho do bairro onde moro sempre, trouxe o Simon Bolívar numa pose “tô cagando em pé”. Aquela outra, acho que a Unidos da Tijuca, trouxe um bebê que parecia o filho do Chuck afro-americano (simbolizando sei lá o que). Sim, tem toda uma explicação pra tudo…
E aquele monte de penas, de brilhos, de dourados? Uma ode ao cafona.
E as pobres das baianas marchando uma atrás da outra?
E as alas coreografadas? Quer coisa mais anti-carnaval do que esse excesso de organização? Já que é pra entrar na avenida, que se pule, se brinque. Ficar de passinho marcado parece parada de 7 de setembro (ainda existe isso?).
E aquele monte de bundas? Das mais variadas cores e formatos, mas todas invadindo o meu campo de visão. Queria saber quem foi que associou o carnaval à mulher pelada. Acho que foi Joãsinho (com s??????) Trinta. O que tem a ver, desculpem o trocadilho, o cu com as calças? E os peitos-bolota? Nem que um terremoto abalasse todo o planeta, os peitos-bolota não se moveriam.
E os sambas que não são sambas? É uma batida acelerada (outro dia li que era assim pra dar tempo de atravessar toda a passarela sem estourar o tempo) que desafia o preparo físico do folião. Por falar em estourar o tempo, por que ao invés de colocar quatro mil cabeças correndo não aumentam o tempo do desfile e diminuem o ritmo? Vai demorar muito? Grande coisa. Faz mais um dia de desfile, vende mais ingressos, mais merchandising, mais talentosos comentaristas falando, falando, falando (porque pra ficar horas a fio comentando o incomentável é preciso ser muito bom).
E esse negócio de campeonato? É a síntese do espírito competitivo capitalista selvagem (pronto, baixou a professora de História) tomando conta da festa. Por que não desfilar pra fazer bonito, só pelo prazer de fazer bonito? Por que não desfilar para deleite das quatro mil pessoas que se dispõem a isso? Por que não desfilar para o deleite de quem se dispõe a assistir? Pra que esse negócio de jurado? Julgar o que? Qual o critério para tirar um décimo daqui e colocar ali? Pra que ser bi, tri, tetra? Deixa isso para os esportes. Ou sambista agora é atleta? Daqui a pouco vão querer botar as Escolas de São Paulo pra competir com as do Rio.
Saindo da Escola de Samba, passando a falar (mal) dos blocos. Não cabe na minha humilde inteligência que tantas pessoas tenham a satisfação de ficar levando pisada no pé, cotovelada nas costelas, passada de mão na bunda, fazer xixi em banheiro químico (quando tem), sentir o contato agradável de um monte de gente suada, melada, cheiro de cc, engarrafamento pra ir e pra voltar, bafo de cachaça, batedor de carteira… Pra mim, isso é o retrato da ante-sala do inferno!
Só de ver o Galo da Madrugada pela televisão, começo a passar mal.
Em Olinda, além de tudo, ainda é subindo e descendo ladeira. Não é bacana? Pisada, mão na bunda, cotovelada, inhaca, bexiga cheia, trombadinha e ladeira acima, ladeira abaixo, ladeira acima, ladeira abaixo. É inenarrável.
Salvador eu conheço in loco. Fui ver o carnaval, numa derradeira tentativa de incorporar o espírito momesco. É assustador. Dentro da corda, fora da corda, em cima da corda, qualquer lugar é péssimo (tirando um camarote regado, para o qual eu não fui convidada). Tive o prazer de dar de cara com a pipoca do Chiclete na contramão. Encostei num muro qual uma lagartixa, porque como diz o ditado: quem tem cu tem medo. Não posso deixar de confessar: a Timbalada (de longe e de cima) é uma coisa linda! Também gostei de ver a atuação da polícia baiana carregando meliantes pela cueca (o cara vai na pontinha do pé que nem uma bailarina) e passando pela multidão sem nem amassar a farda (é impressionante como eles conseguem abrir caminho em um lugar que não tem espaço nem pra passar vento). Fora isso, é droga pra todo lado, das lícitas às ilícitas. E aquela coisa nojenta de ficar beijando na boca de quarenta pessoas por dia.
Bem, isto é tudo o que me lembro de dizer acerca dessa grande festa popular que atrai milhares de estrangeiros em busca de turismo sexual, gays em busca de “homens sem preconceito” (li essa expressão no jornal), biscateiras em busca de divulgação gratuita de seu instrumento de trabalho, artistas e "celebridades" em busca de boca-livre, jornalistas em busca de uma fofoca quente ou de um bom escândalo e por fim o mais importante: o “povo brasileiro sofrido” em busca de quatro dias de alienação total.
Mas, pra quem gosta da coisa, nada de tristeza. Vem aí a Copa do Mundo. Mais uma oportunidade para sair mais cedo do trabalho, contratar a bateria de uma Escola de Samba, encher a cara, abraçar um suado e fedido ilustre desconhecido e curtir um carnavalzinho fora de época. Tomara que o Brasil chegue à final. (Chegou? Nem lembro.)

