Fatinha

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Para minha mãe

In Sem categoria on 01/10/2008 at 6:59 PM

Querido Brógui,

Essa edição é de 2004. Em 2003? Sei lá o que estava fazendo. Que esquisito… Aqui, pela primeira vez, o texto é endereçado ao Querido Diário. Ainda não tem o tom que tem hoje, mas está bacaninha.

“Querido Diário

Minha mãe é a prova de que apenas não muda ou não aprende aquele que de fato não o quer ou então aquele que já morreu (daí não é uma questão de querer ou não).
Quando vejo alguém dizer que “sempre fui assim e agora estou muito velho para mudar”, olho para minha mãe e vejo que não é verdade. Quando vejo alguém dizer que “ninguém muda”, olho para minha mãe. Olho para minha mãe e vejo uma pessoa que tenta muito e quase sempre consegue entender coisas que, para a sua geração, são mesmo complicadas de digerir. E digo de novo: as coisas que ela não reformula em sua vida, não é porque ela está velha, mas porque ela não o quer. Ela repensa e decide que aquele juízo que tinha sobre o assunto continua valendo. Ela opta por não mudar seu comportamento.
Tenho conversado muito com ela e agora, de uns três anos pra cá, não me surpreendo tanto com as coisas que me diz. Me surpreendia muito antes, porque tinha uma idéia preconceituosa sobre o que ela pensava acerca de determinados assuntos. Preconceito puro, porque na maior parte das vezes, o que eu achava que ela achava não tinha nada a ver com o que ela achava de verdade. Caí das nuvens várias vezes, agora caio menos, mas ainda caio.
Ontem (mais uma vez) ela me pediu perdão por todas as vezes que me bateu. Acho que não foi tanto assim, porque realmente não me lembro. Só lembro do tal chinelo que ela comprou na terrinha, com sola de pneu. Mas acho que ela só usou uma vez e o que ficou foi a lembrança do medo de apanhar e não propriamente da dor. Falei isso para ela, que não me lembrava se tinha apanhado muito e ela disse não saber o que é bater muito ou bater pouco. Bater já é errado, porque a criança é pequena e a mãe é grande, de qualquer forma é covardia.
Ela me pediu perdão porque não teve paciência comigo e com meu irmão como deveria ter tido. Que às vezes batia com raiva porque os outros faziam queixa da gente e ela ficava com vergonha. Às vezes batia porque sabia que meu pai iria brigar com a gente e ela se antecipava.
Como são as coisas, né? Ainda hoje ela pensa que poderia ter sido melhor mãe, que poderia ter feito diferente.
Mamãe, criança não vem com manual de instruções e na maior parte das vezes, se você cometeu erros, estava convicta de que fazia o que era melhor para seus filhos. Com certeza hoje você seria uma mãe diferente. Melhor? Pior? Diferente. Diferente porque já viveu outras situações e já aprendeu outros repertórios. Não há como voltar no tempo e tentar remendar o que já está feito. Na época em que éramos pequenos você não sabia fazer de outra forma, fez o que sabia fazer, como sabia fazer e certa de que agia certo. Além do mais, estava sozinha aqui no Rio, sem sua família, sem seus amigos, sem ninguém para lhe dar uma orientação ou uma ajuda.
Não sei se o que digo serve para aliviar seu coração do arrependimento e da culpa que sente, mas saiba que lembro mais dos livros que me deu para ler do que das palmadas. Lembro mais das brincadeiras de sombras que fazia quando faltava luz do que das broncas. Lembro mais dos trabalhos escolares que fez comigo do que dos castigos que tenha levado.
Lembro da sua expressão de tristeza quando não tinha grana pra me comprar roupas de boutique que minhas coleguinhas tinham e de como se esforçava para costurar alguma coisa que eu gostasse de usar (e eu nunca gostava).
Lembro de você me carregando no colo, com quase dez anos de idade, porque a escola era longe e eu reclamava que estava cansada de andar.
Lembro do domingo no Jardim Zoológico, no Aterro do Flamengo, da farofa na praia de Paquetá. Lembro do bolo que me ensinou a fazer e das festas juninas que organizava pra criançada da vizinhança vir brincar conosco.
Disso tudo eu me lembro, mas as palmadas… nenhuma delas ficou na minha memória.”

Primeirona

In Sem categoria on 01/10/2008 at 12:20 AM

Querido Brógui,

A primeira requentada, a primeirona, nem tinha o nome de Querido Diário. Foi o germe do germe, datada de 2002. O título é: “Computador, o maldito.” A meu juízo é um texto meio fraquinho, mas, lá vai. A intenção é essa mesmo, ver que, fora o Romário, ninguém é bom sem treinar.
PS: Em negrito, são recados da Fatinha de 2008 à Fatinha de 2002. Você vai perceber que, se fosse hoje, isso nunca teria sido escrito e muito menos publicado.

