Querido Brógui
Esse ano não vai ser igual àquele que passou. Eu vou mudar. Vou experimentar ser mais normal um pouquinho e parar com essa palhaçada de andar na contramão. Meu objetivo esse ano é me misturar, me mimetizar, me transformar num camaleão.
Para alcançar esse meu objetivo, tracei algumas estratégias.
Primeira medida: imbecilização total. Nada a ver esse negócio de ser culta, intelectual, bem informada. Dá muito trabalho e é muito estressante. Farei uma assinatura da revista Caras. Meu maior interesse agora será saber quem está dando pra quem essa semana, quem fez a última viagem para Punta, quem fez um jantarzinho íntimo para quatrocentas pessoas em Angra. Também vou assinar a revista Boa Forma, pra me inteirar das últimas novidades em matéria de dieta, cirurgias plásticas, ginástica, maquiagem e coisas do gênero. Para completar, revistas em quadrinhos. Pronto. Meu cérebro estará protegido contra a deprê que é saber qual é o mais recente escândalo do governo, quem é o mais recente ladrão dos cofres públicos. Quero ignorar solenemente o domínio dos traficantes sobre o Rio de Janeiro e esquecer que o César Maia gastou quase quinhentos milhões para construir a tal da Cidade da Música (que não está pronta ainda apesar do estouro do orçamento) enquanto minha cidade maravilhosa está arruinada.
Segunda medida drástica: vou mandar ver nos meus gastos pessoais e tirar dos meus ombros o peso de ser a única pessoa que conheço que não tem dívidas. Isso me faz sentir um alienígena, uma marginal, uma deslocada no grupo social. Tá todo mundo devendo as calças, menos eu. Vou começar a gastar o triplo do que ganho. Vou arrebentar o cheque especial, vou ativar outro cartão de crédito, vou fazer empréstimo consignado, tudo que eu tenho direito e o que eu não tenho também. Ano de 2009 quero entrar com o nome sujo no Serasa, no SPC, conta corrente cassada, cartão cancelado, oficial de justiça batendo na minha porta.
Terceira e última medida drástica: vou arrumar um namorado daqueles bem problemáticos. Sabe aquele que toda mulher fala mal, mas não larga? É. Outro fator de inteiração social, além da ignorância e da inadimplência, é estar mal acompanhada, mas jamais só. Essa tarefa também não vai ser difícil de cumprir, porque o que não falta nesse mundo é homem-encosto. Então, ao invés de só ouvir as mulheres reclamarem de seus machos, eu serei a protagonista da crônica Rodrigueana.
Que venha essa nova mulher de dentro de mim.