O mutilado

In Sem categoria on 02/10/2008 at 7:46 PM

Querido Brógui

Em 2005, parece que eu comecei a achar o tom. Por conta disso, escrevi mais, tem mais coisas de que eu gosto e por isso vou compartilhar com você. Tá um pouco longo, mas divertidíssimo. Eu tentei editar, mas não consegui.

“Homem tem testículos cortados por "amigo" da Web
Um sádico cortou os testículos de um homem a quem conheceu pela Internet, durante um encontro em um bosque de Kleve, na Alemanha, anunciou a polícia nesta quinta-feira. Os homens haviam marcado encontro em meio ao bosque através de mensagens trocadas por e-mail. A vítima, que pediu ajuda pelo celular, foi levada para um hospital depois de ter perdido muito sangue. Não se sabe se a ação do sádico teve o consentimento da vítima. “

“Querido Diário

Essa notícia está sendo veiculada pela Internet. Provavelmente sairá nos jornais, porque é o tipo da notícia que vende. E muito. O povo gosta de ver desgraceira, talvez pra comprovar que sua vidinha de merda podia ser pior.
Não pude resistir e rasguei todas as minhas cartilhas politicamente corretas porque pre-ci-so fazer comentários sarcásticos, cruéis e feios.
Comecemos pelo título da matéria. O uso das aspas ao se referir ao amigo da vítima, veio direto da Internet. Não fui eu. O cara que deu a notícia se encarregou de dar uma sublinhada na opção sexual do mutilado e disfarçar uma certa homofobia.
Ao que tudo indica, o cidadão conheceu o outro cidadão pela Internet e marcou encontro no bosque. Uma pergunta que não quer calar: “O que você foi fazer no mato Maria Chiquinha?”. Como não conheço a Alemanha e muito menos o tal bosque, fiquei na dúvida: será que o encontro foi marcado ali porque o local é deserto e assim poderiam dar vazão aos seus impulsos libidinosos ou será que o bosque é movimentado e assim eles poderiam se precaver de um possível incidente desagradável?
Se foi a primeira opção, o cidadão mutilado mandou mal pra caramba, porque o único que conseguiu dar vazão aos impulsos foi o outro cidadão, o cortador de testículos alheios.
Se a opção foi a segunda, mandou mal também. Lugar movimentado é praça de alimentação de shopping, Central do Brasil às cinco e meia da tarde. Bosque?
De qualquer maneira, opção um ou dois, o cara sifu. Ou não. Não se sabe se a poda testicular foi antes ou depois.
E o cara que escreveu a notícia ainda tem a coragem de perguntar se a ação do sádico teve consentimento da vítima. Consentimento pra que? Fico imaginando o sádico perguntando: “Posso cortar seus testículos? Obrigada. Fica quietinho que é pra não doer mais do que o necessário. ”
Por fim, o povo quer saber: que fim levaram os tais testículos? O “amigo” jogou fora? Atrás de uma moita? Deu pro gatinho comer? Comeu ele mesmo no estilo Hannibal? Guardou de lembrança num vidrinho de formol? Fez um par de brincos?
Fico também imaginando o mutilado ligando pra polícia, ou pros bombeiros, ou sei lá pra quem. Se fosse aqui em terras tupiniquins, seria mais ou menos assim:
SAMU, boa noite. Obrigada por ter ligado para nosso serviço de atendimento, a sua ligação é muito importante para nós, Marcleide falando, em que posso lhe ajudar?
Aqui é Hans, acabo de ter meus testículos cortados e estou sangrando que nem um porco.
Um momento senhor. O senhor poderia estar informando qual o seu nome completo?
Eu tô sangrando!.
Eu sinto muito, senhor, mas eu só posso estar passando para a tela seguinte se o senhor me responder essa pergunta, senhor.
Eu fui atacado! Tô morrendo!
Eu entendo, senhor, mas não é o procedimento correto. Qual o seu nome completo?
Hans Schmidt!!
Pode soletrar?
H-A-N-S S-C-M-I-D-T
Telefone pra contato?
É 99999999.
Tem um fixo?
Tem! 22222222
É do Rio, senhor?
É!!!
Identidade? CPF? Nome da mãe? Signo? Time de futebol? Escola de samba?