"Bem que uma vez uma colega minha do trabalho me disse que não tinha computador porque não queria em casa nada mais inteligente do que ela mesma (Não tenho a menor idéia de quem falou essa frase lapidar).
Também já li no jornal que grandes escritores, inclusive alguns imortais, não aderiram à modernidade, continuam usando suas velhas máquinas de escrever (Era o João Ubaldo, mas ele já se rendeu).
Uma amiga escreve tudo à mão e depois passa a limpo no computador, tendo o cuidado de guardar os manuscritos para não correr o risco de perder seu trabalho (Essa ainda não se rendeu. Dá pra acreditar?).
Manias à parte, enquadro-me na categoria “usuário”. Aquele que utiliza a máquina sem ter a menor idéia de como ele funciona. Faço o básico e pronto. (Quanto a isso, nada mudou em seis anos.) Ainda assim, confesso que tenho brigas iradas com a dita cuja, mormente quando ela insiste em fazer coisas que eu não mando, ou pior, não obedece ao meu comando. (Qualé! Isso não existe! A máquina obedece a comandos, não existe ainda inteligência artificial, o que existe é a inabilidade daquele que supostamente comanda. Mas, como eu tinha acabado de adquirir o meu primeiro computador, a ira é perdoável.) Nessas horas, tenho vontade de dar um bico nela. (Quanto a isso, nada mudou em seis anos. Ainda tenho vontade de bicar o computador de vez em quando.)
A primeira vez que tive esse ímpeto, deixei um recado na secretária eletrônica do André (Lembra?), que me ligou só pra dizer pra eu ter calma, que assim que pudesse retornava a ligação para tentar me ajudar a resolver a crise. Retornou a ligação, não resolveu nada, mas ao menos impediu que eu cometesse uma violência contra um ser inanimado e indefeso.
Já perdi arquivos que me custaram dolorosos horas de pesquisa na Internet, usando a minha conexão teco-teco (Eu ainda usava o telefone para entrar na Internet! Esse texto é jurássico mesmo!) Já perdi arquivos porque não salvava os textos quando os fechava. (Cá pra nós, a culpa não era do computador, mas da anta que o estava usando!). Já levei a máquina pro técnico dizendo que ela não funcionava e quando ele ligou, funcionou. Voltei pra casa, liguei, não funcionou. Levei pro técnico de novo, funcionou. Trouxe pra casa, não funcionou. Pensei até em tirar uma foto do técnico pra colocar perto dela, vai ver é algum tipo de fixação. Sem coragem pra pegar a porqueira e enfiar dentro do carro pela terceira vez no mesmo dia, dei uns gritos com ela e a deixei desligada de castigo por uma semana. Sabe que deu resultado? (É, parece que eu acreditava mesmo que as máquinas tinham vida própria. De qualquer maneira, até hoje não sei o que havia de errado.) "

Aniversário

In Sem categoria on 01/10/2008 at 12:14 AM

Querido Brógui

Essa semana você completa um ano de existência. Antes de você nascer, havia o Querido Diário, o qual era enviado a um seleto grupo de amigos, escolhidos criteriosamente para ler o meu besteirol. Todas as vezes que eu enviava o Querido Diário, ameaçava de morte aqueles que ousassem encaminhar o que eu escrevia para outras pessoas. Assim passaram-se quatro anos, desde de 2004. É, Querido Brógui, o seu antecessor é mais antigo do que você imaginava. O tempo é inclemente, passa voando.
Você não nasceu de parto normal. Foi um parto induzido por alguns amigos que viviam pedindo para encaminhar o Querido Diário para alguns amigos. Verdade seja dita: todos os meus leitores compulsórios sempre souberam respeitar a minha vontade e, antes de repassar, vinha o pedido expresso. Alguns confessaram que, já que não podiam repassar, chamavam a galera do trabalho ou da família pra ler. É o famoso jeitinho brasileiro: a ordem era não encaminhar e tecnicamente, não era encaminhado, era apenas lido em grupo.
Depois de algum tempo, começou a pressão pra liberar geral. Eu resisti. E muito. Por que? Não sei ao certo, talvez um tiquinho de timidez, insegurança, reserva, excesso de auto-crítica… O fato é que levei longos anos para acreditar que as pessoas que me liam não o faziam apenas porque me amavam ou porque se sentiam obrigadas a isso, mas porque o que eu escrevia tinha qualidade (ô, criatura metida!).
Então, em outubro de 2007, eu lancei você na Internet. A princípio, você continuou a coexistir com o Querido Diário. Depois de alguns meses passei a mandar seu link para os leitores daquele, que ficou restrito a algumas edições especiais. Esse mês de setembro bati os mil acessos! Isso é sensacional, considerando que a sua divulgação consiste basicamente no boca-a-boca, ou melhor, no teclado-a-teclado.
A partir de hoje está inaugurada a semana comemorativa do seu primeiro aninho de vida. Farei uma série especial de edições requentadas do Querido Diário. Pra quem já as leu, é hora de relembrar. Pra quem não leu, é hora de saber como você era antes de nascer. Vou dar uma trabalhada em algumas coisas (não agüento apenas ler, tenho que mexer no texto), mas preservarei o espírito da coisa.

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