Obrigado por confirmar seus dados. Em que posso lhe ajudar, senhor Hans?
Eu acabo de ser atacado no bosque e o meu amigo me cortou os testículos fora!
Qual o bosque, senhor?
O bosque Kleve!
Bosque Kleve? Não é nesse ramal. Um momento que eu vou estar transferindo a ligação.
(musiquinha de espera no telefone)
SAMU, boa noite, obrigada por aguardar, a sua ligação é muito importante para nós, Josecleiton falando, em que posso lhe ajudar?
Meu amigo cortou os meus testículos!
Seu nome completo, por favor.
Eu já disse!!!
Desculpe senhor, o senhor disse para a outra atendente. Seu nome completo, por favor?
Vocês não têm computador em rede aí nessa merda?
Desculpe senhor, mas o sistema está fora do ar. Seu nome completo, por favor?
Meu nome é Hans Schmidt!!
Pode soletrar, por favor?
H-A-N-S S-C-M-I-D-T
Telefone pra contato, senhor?
É 99999999 ou 22222222!!!! Dá pra me mandar uma ambulância!!!!????
Identidade? CPF? Nome da mãe? Signo? Time de futebol? Escola de samba?

Em que posso estar lhe ajudando, senhor?
Já disse que meu amigo cortou os meus testículos!
Cortou como senhor?
Como?
É, senhor, com que instrumento?
Com uma tesourinha de unha.
Tesourinha de unha? Um momento que eu vou estar transferindo para o setor responsável.
(musiquinha de espera)
SAMU, boa noite, obrigada por aguardar, Suellen Kelly falando, a sua ligação é muito importante para nós, em que posso lhe ajudar?
Estou sangrando, sem testículos!!!
Nome completo, senhor?

Pode soletrar, por favor?

Obrigada. Telefone pra contato?

Obrigada, senhor. Identidade? CPF? Signo? Nome da mãe? Time de futebol? Escola de samba?

Em que posso lhe ajudar, senhor?
Estou sangrando, sem testículos!!!
Não entendi, senhor. Pode repetir mais devagar, sem gritar?
Sem gritar? Um cara cortou meus testículos!!! Tá doendo, porra!!!
Um momento senhor. Vou falar com meu supervisor.
(musiquinha)
Lá na central de atendimento, a operadora de telemarketing levanta e fala pra galera das baias: “Tem um viado aqui na linha dizendo que o namoradinho cortou o saco dela fora!”
(risos, risos, risos, piadinhas, piadinhas, piadinhas).
O supervisor, com os olhos cheios de lágrimas (de rir, não de chorar), grita: “Manda uma ambulância, porra!!! Tá vendo que o viado vai morrer? Depois vão dizer que foi no meu turno e eu tô na merda! Tenho cinco filhos pra criar!”
Senhor? Obrigada por aguardar. Uma ambulância estará sendo mandada para lhe buscar assim que for possível. Mais alguma coisa senhor?
Assim que for possível? Eu vou morrer!
Eu entendo, senhor, mas estamos com dificuldades operacionais, o sistema caiu e ambulância acabou de sair pra pegar as vítimas de uma chacina. O senhor vai ter que ter paciência. Mais alguma coisa senhor?
Só tem uma ambulância?
Não senhor, a outra arriou a bateria e o motori
sta está tentando dar uma chupeta. Mais alguma coisa, senhor?
Manda um táxi então!!!
Esse serviço não está disponível, senhor. Mais alguma coisa senhor?
(uivos de dor e ódio)
O serviço de atendimento agradece seu contato, tenha uma boa noite.
Na manhã seguinte, encontram o presunto estirado na grama. Primeira página nos jornais: “Homem encontrado no bosque Kleve em meio a uma poça de sangue. Nenhum documento foi encontrado em seu poder, apenas um celular sem créditos. Supõe-se que foi vítima do golpe “Boa noite, testículos”. Morreu esperando a ambulância chegar. O Estado lamenta profundamente o ocorrido, mas diz que a verba para a manutenção das ambulâncias não foi repassada pelo governo federal.“

Para minha mãe

In Sem categoria on 01/10/2008 at 6:59 PM

Querido Brógui,

Essa edição é de 2004. Em 2003? Sei lá o que estava fazendo. Que esquisito… Aqui, pela primeira vez, o texto é endereçado ao Querido Diário. Ainda não tem o tom que tem hoje, mas está bacaninha.

“Querido Diário

Minha mãe é a prova de que apenas não muda ou não aprende aquele que de fato não o quer ou então aquele que já morreu (daí não é uma questão de querer ou não).
Quando vejo alguém dizer que “sempre fui assim e agora estou muito velho para mudar”, olho para minha mãe e vejo que não é verdade. Quando vejo alguém dizer que “ninguém muda”, olho para minha mãe. Olho para minha mãe e vejo uma pessoa que tenta muito e quase sempre consegue entender coisas que, para a sua geração, são mesmo complicadas de digerir. E digo de novo: as coisas que ela não reformula em sua vida, não é porque ela está velha, mas porque ela não o quer. Ela repensa e decide que aquele juízo que tinha sobre o assunto continua valendo. Ela opta por não mudar seu comportamento.
Tenho conversado muito com ela e agora, de uns três anos pra cá, não me surpreendo tanto com as coisas que me diz. Me surpreendia muito antes, porque tinha uma idéia preconceituosa sobre o que ela pensava acerca de determinados assuntos. Preconceito puro, porque na maior parte das vezes, o que eu achava que ela achava não tinha nada a ver com o que ela achava de verdade. Caí das nuvens várias vezes, agora caio menos, mas ainda caio.
Ontem (mais uma vez) ela me pediu perdão por todas as vezes que me bateu. Acho que não foi tanto assim, porque realmente não me lembro. Só lembro do tal chinelo que ela comprou na terrinha, com sola de pneu. Mas acho que ela só usou uma vez e o que ficou foi a lembrança do medo de apanhar e não propriamente da dor. Falei isso para ela, que não me lembrava se tinha apanhado muito e ela disse não saber o que é bater muito ou bater pouco. Bater já é errado, porque a criança é pequena e a mãe é grande, de qualquer forma é covardia.
Ela me pediu perdão porque não teve paciência comigo e com meu irmão como deveria ter tido. Que às vezes batia com raiva porque os outros faziam queixa da gente e ela ficava com vergonha. Às vezes batia porque sabia que meu pai iria brigar com a gente e ela se antecipava.
Como são as coisas, né? Ainda hoje ela pensa que poderia ter sido melhor mãe, que poderia ter feito diferente.
Mamãe, criança não vem com manual de instruções e na maior parte das vezes, se você cometeu erros, estava convicta de que fazia o que era melhor para seus filhos. Com certeza hoje você seria uma mãe diferente. Melhor? Pior? Diferente. Diferente porque já viveu outras situações e já aprendeu outros repertórios. Não há como voltar no tempo e tentar remendar o que já está feito. Na época em que éramos pequenos você não sabia fazer de outra forma, fez o que sabia fazer, como sabia fazer e certa de que agia certo. Além do mais, estava sozinha aqui no Rio, sem sua família, sem seus amigos, sem ninguém para lhe dar uma orientação ou uma ajuda.
Não sei se o que digo serve para aliviar seu coração do arrependimento e da culpa que sente, mas saiba que lembro mais dos livros que me deu para ler do que das palmadas. Lembro mais das brincadeiras de sombras que fazia quando faltava luz do que das broncas. Lembro mais dos trabalhos escolares que fez comigo do que dos castigos que tenha levado.
Lembro da sua expressão de tristeza quando não tinha grana pra me comprar roupas de boutique que minhas coleguinhas tinham e de como se esforçava para costurar alguma coisa que eu gostasse de usar (e eu nunca gostava).
Lembro de você me carregando no colo, com quase dez anos de idade, porque a escola era longe e eu reclamava que estava cansada de andar.
Lembro do domingo no Jardim Zoológico, no Aterro do Flamengo, da farofa na praia de Paquetá. Lembro do bolo que me ensinou a fazer e das festas juninas que organizava pra criançada da vizinhança vir brincar conosco.
Disso tudo eu me lembro, mas as palmadas… nenhuma delas ficou na minha memória.”

Primeirona

In Sem categoria on 01/10/2008 at 12:20 AM

Querido Brógui,

A primeira requentada, a primeirona, nem tinha o nome de Querido Diário. Foi o germe do germe, datada de 2002. O título é: “Computador, o maldito.” A meu juízo é um texto meio fraquinho, mas, lá vai. A intenção é essa mesmo, ver que, fora o Romário, ninguém é bom sem treinar.
PS: Em negrito, são recados da Fatinha de 2008 à Fatinha de 2002. Você vai perceber que, se fosse hoje, isso nunca teria sido escrito e muito menos publicado.

"Bem que uma vez uma colega minha do trabalho me disse que não tinha computador porque não queria em casa nada mais inteligente do que ela mesma (Não tenho a menor idéia de quem falou essa frase lapidar).
Também já li no jornal que grandes escritores, inclusive alguns imortais, não aderiram à modernidade, continuam usando suas velhas máquinas de escrever (Era o João Ubaldo, mas ele já se rendeu).
Uma amiga escreve tudo à mão e depois passa a limpo no computador, tendo o cuidado de guardar os manuscritos para não correr o risco de perder seu trabalho (Essa ainda não se rendeu. Dá pra acreditar?).
Manias à parte, enquadro-me na categoria “usuário”. Aquele que utiliza a máquina sem ter a menor idéia de como ele funciona. Faço o básico e pronto. (Quanto a isso, nada mudou em seis anos.) Ainda assim, confesso que tenho brigas iradas com a dita cuja, mormente quando ela insiste em fazer coisas que eu não mando, ou pior, não obedece ao meu comando. (Qualé! Isso não existe! A máquina obedece a comandos, não existe ainda inteligência artificial, o que existe é a inabilidade daquele que supostamente comanda. Mas, como eu tinha acabado de adquirir o meu primeiro computador, a ira é perdoável.) Nessas horas, tenho vontade de dar um bico nela. (Quanto a isso, nada mudou em seis anos. Ainda tenho vontade de bicar o computador de vez em quando.)
A primeira vez que tive esse ímpeto, deixei um recado na secretária eletrônica do André (Lembra?), que me ligou só pra dizer pra eu ter calma, que assim que pudesse retornava a ligação para tentar me ajudar a resolver a crise. Retornou a ligação, não resolveu nada, mas ao menos impediu que eu cometesse uma violência contra um ser inanimado e indefeso.
Já perdi arquivos que me custaram dolorosos horas de pesquisa na Internet, usando a minha conexão teco-teco (Eu ainda usava o telefone para entrar na Internet! Esse texto é jurássico mesmo!) Já perdi arquivos porque não salvava os textos quando os fechava. (Cá pra nós, a culpa não era do computador, mas da anta que o estava usando!). Já levei a máquina pro técnico dizendo que ela não funcionava e quando ele ligou, funcionou. Voltei pra casa, liguei, não funcionou. Levei pro técnico de novo, funcionou. Trouxe pra casa, não funcionou. Pensei até em tirar uma foto do técnico pra colocar perto dela, vai ver é algum tipo de fixação. Sem coragem pra pegar a porqueira e enfiar dentro do carro pela terceira vez no mesmo dia, dei uns gritos com ela e a deixei desligada de castigo por uma semana. Sabe que deu resultado? (É, parece que eu acreditava mesmo que as máquinas tinham vida própria. De qualquer maneira, até hoje não sei o que havia de errado.) "

Aniversário

In Sem categoria on 01/10/2008 at 12:14 AM

Querido Brógui

Essa semana você completa um ano de existência. Antes de você nascer, havia o Querido Diário, o qual era enviado a um seleto grupo de amigos, escolhidos criteriosamente para ler o meu besteirol. Todas as vezes que eu enviava o Querido Diário, ameaçava de morte aqueles que ousassem encaminhar o que eu escrevia para outras pessoas. Assim passaram-se quatro anos, desde de 2004. É, Querido Brógui, o seu antecessor é mais antigo do que você imaginava. O tempo é inclemente, passa voando.
Você não nasceu de parto normal. Foi um parto induzido por alguns amigos que viviam pedindo para encaminhar o Querido Diário para alguns amigos. Verdade seja dita: todos os meus leitores compulsórios sempre souberam respeitar a minha vontade e, antes de repassar, vinha o pedido expresso. Alguns confessaram que, já que não podiam repassar, chamavam a galera do trabalho ou da família pra ler. É o famoso jeitinho brasileiro: a ordem era não encaminhar e tecnicamente, não era encaminhado, era apenas lido em grupo.
Depois de algum tempo, começou a pressão pra liberar geral. Eu resisti. E muito. Por que? Não sei ao certo, talvez um tiquinho de timidez, insegurança, reserva, excesso de auto-crítica… O fato é que levei longos anos para acreditar que as pessoas que me liam não o faziam apenas porque me amavam ou porque se sentiam obrigadas a isso, mas porque o que eu escrevia tinha qualidade (ô, criatura metida!).
Então, em outubro de 2007, eu lancei você na Internet. A princípio, você continuou a coexistir com o Querido Diário. Depois de alguns meses passei a mandar seu link para os leitores daquele, que ficou restrito a algumas edições especiais. Esse mês de setembro bati os mil acessos! Isso é sensacional, considerando que a sua divulgação consiste basicamente no boca-a-boca, ou melhor, no teclado-a-teclado.
A partir de hoje está inaugurada a semana comemorativa do seu primeiro aninho de vida. Farei uma série especial de edições requentadas do Querido Diário. Pra quem já as leu, é hora de relembrar. Pra quem não leu, é hora de saber como você era antes de nascer. Vou dar uma trabalhada em algumas coisas (não agüento apenas ler, tenho que mexer no texto), mas preservarei o espírito da coisa.

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